A UCCLA irá ser o palco da
apresentação da obra "A Criança
Branca de Fanon" da autoria de Alberto Oliveira Pinto, no dia 16 de março, pelas 18h30.
A apresentação da obra estará
a cargo dos professores Jean-Michel Mabeko Tali e Tania Celestino Macedo.
Notas sobre Fanon:
Quando, nos anos de 1990, li
pela primeira vez Peau noire, masques blancs de Frantz Fanon, depressa me revi
na criança branca que, no Capítulo V, não hesita em quebrar o silêncio dos pais
e, apontando o dedo, bradar nos lugares públicos “Tiens, un nègre!” (“Olha, um
negro!”). De facto, essas situações ocorriam na Luanda da minha infância, nos
anos de 1960, em plena época em que o discurso político propalava a
“inexistência de racismo português” e a “integração multirracial” em Angola.
Trago bem presente na memória o olhar de soslaio dos colonos nos momentos em
que, pontualmente, um negro se sentava na mesa de um restaurante na qualidade
de cliente e em que, arriscando-me a admoestações dos adultos brancos do género
“está calado” ou “isso não se diz”, fui, como outros da minha idade, a criança
branca de Fanon.
Numa sociedade de racismo
encapotado, como era a da Angola colonial, muitas crianças brancas desnudaram
inocentemente - tal como a de Fanon e tal como a do conto de Hans Christian
Andersen, que proclamou na rua a verdade inquestionável de que “o rei vai nu” -
a falácia do mito do “anti-racismo português”. A leitura de Frantz Fanon
permitiu-me perceber ter eu próprio sido, em tempos, uma dessas crianças. Este
ensaio ego-histórico constitui, na esteira do meu já longo trabalho de
historiador, mais um convite à reflexão sobre essa falácia do “anti-racismo
português”, ainda hoje bem viva, e mesmo estranha e perversamente fomentada,
nas sociedades angolana e portuguesa.
Alberto Oliveira Pinto
Nota biográfica do autor:
Alberto [Manuel Duarte de]
Oliveira Pinto nasceu em Luanda, Angola, a 8 de janeiro de 1962. Licenciou-se
em Direito pela Universidade Católica Portuguesa, em 1986. É Doutorado e Mestre
em História de África pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde
colaborou como docente no Departamento de História. Lecionou igualmente noutras
universidades portuguesas. Presentemente é Investigador do Centro de História
da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e do CEsA - Centro de Estudos
sobre África e do Desenvolvimento do Instituto Superior de Economia e Gestão.
Como ficcionista publicou
diversos romances e é autor de múltiplos livros de ensaio.
Em 2016, foi presidente do
Júri do Prémio Internacional em Investigação Histórica Agostinho Neto da Fundação
António Agostinho Neto (FAAN). No mesmo ano foi, pela segunda vez, vencedor do
Prémio Sagrada Esperança 2016 com o ensaio inédito Imaginários da História
Cultural de Angola.
A entrada é livre.
Morada:
Avenida da Índia, n.º 110
(entre a Cordoaria Nacional e o Museu Nacional dos Coches), em Lisboa
Autocarros: 714, 727 e 751 -
Altinho, e 728 e 729 - Belém
Comboio: Estação de Belém
Elétrico: 15E - Altinho
Coordenadas GPS: 38°41’46.9″N
9°11’52.4″W
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