Não tendo os países lusófonos
fronteiras terrestres comuns, todos estão contudo ligados pelos oceanos que
banham os seus territórios continentais e insulares.
Os propósitos, e a ambição
subjacente, dos governos dos Estados da língua portuguesa quando decidiram, em
boa hora, criar a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP) em 1996
mantêm-se intactos e válidos mais do que nunca. Por isso, compete às atuais e
futuras gerações honrar e assumir a defesa e promoção dos ideais dos países
fundadores da CPLP.
O facto de o atual
secretário-geral da ONU ser um cidadão oriundo da língua portuguesa, bem como a
integração dos nove Estados-membros da CPLP em seis espaços regionais
económicos, e alguns também monetários como no caso de Portugal (euro), a
Guiné-Bissau e a Guiné Equatorial (ambos franco CFA), estimando-se que se
encontrem nesses espaços de presença lusófona cerca de 250 milhões que integram
comunidades económicas com cerca de 1.800 milhões de pessoas, mostra bem a
relevância da CPLP.
Na verdade, além da integração
de Portugal na União Europeia (UE), Angola e Moçambique, são Estados-membros da
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), Cabo Verde e
Guiné-Bissau na Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO),
S. Tomé e Príncipe, Guiné Equatorial e Angola na Comunidade Económica dos
Estados da África Central (CEEAC) e também à CEMAC no caso da Guiné Equatorial
e S. Tomé e Príncipe, Brasil no MERCOSUL e Timor-Leste em breve na Associação
de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
Embora não integrando a CPLP,
Macau, região autónoma especial da China e onde a língua portuguesa é oficial a
par com a língua chinesa, é sede do Fórum para as Relações Económicas e
Comerciais entre a China e a CPLP, o que potenciando a aplicação do Acordo CEPA
promove o investimento e o comércio.
A inserção nos mercados
regionais, a identificação de distribuidores, das rotas e circuitos logísticos,
de operadores certificados e dos acordos que beneficiam os países dentro das
respetivas regiões das suas integrações, potenciam a dinamização das relações
económicas e empresariais entre a UE, SADC, CEDEAO, CEMAC, MERCOSUL, ASEAN e
Macau, China. É porém essencial derrubar as barreiras legais e administrativas
à livre circulação de pessoas, bens e capitais.
Não tendo os países lusófonos
fronteiras terrestres comuns, todos estão contudo ligados pelos oceanos que
banham os seus territórios continentais e insulares.
Conscientes destas
oportunidades para os países da língua portuguesa, as suas populações e as suas
empresas, na XI Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP realizada
em Brasília em 2016, foi aprovada uma "Nova visão estratégica da CPLP
(2016-2026)", que define as prioridades da organização para aquela década,
das quais destaco o reforço da "cooperação económica e empresarial" e
"o estabelecimento de mecanismos que facilitem a circulação de pessoas,
bens e capitais".
Prioridades que se interligam
no sentido de criar condições para dar ao setor privado bases indispensáveis para
poder executar o papel fundamental que lhe compete na Agenda 2030 – Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável (ODS), como aliás é unanimemente reconhecido
pela comunidade internacional para se poder atingir o desenvolvimento económico
e social e o crescimento inclusivo no mundo, através do investimento, do
comércio e da criação de emprego bem como da educação, da formação profissional
vocacional e da qualificação dos trabalhadores.
Reconhecendo a importância da
comunidade de língua portuguesa e da sua rede mundial, vários países têm
solicitado e obtido o estatuto de observador associado da CPLP como é
atualmente o caso da Geórgia, Hungria, Japão, República Checa, Eslováquia,
Maurícia, Namíbia, Senegal, Turquia e Uruguai. Entretanto, Argentina, França e
Itália já apresentaram os respetivos pedidos de adesão a este estatuto.
Mas, e ao contrário do que
muitos julgam, a CPLP não tem estado parada. Com efeito, tem desenvolvido com
sucesso várias importantes atividades de que destaco uma Estratégia de
Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP (ESAN-CPLP), da criação do respetivo
conselho e estabelecimento de conselho nacionais, a aprovação das diretrizes
para Apoio à Promoção da Agricultura Familiar nos Estados-membros, onde com
exceção de Portugal e Brasil, cerca de 80% das populações vivem e trabalham nas
zonas rurais, a aprovação do Plano de Ação da CPLP de combate ao trabalho
infantil, do qual já resultou a ratificação por parte de todos os
Estados-membros da convenção n.º 182 da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) sobre as piores formas de trabalho infantil e da n.º 138 sobre a idade
mínima de admissão ao emprego, apoio ao Programa de Capacitação dos
Laboratórios de Engenharia da CPLP, apoio ao projeto que une as autoridades
estatísticas de todos os EM com o objetivo de consolidar e desenvolver os
sistemas estatísticos nacionais, apoio a uma base de dados jurídica que
disponibiliza uma plataforma de conhecimento e partilha de informação jurídica
sobre os ordenamentos jurídicos dos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa (PALOP), desenvolve a campanha pública Juntos contra a Fome,
subscreveu a carta da iniciativa da ONU Sustainable Energy for All, aprovou uma
Estratégia para os Mares da CPLP, criou um portal eletrónico científico
produzido em língua portuguesa, realiza regularmente os Jogos Desportivos e a
Bienal de Jovens Criadores da CPLP, entre outras.
É assim imperativo que os
governos portugueses assumam, além de palavras e discursos, e sem quaisquer
absurdos receios e complexos, que a CPLP tem de ser uma prioridade da política
económica externa de Portugal.
Dignificar a CPLP exige
contudo reforçar a diplomacia portuguesa com meios financeiros e logísticos,
além de recursos humanos tecnicamente preparados e empenhados para atuar nas
redes das capitais comunitárias regionais, nomeadamente em África e na sede da
União Africana em Adis Abeba, bem como nas Multilaterais financeiras (IFI e
EDFI). Francisco Mantero – Portugal in "Jornal de Negócios"
Francisco
Mantero - Presidente do Conselho Estratégico para a Cooperação,
Desenvolvimento e Lusofonia Económica da CIP
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