Dois fatos,
aparentemente, desconexos, ocorridos nos últimos dias, servem à medida para
mostrar a falta de rumo que tem marcado o governo brasileiro na condução de sua
política de comércio exterior. Enquanto os portos brasileiros necessitam de
serviços de manutenção e ampliação de sua capacidade de operação, o governo
comemorou a concessão de R$ 2,6 bilhões de crédito pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras de construção do porto de
Mariel, em Cuba, como se fosse um grande feito de sua política externa, sob a
alegação de que os bens e serviços foram fornecidos por empresas brasileiras e
que a iniciativa teria por trás uma hipotética natureza estratégica.
Longe do
discurso oficial, porém, o que se diz é que esse tipo de “investimento” no
porto cubano será a fundo perdido, pois o governo de Cuba, historicamente, não
paga ninguém. Sem contar que a presidente Dilma Rousseff, ao participar da reunião
de cúpula da Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac), em
Havana, ao afirmar que o bloqueio imposto a Cuba pelos Estados Unidos é anacrônico,
“esqueceu-se” de dizer, talvez para não ofender os anfitriões, que não há
regime, no significado léxico, que mais se identifique com o anacronismo do que
o cubano.
É de
estarrecer ouvir da presidente uma declaração tão demagógica e inadequada, mas,
de certo modo, essa afirmação traz em seu bojo a razão pela qual o Brasil está
se afundando cada vez mais no comércio exterior, voltando a ser um exportador
de matérias-primas como no período colonial.
O outro fato
que deixa exposta a falta de rumo na política de comércio exterior é a
insistência do governo federal em autorizar a criação de novos terminais de
granéis sólidos na área insular da cidade de Santos, a despeito dos prejuízos
que essa iniciativa trará para o meio ambiente e para a saúde de milhares de
moradores das proximidades, que continuarão a conviver com os problemas
provocados pelo corredor de exportação de grãos. Melhor seria se tivesse tirado
parte dos recursos concedidos a fundo perdido a Cuba para aplicar na construção
de um corredor de exportação de grãos na área continental, na margem esquerda
do Porto de Santos, no Guarujá.
Em resumo:
além de não ter feito os investimentos necessários à infraestrutura portuária
do País, o governo brasileiro insiste em buscar relacionamento comercial com
países que não dispõem da menor condição financeira para comprar produtos
brasileiros. E que, quando o fazem, não pagam. Foi o que fez o governo anterior
com Bolívia, Paraguai, Venezuela, Haiti e alguns países africanos, como se o
Brasil pudesse ficar doando dinheiro a fundo perdido, quando grande parte de sua
população é analfabeta e faminta. Milton
Lourenço - Brasil
___________________________________________________________
Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
Sem comentários:
Enviar um comentário