Há
10 anos, a palanca negra gigante, o antílope que só existe em Angola e “dá a
cara”, entre outras, à selecção nacional de futebol ou à transportadora aérea
de bandeira, a TAAG, estava à beira da extinção, com hipótese de estar mesmo
extinta, mas hoje a sua situação é de recuperação, embora os 200 exemplares em
estado selvagem não garantirem que o risco esteja afastado em definitivo
Esta foi a ideia de base
transmitida hoje no "workshop"
realizado em Luanda sobre o Programa de Protecção da Palanca Negra Gigante
dirigido pela Fundação Kissama, onde o seu director, Pedro Vaz Pinto, um dos
grandes responsáveis pelo regresso à vida desta especiosa espécie que se
distingue de todas as primas, as palancas negras africanas, pela dimensão dos
cornos, com mais de 1,5 m, e, não menos importante, uma mancha branca em torno
do olho que nas outras subespécies se prolonga até ao focinho.
Este antílope, cujo nome
científico é hippotragus niger variani,
é única de Angola e tem o seu território confinado naturalmente a áreas da
província de Malanje, tendo sido dada a conhecer ao mundo em 1909 por um engenheiro
inglês, Frank Varian, que trabalhava nos Caminhos-de-Ferro de Benguela, cujo
início de construção foi em 1903, para ligar o Lobito ao Luau, no Moxico.
Com mais de dois metros de
altura média, podendo mesmo chegar aos 2,50 m, e com entre 200 e 280 quilos, a
palanca negra gigante tem apenas nos machos a sustentação do seu nome, porque
as fêmeas são castanhas (na foto, um macho e uma fémea).
O seu habitat preferencial,
notam os estudos feitos entretanto, é constituído por locais próximos de cursos
de água, com arborização, sendo as manadas, em situação normal, constituídas
por 20 a 30 indivíduos, com um macho dominante, o que é comum noutras espécies
de antílopes, alimentando-se de ervas e folhas.
Durante anos, esta espécie foi
tida como extinta ou em situação de recuperação impossível devido ao baixo
número de indivíduos, o que impossibilitaria impedir os problemas comuns a
estas situação, resultantes dos problemas da consanguinidade que, normalmente,
leva as espécies a deixarem de ter capacidade reprodutiva suficiente para
garantir a sua sustentação.
A guerra, a caça furtiva, que
segundo Pedro Vaz Pinto, citado pela Angop, ainda hoje subsiste como perigo
principal para a palanca angolana, ou as constantes queimadas, foram
responsáveis pelo quase extermínio deste antílope.
Todavia, quase de forma
inexplicável, a espécie foi capaz de se aguentar no Parque Nacional de
Cangandala e reserva natural do Luando, na província de Malanje, onde os
espécimens existentes se dividem ainda hoje, 60 no primeiro e 140 no segundo.
Foi em 2005 que Pedro Vaz
Pinto, à frente de um grupo do Centro de Estudos e Investigação Científica
(CEIC) da Universidade Católica de Angola (UCAN), conseguiu provar que a
espécie ainda estava entre nós e que podia ser viável a sua recuperação, depois
de terem obtido provas, através de fotografias de uma manada, que não estava
extinta, embora não tenha ainda saído da Lista Vermelha das espécies ameaçadas
da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza)
Os cálculos feitos pela
Fundação Kissama apontam para que a guerra tenha devastado mais de 90 por cento
da população de palanca negra gigante, sendo apenas graças ao trabalho
desenvolvido na última década que a espécie passou de em perigo de extinção
para uma fase inicial de recuperação.
No entanto, a caça furtiva,
devido ao desconhecimento da sua importância pelas populações humanas locais
que a caçam para obtenção de carne para a alimentação diária, impõe-se como o
principal inimigo e a principal ameaça aos objectivos de aumentar o número de
indivíduos que permitam afastar o perigo de extinção.
Para resolver este problema,
como salientou hoje Pedro Vaz Pinto, é necessário criar equipas de fiscalização
permanente no terreno, com meios técnicos e humanos adequados à tarefa e
construção de bases de apoio.
Isto, porque sem essa
garantia, não está afastado o cenário em que a única forma de encontrar
palancas negras gigantes é nos livros, em filmes antigos e, entre outras
exposições, nos aviões da TAAG.
Recorde-se que no ano passado foi
criado um grupo interministerial denominado Comité Executivo para Implementação
das Medidas de Protecção e Conversação da Palanca Negra Gigante.
Para o período que vai de
Março a Junho, estão disponíveis cerca de 316 milhões de kwanzas para o Plano
de Emergência do Programa de Protecção da Palanca Negra Gigante, como avançou
igualmente hoje Vladimir Russo, o ambientalista que coordena a unidade técnica
criada pelo Comité Executivo criado para salvar o antílope exclusivamente
angolano.
Esta "task force" tem como objectivo
definir um plano abrangente que garanta o salvamento definitivo da palanca
negra gigante através de medidas legislativas e a definição da sua área
territorial de protecção absoluta. In “Novo Jornal” - Angola
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