SÃO
PAULO – Se ainda fosse necessário um argumento definitivo para mostrar o
equívoco que foi a decisão política de centralizar em Brasília a gestão dos
portos, na contramão do que ocorria nos melhores complexos portuários da Europa
Ocidental, agora já nada falta. A pá de cal sobre a questão veio mesmo do mundo
desenvolvido com a revelação do presidente da Duisburger Hafen AG, que
administra o maior porto fluvial do mundo, o de Duisburg, na Alemanha, Erich
Staake, de que para nada serviu o estudo que a sua empresa preparou em 2011
para a Secretaria de Portos (SEP) sobre os problemas de acessibilidade do cais
de Santos.
Entre
as ações propostas pela Duisburger Hafen AG, estavam a ênfase numa coordenação
mais efetiva pelas autoridades públicas dos projetos de terminais; o aumento da
capacidade dos sistemas rodoviário e ferroviário; a implantação de um sistema
de controle e gestão de tráfego urbano e portuário; maior intermodalidade e a
exploração de um serviço de barcaças para o transporte de carga dentro da área
portuária; a implantação de um sistema de identificação de cargas no complexo e
no Interior do Estado; e a construção de uma ligação seca (túnel ou ponte)
entre as duas margens do Porto, ligando a área do Saboó e à Ilha Barnabé.
Apresentado
à SEP ao tempo do secretário José Leônidas Cristino, o projeto acabou esquecido
numa das gavetas na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, provavelmente em
função das várias mudanças por que passou a direção da pasta nos últimos
tempos. Moeda de troca no jogo político-partidário, a SEP, até outubro de 2013,
era reduto do PSB, especialmente do ex-ministro Ciro Gomes, que deixou aquele
partido. Cristino seria substituído pelo economista Antonio Henrique Pinheiro
Silveira até junho de 2014, quando a pasta passaria ao ex-ministro dos
Transportes, César Borges, por força de uma rearrumação de forças políticas com
vistas às eleições presidenciais. Obviamente, com tantas mudanças, não há
projeto a médio e longo prazo que sobreviva por muito tempo.
Apesar
da existência do projeto encomendado à Duisburger Hafen AG, sabe-se que estão
em andamento estudos como o Masterplan e o novo Plano de Desenvolvimento e
Zoneamento do Porto (PDZ), que, a rigor, discutem e oferecem soluções
semelhantes às que estão contempladas no estudo alemão. De tudo isso, o que se
conclui é que o governo é ágil para encomendar ou preparar projetos – são tantos
que alguns acabam esquecidos em pouco tempo – ou ainda para anunciar
investimentos (que nunca vêm), mas lerdo e extremamente burocrático para fazer
as obras de infraestrutura necessárias ao funcionamento do Porto.
Com
isso, fica cada vez mais explícita a necessidade de uma descentralização da
gestão portuária, com maior autonomia para os Conselhos de Autoridade Portuária
(CAP) e para as companhias docas, já que uma privatização dos portos à inglesa
ainda parece impossível no Brasil de hoje.
É
de lembrar que a Inglaterra, em 1983, ao tempo da primeira-ministra Margaret
Thatcher, transferiu para a iniciativa privada até a função reguladora dos
portos. Dessa maneira, nos portos sob gestão privada, a empresa particular,
além de proprietária da área, passou a atuar como operadora e autoridade
portuária, assumindo os serviços de manutenção e os investimentos em infraestrutura. Lá
não se sabe de projetos encomendados que tenham sido esquecidos em gavetas ou
na memória de computadores. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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