SÃO PAULO – Só não vê quem
não quer: a balança comercial brasileira não entrou ainda numa fase de
deterioração por causa da alta competitividade das commodities. Se não fosse a boa fase do agronegócio – que tem sido
impulsionado pela demanda do mercado chinês –, há muito que o País estaria
acumulando grossos déficits em sua
corrente de comércio.
Isso ocorre não só porque o
chamado custo Brasil tira a competitividade do produto manufaturado nacional
como o mundo está imerso num mar de preferências tributárias das quais, na
maior parte, o País está excluído em razão da ausência nos últimos dez anos de
uma diplomacia comercial que levasse à formalização de acordos de livre
comércio.
Para piorar, até o
agronegócio pode ser afetado, pois, além dos preços das commodities estarem em queda, se Estados Unidos e União Europeia
concluírem o acordo que discutem já há um bom tempo, será cada vez mais difícil
concorrer com as exportações norte-americanas para a Europa. Ou seja, o futuro
que se traça é que haja maior dependência em relação a China, funcionando o
País como reles exportador de matérias-primas.
Portanto, num mundo cada vez
mais competitivo, é preciso que o novo governo que sairá das urnas em outubro
tenha desde logo uma estratégia definida para assegurar custos mais baixos de
produção e ao mesmo tempo ampliar a inserção internacional do País com sua
participação em outros blocos, além do Mercosul. Seguir em outra direção
equivalerá a remar contra a maré.
Se a dinâmica mundial hoje é
fazer acordos regionais, o Brasil deveria negociar não só no eixo Sul-Sul,
aprofundando os negócios com o Mercosul, mas também no sentido do eixo
Norte-Sul, o que significa buscar acordos com a Aliança do Pacífico (Chile,
Colômbia, Peru e México) e com os Estados Unidos e Canadá. Sem contar que não
dá mais para adiar um acordo Mercosul-União Europeia, que se arrasta há pelo
menos uma década. Depois da última reunião de Cúpula em Caracas, ao final de
junho, são os europeus que devem uma resposta à proposta do Mercosul.
De comemorar é o recente
acordo entre Mercosul e Chile, Colômbia e Peru que prevê a liberalização total
(tarifa zero) pelo menos até o final da década, pois segue no sentido de
ampliar o número de tratados. Até porque, segundo dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em 2013, o comércio do
Brasil com o Chile aumentou 200%, com a Colômbia, 300% e com o Peru, 389%.
Portanto, só mais Mercosul não é suficiente. É preciso ir além. Milton Lourenço
- Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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