Muito se falou e ainda se fala
sobre este facto. No meu ponto de vista as questões ideológicas da equação, nas
relações Angola Portugal, no plano partidário, há muito se perderam, especialmente,
com a queda do Muro de Berlim. Aliás, em África – podemos visualizá-lo agora
melhor – essas questões só serviam para encobrir a defesa de interesses geo-estratégicos.
Neste âmbito, achei
completamente sem sentido e mesmo lamentáveis as declarações que se atribuem ao
representante do Partido Comunista Português (PCP), que o expuseram como
imaturo ou ignorante, já que o oportunismo, numa vertente tão descarada, não
costuma caracterizar tanto o PCP. Entendo que o PCP possa invocar razões de
soberania, como o tem feito, no caso da rejeição de projectos parlamentares do
Bloco de Esquerda (BE), de condenação à repressão contra as liberdades em
Angola, mesmo quando inclua vítimas luso-angolanas. Na mesma medida não posso
entender que o PCP destrate, com invocações passadistas, um partido político
angolano – a UNITA – agora apenas adversário político do MPLA, depois de se ter
estabelecido um pacto que constitui a trave mestra daquilo por que o povo
angolano – e por contaminação, o povo português, tendo em conta os laços –
aspirou durante tantos anos – o silêncio das armas. Ideologias não salvam vidas
nem estabilizam estados, particularmente, em África.
De resto, equivocam-se os que
falam da aproximação ideológica do MPLA de hoje, mesmo com os partidos
comunistas de Cuba, China ou Coreia do Norte, muito menos com partidos
comunistas, socialistas e social-democratas europeus. A vida ensina-nos, hoje
por hoje, que vale o que se faz e não o que se escreve ou se diz. O MPLA, hoje,
não tem outra ideologia que não a de submeter-se a José Eduardo dos Santos,
apoiá-lo a troco de alguns favores, para deixá-lo apossar-se, à vontade, de enormes
recursos do país e manter o poder definitivamente, com o apoio do exterior, que
se defende com a falácia do respeito à soberania, onde o interesse de indivíduos
é confundido com os interesses públicos.
Neste âmbito, na sequência de
um certo descaramento que Paulo Portas (PP) vem imprimindo às práticas do CDS,
em relação a Angola, as declarações do deputado luso-angolano Hélder Amaral não
ultrapassaram quaisquer limites. Na verdade o que houve foi certa franqueza na
declaração da ideia da necessidade de participação na espoliação do povo
angolano, que não tem nem tribunal nem parlamento que se debruce sobre abusos
contra si, porque foi proibida a “judiciarizção” da lavagem do dinheiro
angolano em Portugal (segundo PP), enquanto em Angola a Assembleia Nacional não
pode criar comissões de inquérito contra práticas irregulares do executivo e de
parentes do Presidente.
Difícil corrigir os erros da
colonização/descolonização a favor dos dois povos, porque gerações sucessivas
de líderes oportunistas ou apenas sem visão vão puxando a brasa para a sua
estreita sardinha, em Angola e em Portugal.
Não há mal nenhum que partidos
de um e de outro lado se convidem mutuamente para determinados eventos. Mas é
fácil intuir o motivo do destaque que se deu aos partidos portugueses no VII
Congresso do MPLA: salvar a imagem afundada do líder incontestável,
impressionando os angolanos que deverão continuar a pensar que eternizar-se no
poder para enriquecer, de tal monta, a família e amigos, dentro e fora do país,
traz um enorme prestígio, pelo menos, na nossa antiga metrópole. Marcolino Moco - Angola
Sem comentários:
Enviar um comentário