Apesar dos
esforços do governo federal para ampliar a movimentação do Porto de Santos em
27 milhões de toneladas, passando a sua capacidade para 122 milhões de
toneladas, com o arrendamento de 11 instalações, a verdade é que não há mais
como o complexo portuário se responsabilizar por mais do que os 25,5% que lhe
cabem hoje na pauta de exportação/importação do País. Se já é uma anomalia essa
fatia, insistir em ampliar essa participação vai contra tudo o que significa
planejamento e programa de governo.
É claro que
ninguém é contra que sejam feitos investimentos no Porto de Santos – até porque
sua infraestrutura apresenta uma defasagem flagrante, em razão de obras que
nunca saíram do papel –, mas o que o complexo necessita é de um ordenamento
administrativo que o qualifique melhor para a movimentação de maior número de
produtos de valor agregado. Ou seja, o Porto de Santos não pode continuar como
destino da produção agrícola do Centro-Oeste por falta de outros portos
capacitados a receber essa demanda ou ainda por ausência de rede viária e malha
ferroviária capazes de direcionar essas cargas para outros complexos
portuários.
Não é preciso
ser futurólogo para prever para breve um caos logístico sem precedentes na
região, até porque os sinais já foram dados no escoamento da supersafra de
grãos de 2013. Basta ver que em 2012 foram movimentadas 105 milhões de
toneladas no maior porto do País e que, em 2013, a movimentação chegou a 110
milhões. Nesse ritmo, antes de 2024, será alcançada a projetada marca de 230
milhões de toneladas. Pergunta-se: a que custo?
Essa é a
questão. Afinal, não basta crescer, é preciso saber crescer com racionalidade e
eficiência logística. Para tanto, o governo federal precisa fazer a sua parte
criando ou estimulando a criação de uma rede de armazenagem no interior do
País. E, principalmente, asfaltar a BR-163 até o porto de Santarém-PA. É uma
vergonha que ainda haja estradas de terra batida fazendo ligações entre as
regiões brasileiras.
Afinal, por
mais que haja empenho na sua modernização, o Porto de Santos, em razão de seu
gigantismo, ocupa a penúltima colocação no ranking de logística entre os 12
principais portos brasileiros, segundo estudo preparado pelo Instituto de
Logística e Supply Chain (Ilos), do Rio de Janeiro. Em outras palavras: é um
porto saturado, que opera a 100% de sua capacidade, o que provoca filas
quilométricas de caminhões e gera excessiva demora nos procedimentos
burocráticos.
Obviamente, a
preferência da maioria dos exportadores e importadores pelo Porto de Santos não
se dá por hábito, mas porque, apesar dos pesares, é o que está mais próximo da
zona de produção ou porque é o que oferece a melhor infraestrutura viária,
ferroviária e portuária, desde que não haja os conhecidos engarrafamentos ou
gargalos logísticos.
É preciso,
portanto, que os demais portos também se qualifiquem e aumentem sua
participação na movimentação da balança comercial brasileira. Com uma matriz de
movimentação portuária mais equilibrada, o País só terá a ganhar. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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