Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 21 de março de 2018

Macau – Universidade de São José insta Macau a “repensar” apoios para atrair alunos dos PALOP

A Universidade de São José tencionava ter mais estudantes do universo lusófono, mas vê-se impossibilitada, na medida em que os apoios para atrair alunos dos países africanos de língua oficial portuguesa restringem-se a quatro bolsas de estudo. Neste contexto, o Reitor da USJ defende ser necessário “repensar” o modelo de atribuição de apoios ao ensino neste âmbito e “criar um maior intercâmbio”. Isto se, frisou, Macau pretende de facto ser uma plataforma também ao nível do ensino superior. Peter Stilwell avançou ainda que vai voltar a submeter, em Setembro, um novo pedido para desbloquear a vinda de alunos do Continente chinês



Se Macau pretende ser uma plataforma sino-lusófona também ao “nível do ensino superior terá de repensar a maneira de desenvolver os apoios e bolsas de estudo e criar um maior intercâmbio”. As palavras são de Peter Stilwell, reitor da Universidade de São José (USJ), instituição de ensino superior de matriz católica com 1100 estudantes, 30% a 40% dos quais são internacionais.

Desse grupo, matriculam-se espontaneamente alunos da Europa e do Brasil mas, em relação ao países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), o número é inferior. “Temos um pequeno grupo que vem dos países africanos de língua oficial portuguesa com bolsas da Fundação Macau, que são poucas. Nos quatro anos, ter quatro bolsas, é uma coisa mínima, e os estudantes desses países que estejam interessados não têm qualquer maneira de vir pagar propinas a Macau ou ter a sua residência cá”, frisou Peter Stilwell.

No entanto, ressalva, é “evidente que são precisas algumas garantias para os alunos que vêm para cá, [no sentido] que depois voltam para os seus países ou fazem uso se for interesse para Macau e China naquilo que é o seu saber”. Ainda assim, o reforço das bolsas de estudo para esses alunos representaria uma “coisa ínfima em termos de custos para o Governo”, considera Stilwell.

“Uma vez acauteladas essas exigências, Macau só tem a beneficiar em trazer pessoas desses países. A China tem tantos interesses económicos [nesses países]. Está neste momento a investir de tal modo que seria, para mim, evidente que também haveria interesse em estar na formação dos quadros”, evidencia.

Do ponto de vista do Reitor, este seria um caminho a seguir dentro da estratégia da USJ de que é necessário apostar no facto de ser “mais internacional das instituições”. “Macau tem a beneficiar que o seu ensino superior tenha um carácter internacional, é o que daria projecção a Macau.  Permitiria que houvesse um outro olhar sob este território, com gente com qualificações mais variadas para fazerem investigação e estudo. Os casinos passariam para o seu lugar próprio que é serem umas das indústrias”, observou.

No fundo, “Macau tem condições únicas porque tem condições financeiras para apoiar o ensino superior e a investigação. Portanto, se liderarmos o processo de lançar o nome de Macau e das suas instituições no mercado dos alunos e dos professores internacionais acho que prestamos a nossa função”, vincou.

Mais um pedido para alunos do Continente

Estes projectos são também uma forma de contornar o facto de continuar a ser impossível à instituição de ensino superior recrutar estudantes do Continente chinês. Em 2016 foi submetido um pedido, mas o Ministério da Educação da República Popular da China entendeu que ainda “não era o momento apropriado”.

Ainda assim, a universidade não desiste, e vai voltar à carga. “Temos sempre uma visão optimista de longo prazo. Quer a Igreja quer o Governo chinês pensam em décadas e séculos e, portanto, não têm assim muita pressa. (…) Contamos introduzir o nosso pedido outra vez, em Setembro o mais tardar, mas para o ano [académico] de 2019/2020”, anunciou Peter Stilwell.

Devido à sua matriz católica, a USJ não está autorizada a receber alunos da China Continental. Uma condição que levou, inclusive, o Bispo Stephen Lee (em 2016) a expressar preocupação por considerar que isso poderá pôr em risco a viabilidade da instituição. Na altura, Stephen Lee lamentou mesmo que a USJ esteja a ser alvo de discriminação uma vez que “todas as universidades [de Macau] dependem dos alunos da China Continental”.

Há muito que a USJ negoceia com o Governo Central para poder receber alunos da China Continental, que representam parte significativa do corpo estudantil da maioria dos estabelecimentos de ensino superior de Macau. Tendo em consideração que a China está a trabalhar com o Vaticano para melhorar as relações bilaterais (está prevista a assinatura de acordo sobre a nomeação dos bispos), Stephen Lee acredita que esta aproximação poderá agilizar as negociações e concretizar as ambições da USJ. “Tenho indicações que se houvesse uma assinatura de acordo isso possivelmente facilitaria o nosso recrutamento, mas tudo depende. Fazemos o pedido, percorremos os corredores do poder e veremos se é oportuno ou não”, disse. Catarina Almeida – Macau in “Jornal tribuna de Macau”

Sem comentários:

Enviar um comentário