SÃO
PAULO – O oferecimento feito pelo governo chileno para atuar como pontífice
(construtor de “pontes” de entendimento) entre Mercosul e Aliança do Pacífico
deveria ser levado mais a sério pelo atual governo brasileiro, ainda que este esteja
em seus estertores, e, principalmente, pelos candidatos à presidência da
República. Afinal, o Chile, além de membro associado do Mercosul, que é formado
por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Veneuzela, faz parte da Aliança do
Pacífico, ao lado de Colômbia, Peru e México.
É
verdade que o Brasil, por sua liderança natural e sua importância econômica,
não necessitaria dessa intervenção chilena, mas a boa diplomacia recomenda que
não se descarte aqueles com os quais se tem interesses convergentes. A partir
da integração sul-americana, um pacto ou acordo entre Mercosul e Aliança do
Pacífico seria decisivo para uma maior integração continental, com a definição
de um bloco com posturas conjuntas e poderosas, tal como os blocos europeu e
asiático.
Embora
o Mercosul não preveja mecanismos que impeçam o Brasil de procurar alianças por
sua conta e risco, o certo é que o País, talvez para não melindrar os parceiros,
só fechou quatro acordos de comércio desde 1991. E com mercados modestos:
Israel, Palestina, Egito e Índia. Desses, apenas o acordo com Israel está em vigência. E não foi
por falta de oportunidades, mas por letargia da diplomacia brasileira. Afinal,
segundo a Organização Mundial de Comércio (OMC), 354 acordos internacionais
estão em vigor. E
pelo menos a metade foi estabelecida a partir de 2003.
Portanto,
o Brasil não soube perceber a tempo as transformações que começaram a se
processar no mundo neste século. Primeiro, procurou apostar todas as suas
fichas na Rodada Doha, que defendia regras multilaterais que seriam
estabelecidas pela OMC, mas que redundou em rotundo fracasso. Depois, não soube
aproveitar a oportunidade surgida com a Aliança de Livre Comércio das Américas
(Alca), tendo trabalhado ao lado do governo argentino pelo seu malogro. E
manteve-se indiferente ao processo mundial de expansão das preferências
regionais.
Diante
disso, não é de se descartar a proposta do Chile, que traz a experiência bem sucedida
da Aliança do Pacífico. É de lembrar que Chile e México selaram,
respectivamente, 21 e 13 acordos de livre-comércio, incluindo Estados Unidos e
União Europeia. E, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), o
Produto Interno Bruto (PIB) do Chile cresceu 4,1% em 2013 e deverá crescer 3%
em 2014, enquanto o do Brasil subiu 2,3% em 2013 e deverá ficar em torno de
1,3% em 2014.
Para
justificar a falta de ação, os governistas costumam argumentar que os países da
Aliança do Pacífico não têm uma indústria desenvolvida como a brasileira e são
dependentes da venda de algumas poucas commodities,
o que facilitaria na hora de fechar acordos. Mas esse argumento é frágil, até
porque o governo tem contribuído para o enfraquecimento da indústria e de sua
participação na corrente de comércio (exportações/importações). Por isso mesmo,
esse acordo com a Aliança do Pacífico seria uma grande oportunidade para
aquecer as vendas da indústria brasileira. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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