Cartoonista morreu há dois anos e é uma
referência da Índia
Falar de Goa e não falar de Mário de Miranda
é uma incongruência. O cartoonista, nascido em Damão, faz parte de todo um
imaginário da história das ex-colónias portuguesas na Índia, antes e depois da
invasão da União Indiana em 1961. E não só. Mário, como assinou grande parte do
seu trabalho, também retratou a Índia toda, em especial a sua cidade adoptiva
Bombaim, Portugal, Macau, China, Japão, Estados Unidos, Alemanha, Espanha e
muitos outros locais espalhados pelo mundo.
Mário João Carlos do Rosário de Brito
Miranda, filho de católicos de origem brâmane, foi descendente de uma família
de nome Sardessai que se converteu ao catolicismo em 1750. Cedo mostrou
apetência para o desenho e prosseguiu os estudos em Bangalore e em Bombaim.
Mas como a arte de desenhar era a sua grande
paixão, acabou por começar a estudar arquitectura, curso que não terminou. Por
essa altura, o seu talento foi notado e os seus amigos encorajaram-no a fazer
cartões postais e desenhar para eles, o que lhe valeu algum dinheiro extra.
Daí em diante foi subir a pulso. Começou por
trabalhar num estúdio de publicidade, onde esteve durante quatro anos, antes de
assumir o cartoonismo a tempo inteiro no The Illustred Weekly, na Índia.
O seu trabalho começou a ter alguma
notoriedade no meio indiano e, de seguida, começou a publicar na revista
Current. Daí até chegar ao jornal mais importante da Índia foi um tiro. Passado
um ano, Mário de Miranda começava a publicar no The Times of India e noutros
jornais importantes de Bombaim como o The Economic Times ou na revista Femina.
Por essa altura, e ainda com Goa, Damão e Diu
na posse do Estado Português, Mário obteve uma bolsa da Fundação Calouste
Gulbenkian, o que permitiu ao cartoonista ficar em Portugal durante um ano.
Como dominava a língua portuguesa, a experiência só podia ter corrido bem.
Ampliou os seus horizontes e fez um trabalho digno de referência à mais larga
escala.
Depois disso seguiu-se a Inglaterra, onde
residiu cinco anos, e um pouco por toda a Europa, onde bebeu conhecimento com a
interacção com outros cartoonistas. Colaborou com diversos jornais e revistas
durante a sua estadia europeia, e até fez animação para televisão.
De volta à Índia fez parelha, no The Times of
India, com o notável RK Laxman. Uma dupla de grande sucesso que mudou
completamente a restante carreira de Mário de Miranda. Por essa altura conheceu
Habiba Hydari, com quem casou, tendo tido dois filhos: Raul e Rishaad.
Em 1974, viajou para os Estados Unidos da
América e conheceu grandes nomes do cartoonismo como Charles M. Schulz e
Herblock.
Em 1988 foi agraciado com o Padma Shri e em
2002 com o Padma Bhushan. O rei Juan Carlos de Espanha também o agraciou com a
ordem civil de “La Cruz de Isabel la Católica”, em 2009. O Presidente da
República Portuguesa, Cavaco Silva tornou-o comendador da Ordem do Infante Dom
Henrique.
Mário Miranda faleceu a 11 de Dezembro de
2011, em Goa, e foi postumamente condecorado pelas autoridades indianas com a
segunda mais alta condecoração civil do país – Padma Vibhushan – a 4 de Abril
de 2012.
Realizou exposições individuais em mais de 22
países, incluindo os EUA, Japão, Brasil, Austrália, Singapura, França, Sérvia e
Portugal. Hoje em dia os cartoons de Mário de Miranda podem ser vistos em
diversas paredes dos lugares mais famosos de Bombaim e Goa. Além de livros
próprios, ilustrou obras de Dom Moraes, Manohar Malgaonkar, Mário Cabral e Sá,
entre outros. Lobo Pinheiro – Macau in “Hoje Macau”
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