À falta de um
discurso mais claro em Brasília, coube ao embaixador do Brasil em Lisboa, Mário
Villalva, em entrevista ao jornal Público, ao apagar das luzes de 2013,
definir as linhas gerais da nova política de comércio exterior do governo, que,
a rigor, representa um avanço significativo em relação à antiga postura de
apostar em acordos globais.
Como se sabe,
o governo brasileiro – e não é só o de hoje – sempre considerou que seria mais
fácil ter regras gerais para que todos negociassem do que firmar acordos
bilaterais ou por blocos. Em função disso, ficou esperando muito das
negociações abertas pela Rodada Doha em 2001 e, praticamente, nada obteve,
enquanto outros países, com políticas mais realistas, conseguiram fechar uma
série de acordos.
Da entrevista
de Villalva, percebe-se que hoje o Brasil aposta muito no acordo de
livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, que está na fase de negociação
tarifária. Se eliminadas ou reduzidas as atuais tarifas, tanto os produtos
europeus como os brasileiros terão maior acesso, o que significa que será
criada uma corrente de comércio que pode resgatar o Atlântico como grande via
comercial, a exemplo do que é hoje o Pacífico.
Desde já,
porém, há ainda alguns obstáculos, como a posição reticente da Argentina quanto
a uma maior abertura de mercado. E do próprio setor industrial brasileiro que
teme a concorrência do produto estrangeiro. Sem contar a pressão social que
poderá aumentar se o País deixar de reunir condições para criar no mínimo dois
milhões de empregos todos os anos para os jovens que precisam ingressar no
mercado de trabalho.
Se não houver
um mínimo de proteção para a indústria nacional, esses empregos podem
desaparecer e o País chegar aos caos social em pouco tempo. Além disso, o governo
entende que não pode abrir de vez o seu mercado e ficar sem margem de
negociação.
Diante disso,
ao Brasil e a Argentina só resta diminuir as tarifas do Mercosul à medida que o
bloco fizer novos acordos comerciais. E isso pode começar a partir do projetado
tratado com a União Europeia, que, hoje, por sua vez, apresenta-se muito mais
flexível, já que enfrenta uma crise nunca imaginada há poucos anos.
Da entrevista
do embaixador, o que se percebe ainda é que o Brasil deverá continuar afastado
cada vez mais dos Estados Unidos, depois de o último governo ter trabalhado com
afinco para o fracasso da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), sem ter
proposto nada em troca. Depois do enterro da Alca, os Estados Unidos fizeram
grandes acordos de comércio com a Ásia-Pacífico e estão negociando com a União
Europeia o Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento. Já o Brasil
continua limitado a acordos com mercados pouco expressivos, como Egito, Israel
e Palestina, e com alguns países do Golfo Pérsico e da África.
Ao que
parece, o governo brasileiro hoje está mais disposto a negociações bilaterais e
por bloco. É nesse novo contexto que aposta muito no acordo de livre-comércio
entre Mercosul e União Europeia. O que se espera é que saia logo da teoria e
passe à prática com a assinatura de novos acordos que estimulem a corrente de
comércio do País. Milton Lourenço -
Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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