Se em vez de
investir R$ 2,6 bilhões na construção de um terminal no porto de Mariel, em
Cuba, o governo brasileiro tivesse feito semelhante investimento no Norte ou
Nordeste, com certeza, o escoamento da safra agrícola do Centro-Oeste não
precisaria necessariamente mais ser executado pelos portos de Santos e
Paranaguá. Além de promover economia de combustível, já que a distância seria
menor, o governo teria levado o desenvolvimento a regiões mais carentes, já que
seria obrigado também a investir em rodovias e ferrovias.
Também teria
evitado o atual contencioso que levou a Advocacia Geral da União a recorrer ao
Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender lei municipal de Santos
sancionada em novembro de 2013 que proíbe a movimentação de grãos no bairro da
Ponta da Praia. Ainda que o governo federal alegue que os novos editais de
arrendamento no Porto de Santos prevêem a obrigatoriedade de que os
arrendatários utilizem equipamentos que reduzam a liberação de resíduos
poluentes na atmosfera, a verdade é que não há condições de se estabelecer uma
boa convivência entre os moradores e os terminais graneleiros naquela área
urbana.
Nesse caso,
melhor teria sido se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), em vez de se mostrar tão “generoso” na concessão de crédito a Cuba,
tivesse financiado a instalação desses terminais na área continental de Santos,
zona pouco povoada. Fosse como fosse, não há dúvida que a melhor solução
passaria por uma descentralização do Porto de Santos, reservando-o para
produtos de maior valor agregado.
É de
reconhecer a preocupação do governo em facilitar o escoamento das exportações
agrícolas, responsáveis pelo superávit que a balança comercial ainda apresenta,
mas nada justifica essa concentração de terminais graneleiros na Ponta da
Praia, bairro densamente povoado.
O pior é que
os recursos destinados à revitalização do porto de Mariel, em Cuba, aparentemente,
pouco retorno darão ao Brasil, já que o regime cubano tradicionalmente não
costuma cumprir seus compromissos internacionais. Se, por outro lado, esse
carcomido regime vier a cair em breve, fatalmente, o capital cubano concentrado
hoje em Miami migrará para a ilha, ao lado de maciços investimentos norte-americanos.
Isso significa que Cuba, a exemplo de Porto Rico, logo poderá se tornar um
estado associado aos Estados Unidos.
Nesse
cenário, igualmente, pouco espaço restaria para o Brasil. Ou seja, fez-se um
investimento a fundo perdido. Como se o Brasil fosse hoje um país de Primeiro
Mundo, com todos os seus problemas de educação, saúde pública, saneamento
básico, infraestrutura de transporte e empregabilidade já resolvidos. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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