Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 9 de março de 2018

Angola – Palanca negra gigante continua processo de recuperação

Há 10 anos, a palanca negra gigante, o antílope que só existe em Angola e “dá a cara”, entre outras, à selecção nacional de futebol ou à transportadora aérea de bandeira, a TAAG, estava à beira da extinção, com hipótese de estar mesmo extinta, mas hoje a sua situação é de recuperação, embora os 200 exemplares em estado selvagem não garantirem que o risco esteja afastado em definitivo




Esta foi a ideia de base transmitida hoje no "workshop" realizado em Luanda sobre o Programa de Protecção da Palanca Negra Gigante dirigido pela Fundação Kissama, onde o seu director, Pedro Vaz Pinto, um dos grandes responsáveis pelo regresso à vida desta especiosa espécie que se distingue de todas as primas, as palancas negras africanas, pela dimensão dos cornos, com mais de 1,5 m, e, não menos importante, uma mancha branca em torno do olho que nas outras subespécies se prolonga até ao focinho.

Este antílope, cujo nome científico é hippotragus niger variani, é única de Angola e tem o seu território confinado naturalmente a áreas da província de Malanje, tendo sido dada a conhecer ao mundo em 1909 por um engenheiro inglês, Frank Varian, que trabalhava nos Caminhos-de-Ferro de Benguela, cujo início de construção foi em 1903, para ligar o Lobito ao Luau, no Moxico.

Com mais de dois metros de altura média, podendo mesmo chegar aos 2,50 m, e com entre 200 e 280 quilos, a palanca negra gigante tem apenas nos machos a sustentação do seu nome, porque as fêmeas são castanhas (na foto, um macho e uma fémea).

O seu habitat preferencial, notam os estudos feitos entretanto, é constituído por locais próximos de cursos de água, com arborização, sendo as manadas, em situação normal, constituídas por 20 a 30 indivíduos, com um macho dominante, o que é comum noutras espécies de antílopes, alimentando-se de ervas e folhas.

Durante anos, esta espécie foi tida como extinta ou em situação de recuperação impossível devido ao baixo número de indivíduos, o que impossibilitaria impedir os problemas comuns a estas situação, resultantes dos problemas da consanguinidade que, normalmente, leva as espécies a deixarem de ter capacidade reprodutiva suficiente para garantir a sua sustentação.

A guerra, a caça furtiva, que segundo Pedro Vaz Pinto, citado pela Angop, ainda hoje subsiste como perigo principal para a palanca angolana, ou as constantes queimadas, foram responsáveis pelo quase extermínio deste antílope.

Todavia, quase de forma inexplicável, a espécie foi capaz de se aguentar no Parque Nacional de Cangandala e reserva natural do Luando, na província de Malanje, onde os espécimens existentes se dividem ainda hoje, 60 no primeiro e 140 no segundo.

Foi em 2005 que Pedro Vaz Pinto, à frente de um grupo do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola (UCAN), conseguiu provar que a espécie ainda estava entre nós e que podia ser viável a sua recuperação, depois de terem obtido provas, através de fotografias de uma manada, que não estava extinta, embora não tenha ainda saído da Lista Vermelha das espécies ameaçadas da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza)

Os cálculos feitos pela Fundação Kissama apontam para que a guerra tenha devastado mais de 90 por cento da população de palanca negra gigante, sendo apenas graças ao trabalho desenvolvido na última década que a espécie passou de em perigo de extinção para uma fase inicial de recuperação.

No entanto, a caça furtiva, devido ao desconhecimento da sua importância pelas populações humanas locais que a caçam para obtenção de carne para a alimentação diária, impõe-se como o principal inimigo e a principal ameaça aos objectivos de aumentar o número de indivíduos que permitam afastar o perigo de extinção.

Para resolver este problema, como salientou hoje Pedro Vaz Pinto, é necessário criar equipas de fiscalização permanente no terreno, com meios técnicos e humanos adequados à tarefa e construção de bases de apoio.

Isto, porque sem essa garantia, não está afastado o cenário em que a única forma de encontrar palancas negras gigantes é nos livros, em filmes antigos e, entre outras exposições, nos aviões da TAAG.

Recorde-se que no ano passado foi criado um grupo interministerial denominado Comité Executivo para Implementação das Medidas de Protecção e Conversação da Palanca Negra Gigante.

Para o período que vai de Março a Junho, estão disponíveis cerca de 316 milhões de kwanzas para o Plano de Emergência do Programa de Protecção da Palanca Negra Gigante, como avançou igualmente hoje Vladimir Russo, o ambientalista que coordena a unidade técnica criada pelo Comité Executivo criado para salvar o antílope exclusivamente angolano.

Esta "task force" tem como objectivo definir um plano abrangente que garanta o salvamento definitivo da palanca negra gigante através de medidas legislativas e a definição da sua área territorial de protecção absoluta. In “Novo Jornal” - Angola

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