SÃO PAULO – Em recente palestra durante seminário
sobre os rumos da política de comércio exterior na Fundação Getúlio Vargas
(FGV), o diretor de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria
Química (Abimaq), Klaus Curt Muller, afirmou que não basta abrir o mercado
nacional, mas dar condições para o fabricante brasileiro enfrentar não só o
produto importado como colocar o seu equipamento lá fora. De fato, como disse o
empresário, se a máquina brasileira é 30% mais cara do que a alemã, por
exemplo, fica mais difícil vender não só aqui, mas também no exterior.
Superar essas dificuldades não será tarefa fácil,
mas o próximo governo precisará estar consciente, desde o primeiro dia de
janeiro de 2015, de que terá de colocar em prática um projeto de comércio
exterior que não inclua apenas a América Latina ou países africanos ou o
Oriente Médio, mas todo o planeta. Sem uma diretriz global, o País continuará a
perder mercado não só em sua própria casa como especialmente no exterior,
inclusive naqueles mercados que são considerados tradicionais. Aliás, isso já
acontece na Argentina, onde, apesar do Mercosul, os produtos chineses
substituem os brasileiros nas prateleiras, em razão das facilidades cambiais
que os asiáticos oferecem.
Na verdade, pouco adiantará traçar uma estratégia
para a abertura de mercados se o novo governo não fizer a sua lição de casa, ou
seja, atacar as causas do chamado custo Brasil, que fazem, por exemplo, a nafta,
principal insumo dos produtos químicos, custar 30% mais cara do que no mercado
europeu ou o dobro do valor pago nos Estados Unidos. Também não se pode pensar
em resolver os problemas do comércio exterior por setores, como tem tentado,
sem muito êxito, o governo atual.
É preciso definir uma estratégia global que, além
de estabelecer com blocos ou nações isoladamente tratados de preferências
comerciais, venha a ser desenvolvida ao mesmo tempo em que sejam construídas e
reformadas rodovias e aeroportos e ampliada a malha ferroviária, bem como
reduzido o atual caos portuário, com a instalação de novos terminais públicos e
privados, devidamente acessíveis por caminhões, trens e barcaças, o que inclui
a modernização do precário e incipiente sistema hidroviário de hoje.
Só assim, com tal visão estratégica, será possível
avançar para assegurar custos mais baixos de produção que possam alterar o
atual quadro de desvantagem que o produto brasileiro sofre no exterior, em
razão de numerosos acordos de preferências que foram estabelecidos e dos quais,
por inércia ou incompetência dos últimos governos, o País não se beneficia. Mauro Dias - Brasil
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Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é
vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor
de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br
Site: www.fiorde.com.br
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