Quase
vinte e três anos depois da assinatura do Tratado de Assunção que o criou, o
Mercosul, sem dúvida, cumpriu o seu objetivo e assumiu inquestionavelmente uma
dimensão que o tornou irreversível. É verdade que poderia ter crescido mais,
abrindo-se para outras nações do continente de maneira mais efetiva, mas, seja
como for, parece indiscutível que o seu futuro passa por uma maior integração
com a América Latina.
No
entanto, só mais Mercosul não basta. Não vai dar para ficar só nessa agenda.
Por isso, o que se espera do novo governo que sairá das urnas em outubro de
2014 é um comprometimento maior com uma abertura comercial que permita ao País
se modernizar, o que, em outras palavras, significa importar e exportar mais.
Apesar
dos esforços do governo para alcançar maior representatividade no mundo – que
alcançou o seu ponto de destaque com a chegada do diplomata Roberto Azevêdo ao
cargo principal da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra – , a
verdade é que a nossa política de comércio exterior tem se mostrado
extremamente tímida, para não dizer pífia, e incompreensivelmente apegada a
padrões ideológicos da época da Guerra Fria (1945-1991).
É
o que explica a benevolência com que o governo tem tratado nações inexpressivas
do ponto de vista mercadológico, beneficiando-as com projetos a fundo perdido.
Ora, um país não tem amigos, mas interesses, com bem sabem os pragmáticos
asiáticos. Por isso, o ideal é que o novo governo venha a ter como ministro do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior um empresário peso-pesado
acostumado ao trabalho de caixeiro-viajante, disposto a participar de fóruns e
feiras para vender a imagem do País, com o objetivo de alcançar maior inserção
das empresas brasileiras no mercado internacional. E isso só poderá ser feito
com maior agressividade nos acordos comerciais.
Isso
significa que, se o atual governo não o fizer neste ano, caberá ao novo assumir
a liderança do Mercosul e levar o bloco a uma acordo amplo com a União
Europeia, com uma redução brusca das diferenças regulatórias. A princípio, esse
novo governo teria que estabelecer um compromisso com a Nação, elevando a
participação da corrente de comércio (exportação/importação) da atual marca de
12% do produto interno bruto (PIB) para pelo menos 30%.
É
preciso também afrouxar algumas amarras impostas pelo Mercosul, a fim de que o
País tenha liberdade para firmar acordos bilaterais, independente das
dificuldades sazonais de cada um dos sócios. É possível contribuir para que
esses sócios saiam de uma situação de dificuldades, mas o País não pode
comprometer a sua determinação de evoluir nem se atrasar tecnologicamente em
razão da má gestão de seus vizinhos.
Independente
disso, o Brasil precisa mirar o movimento que se faz no Pacífico, criando
condições para uma aproximação que o integre nessa grande via de comércio. Por
fim, o País não pode prescindir de um acordo com os Estados Unidos, o maior
mercado do planeta. Se contribuiu há dez anos para o enterro da Área de Livre
Comércio das Américas (Alca), hoje está na hora de o Brasil se mostrar mais
maduro, propondo aos Estados Unidos um acordo semelhante ao que é negociado
entre Mercosul e União Europeia.
Se
não agir a tempo, fatalmente, o País ficará a reboque dos grandes acordos que
estão em gestação, assumindo uma posição subalterna, sem participar das
discussões. Não dá mais para continuar numa posição defensiva, limitada à
criação de incentivos pontuais a determinados setores. O que o momento mundial
exige é um novo modelo econômico. Mauro
Dias - Brasil
__________________________________________________________________________________________
Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário