Galiza, Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Macau… No Grandes Vozes
estamos sempre dispostos a ir além para conhecer culturas através do nosso
maior elemento de união: a língua. Depois de três temporadas, no nosso programa
70 conseguimos finalmente pagar uma antiga dívida e chegar à Índia. Nesta
semana esteve connosco a fadista Sonia Shirsat, uma artista de reconhecido
prestígio que já levou aos palcos de meio mundo a cultura da cidade do Goa. A
Sonia é uma das artistas que melhor representa o espírito do nosso programa;
uma verdadeira ponte musical entre as culturas tradicionais indianas. Através
da sua música no nosso idioma poderemos conhecer também a produção musical na
língua original de Goa, o concani, e tradições nascidas do encontro entre
povos.
Sonia Shirsat, muito boa tarde! É um
grandíssimo prazer poder conversar consigo.
Obrigada, igualmente.
Vou-lhe apresentar o meu companheiro
Edilson.
[Edilson]. Sonia, boa tarde.
Olá!
Já sabemos que aí é de noite.
Diga-nos, que horas são aí exatamente?
Aqui faltam 10 minutos para meia-noite.
Agradecemos especialmente que tenha
atendido o nosso telefonema hoje que está a trabalhar. Onde irá atuar esta
noite?
Hoje atuei na capital de Goa, em Pangim.
A Sonia chegou ao mundo do fado de
forma quase casual. Como foi a sua tomada de contacto com a música na nossa
língua?
Em casa da minha mãe, a família falava
português; a mamã e a avó gostavam muito do fado. A mamã cantava em casa e eu
ouvia em casa e adorava, mas tentei cantar em português só com a idade de 23
anos.
Continua no mundo da docência ou a
música ocupa totalmente toda a sua vida?
Principalmente agora é só a música. A
maioria do meu trabalho é só fado, mas além do fado canto outras coisas. Deixei
de ensinar no colégio, mas qualquer dia volto.
Para além de cantar em português,
também canta em outras línguas. Quais são?
Já cantei em 14 línguas, mas falo só
6: inglês, português, francês, hindi, concani de Goa e marati, entre outras
línguas da Índia.
O que apareceu antes na sua vida? O
fado na nossa língua ou a música em concani.
É claro que foi a música em concani,
porque é a língua da terra. Cantava em concani, em inglês e na língua nacional
hindi também. Também já cantei em francês antes de cantar em português.
A Sonia recebeu em 2016 um
prestigioso prémio: o Yuva Puraskar. Diga-nos, o que é esse prémio?
Esse foi um prémio nacional, dado pelo
Estado. Yuva quer dizer “jovens”, portanto é a categoria correspondente aos
cantores com menos de 40 anos. Concedem este prémio em várias categorias:
dança, teatro, música tradicional e folclore… Eu ganhei o prémio nesta
categoria, dado que o fado é música tradicional e música folque. Para mim foi
muito importante o facto de ter recebido um prémio nacional mesmo sem se tratar
de uma língua nem um estilo espalhados pela Índia inteira, pois cantamos fados
e falamos português em Goa, que é um estado pequenino do país.
Além deste prémio, também ganhou
outro à melhor cantora pela Academia de Tiatr de Goa. Explique-nos o que é o Tiatr.
Tiatr é teatro. Nós em Goa temos um teatro
em língua concani, que faz parte da cultura portuguesa. É muito parecido com o
teatro de revista, um teatro que a gente escreve que trata de temas correntes,
de coisas que estão a acontecer na política do mundo inteiro. Este teatro
inclui cantigas no meio e nestes intervalos é que eu cantei e na Academia de
Teatro de Goa deram-me o prémio na categoria “Melhor cantora”. Ganhei este
prémio dois ou três anos já.
A sua primeira participação num
disco na nossa língua foi o álbum Lisgoa de António Chaínho.
Como foi trabalhar com o mestre português?
Foi um prazer, o mestre António Chaínho é
uma joia. Conheci o mestre cá em Goa quando veio ensinar a tocar a guitarra
portuguesa. Naquela altura eu não falava português, foi no ano 2004 ou 2005.
Cantei um fado, gostou muito e desde então trabalhei muito com ele em Lisboa e
cá em Goa. Quando o mestre pensou em fazer este projeto, Lisgoa,
junção de Lisboa e de Goa, pediu-me para cantar umas coisas e foi um grande
prazer.
Em 2010 publicou o primeiro álbum a
solo, Saudades de Fado. Como foi o acolhimento?
Saudados de Fado foi um álbum que gravei
em Lisboa, com guitarristas de lá. Foi o primeiro álbum do estado lançado em
Goa e logo foi esgotado. A editora já vendeu tudo e acabou, tínhamos de fazer
mais CDs para a venda. Em Goa as pessoas que falam português gostam de comprar,
de dar como presente de Natal, e foi muito bem sucedido,
A Sonia já quase atuou em todo o
mundo: Portugal, Luxemburgo, França, Kuwait, Reino Unido… Quando é que a vamos
poder ver de novo em Europa?
Para este ano ainda não tenho nada marcado
em Europa, são mais concertos na Índia. Espero que possa voltar a Lisboa, à
Alfama e a outros países da Europa para cantar o fado. Ainda não marquei
nada.
Como foi o concerto desta noite?
Foi ótimo. Foi um grupo de pessoas de Nova
Delhi, da capital da Índia, que queria conhecer o fado. São pessoas que não têm
ligação com Goa nem com o mundo português de cá, mas já viajaram e conheceram
Lisboa. Gostaram do fado e gostaram do facto de nós termos fado cá em Goa.
Para além do fado, que outros tipos
de músicas tocou?
Hoje foi só fado.
Qual foi o repertório?
Foi uma mistura de fados antigos, fados da
Amália, e de fadistas novas, como Raquel Tavares, Katia Guerreiro, Carminho…
Além disso também cantei dois fados originais meus que amigos de Lisboa
escreveram para mim.
Cantaste numa língua ou em várias?
Tudo em português.
A todas as pessoas que passam pelo
nosso programa, pedimos sugestões musicais na nossa língua. Quais são as suas
preferências?
Para mim é sempre fado.
Sonia, foi um verdadeiro prazer
poder conversar consigo. Muito obrigado, muita sorte. Deixamo-la com a sua
música.
Obrigada, foi um grande prazer!
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