A
Universidade de São José tencionava ter mais estudantes do universo lusófono,
mas vê-se impossibilitada, na medida em que os apoios para atrair alunos dos
países africanos de língua oficial portuguesa restringem-se a quatro bolsas de
estudo. Neste contexto, o Reitor da USJ defende ser necessário “repensar” o
modelo de atribuição de apoios ao ensino neste âmbito e “criar um maior
intercâmbio”. Isto se, frisou, Macau pretende de facto ser uma plataforma
também ao nível do ensino superior. Peter Stilwell avançou ainda que vai voltar
a submeter, em Setembro, um novo pedido para desbloquear a vinda de alunos do
Continente chinês
Se Macau pretende ser uma
plataforma sino-lusófona também ao “nível do ensino superior terá de repensar a
maneira de desenvolver os apoios e bolsas de estudo e criar um maior
intercâmbio”. As palavras são de Peter Stilwell, reitor da Universidade de São
José (USJ), instituição de ensino superior de matriz católica com 1100
estudantes, 30% a 40% dos quais são internacionais.
Desse grupo, matriculam-se
espontaneamente alunos da Europa e do Brasil mas, em relação ao países
africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), o número é inferior. “Temos um
pequeno grupo que vem dos países africanos de língua oficial portuguesa com
bolsas da Fundação Macau, que são poucas. Nos quatro anos, ter quatro bolsas, é
uma coisa mínima, e os estudantes desses países que estejam interessados não
têm qualquer maneira de vir pagar propinas a Macau ou ter a sua residência cá”,
frisou Peter Stilwell.
No entanto, ressalva, é
“evidente que são precisas algumas garantias para os alunos que vêm para cá,
[no sentido] que depois voltam para os seus países ou fazem uso se for
interesse para Macau e China naquilo que é o seu saber”. Ainda assim, o reforço
das bolsas de estudo para esses alunos representaria uma “coisa ínfima em
termos de custos para o Governo”, considera Stilwell.
“Uma vez acauteladas essas
exigências, Macau só tem a beneficiar em trazer pessoas desses países. A China
tem tantos interesses económicos [nesses países]. Está neste momento a investir
de tal modo que seria, para mim, evidente que também haveria interesse em estar
na formação dos quadros”, evidencia.
Do ponto de vista do Reitor,
este seria um caminho a seguir dentro da estratégia da USJ de que é necessário
apostar no facto de ser “mais internacional das instituições”. “Macau tem a
beneficiar que o seu ensino superior tenha um carácter internacional, é o que
daria projecção a Macau. Permitiria que
houvesse um outro olhar sob este território, com gente com qualificações mais
variadas para fazerem investigação e estudo. Os casinos passariam para o seu
lugar próprio que é serem umas das indústrias”, observou.
No fundo, “Macau tem condições
únicas porque tem condições financeiras para apoiar o ensino superior e a
investigação. Portanto, se liderarmos o processo de lançar o nome de Macau e
das suas instituições no mercado dos alunos e dos professores internacionais
acho que prestamos a nossa função”, vincou.
Mais
um pedido para alunos do Continente
Estes projectos são também uma
forma de contornar o facto de continuar a ser impossível à instituição de
ensino superior recrutar estudantes do Continente chinês. Em 2016 foi submetido
um pedido, mas o Ministério da Educação da República Popular da China entendeu
que ainda “não era o momento apropriado”.
Ainda assim, a universidade
não desiste, e vai voltar à carga. “Temos sempre uma visão optimista de longo
prazo. Quer a Igreja quer o Governo chinês pensam em décadas e séculos e,
portanto, não têm assim muita pressa. (…) Contamos introduzir o nosso pedido
outra vez, em Setembro o mais tardar, mas para o ano [académico] de 2019/2020”,
anunciou Peter Stilwell.
Devido à sua matriz católica,
a USJ não está autorizada a receber alunos da China Continental. Uma condição
que levou, inclusive, o Bispo Stephen Lee (em 2016) a expressar preocupação por
considerar que isso poderá pôr em risco a viabilidade da instituição. Na
altura, Stephen Lee lamentou mesmo que a USJ esteja a ser alvo de discriminação
uma vez que “todas as universidades [de Macau] dependem dos alunos da China
Continental”.
Há muito que a USJ negoceia
com o Governo Central para poder receber alunos da China Continental, que
representam parte significativa do corpo estudantil da maioria dos
estabelecimentos de ensino superior de Macau. Tendo em consideração que a China
está a trabalhar com o Vaticano para melhorar as relações bilaterais (está
prevista a assinatura de acordo sobre a nomeação dos bispos), Stephen Lee
acredita que esta aproximação poderá agilizar as negociações e concretizar as
ambições da USJ. “Tenho indicações que se houvesse uma assinatura de acordo
isso possivelmente facilitaria o nosso recrutamento, mas tudo depende. Fazemos
o pedido, percorremos os corredores do poder e veremos se é oportuno ou não”,
disse. Catarina Almeida – Macau in “Jornal
tribuna de Macau”
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