Diante
dos problemas apresentados logo nos primeiros dias do ciclo de escoamento da
safra agrícola de 2014, está claro que as medidas paliativas adotadas pela
Secretaria Especial de Portos (SEP), Agência Nacional de Transportes
Aquaviários (Antaq) e Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) pouco
adiantarão para evitar o caos no trânsito em direção ao Porto de Santos. E que,
se os prejuízos acumulados em seis meses de 2013 pelo Polo Industrial de
Cubatão chegaram a R$ 1,5 milhão de custo de horas-extras e perdas de
escoamento de produtos e recebimento de matérias-primas, neste ano a previsão
tem números ainda mais assustadores.
Até
porque a expectativa oficial é que haverá um crescimento de 10% na safra deste
ano, em relação ao total colhido em 2013. Isso significa a provável repetição
do pesadelo vivido pela região no ano passado, quando operários e executivos
ficaram retidos até quatro horas dentro de ônibus e automóveis que os
transportam para o local de trabalho ou para suas casas, sujeitos a acidentes
em locais de difícil acesso. E, principalmente, expostos a assaltos, os
chamados “arrastões”. Sem contar as crianças que deixaram de ir às escolas e as
ambulâncias que ficaram impedidas de circular.
Os
prejuízos não se limitam ao Polo Industrial de Cubatão, sem dúvida, o mais
afetado, já que o município é cortado pelas duas rodovias que interligam o
Planalto paulista ao Porto de Santos. Há prejuízos incalculáveis para as demais
empresas – transportadoras e comissárias de despachos e seus clientes, que têm
sua existência umbilicalmente ligada à atividade portuária. No ano passado, a
média foi de 10 mil caminhões por dia em direção ao porto, 300 a mais do que em
2012.
Obviamente,
ninguém se opõe ao crescimento da safra agrícola, que tem sido responsável pelo
superávit que a balança comercial ainda apresenta. O que se questiona é que um
setor, no caso o agrícola, continue a prejudicar os demais segmentos ligados ao
comércio exterior, em razão de uma infraestrutura defasada e deficiente.
Na
verdade, as autoridades se limitam a anunciar projetos que poderão aliviar o
escoamento da safra, mas que incluem apenas obras de ampliação da malha
rodoviária, em direção ao porto de Santos, como a duplicação do trecho da
Rodovia Cônego Domênico Rangoni entre a Via Anchieta e a Usiminas, que deverá estar
concluída em outubro. Ou a remodelação da entrada da cidade de Santos ou a
construção da Via Arterial Porto-Indústria, margeando a via férrea do antigo
ramal da Santos-Jundiaí, que ainda está só no papel.
Ora,
essa opção radical pelo modal rodoviário não vai dar certo. É preciso ampliar também
a oferta do modal ferroviário. E mais importante: criar condições para que a
safra agrícola do Centro-Oeste seja escoada por outros portos, especialmente do
Norte e Nordeste. Sem deixar de construir silos para armazenagem dos grãos
próximos ao centro de produção. Caso contrário, os caminhões continuarão a
cumprir o papel de silos dos produtores.
Enquanto
isso, as autoridades insistem em apostar que a ameaça de multas pesadas para
caminhoneiros e terminais que desobedecerem ao agendamento da descarga será
suficiente para disciplinar o tráfego. Será? Mauro Dias - Brasil
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Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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