SÃO PAULO – A possibilidade de que a
navegação na hidrovia Tietê-Paraná seja interrompida depois do final da safra
de grãos deixa apreensiva a comunidade que vive dos serviços portuários. De
fato, a necessidade de se desviar água para os reservatórios das hidrelétricas
de Ilha Solteira e Três Irmãos, com o objetivo de garantir a geração de
energia, pode inviabilizar as operações na hidrovia, afetando o trabalho das
transportadoras de cargas e demais usuários do porto de Santos.
Geralmente, a navegação fica
interrompida de maio a novembro devido a um volume insuficiente de água, o que
acaba por favorecer as erosões. Sem água, as margens vão cedendo e assoreando o
leito do rio, o que, no futuro, exigirá obras e intervenções do governo do Estado
para retirar a terra excedente.
Hoje, o trecho mais raso da hidrovia
apresenta 3,1 metros de profundidade, enquanto as barcaças necessitam de pelo
menos três metros para trafegar totalmente carregadas e sem restrições. Se
houver qualquer redução, por menor que seja, fatalmente, o volume transportado
na hidrovia será reduzido, sobrecarregando os outros modais.
Nesse caso, não é difícil prever que
venham a ocorrer congestionamentos nos acessos rodoviários da Baixada Santista.
O que se espera é que as chuvas de verão estejam ajudando a elevar o nível dos
reservatórios e manter a normalidade do tráfego de barcaças na hidrovia. Além
disso, a safra de grãos de 2018 deverá ser 6,8% inferior à de 2017, segundo
estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que
pode contribuir para um melhor aproveitamento da navegação na hidrovia.
É de se lembrar que a hidrovia
Tietê-Paraná atende principalmente aos produtores agrícolas do Centro-Oeste e
parte de Minas Gerais, Rondônia e Tocantins. E que esse modal é fundamental
para o transporte de cargas em longas distâncias, pois, se comparado aos modais
rodoviário e ferroviário, consome menos combustível e polui bem menos. Sem
contar que registra um número inferior de acidentes e está menos sujeito à ação
de meliantes.
Além disso, a sua operação é de baixo
custo, se comparada à de outros modais. Ou seja, uma barcaça pode transportar
até 1,3 mil toneladas, volume que seria suficiente para lotar 25 caminhões.
Calcula-se que seus gastos equivalem à metade dos custos com uma ferrovia e um
terço daqueles com uma rodovia. Para tanto, porém, é necessário que o
transporte hidroviário – que é feito dentro do território nacional – não seja
tarifado. Afinal, se o caminhão não tem tarifa, a barcaça também não pode ter. Do
contrário, seria um contrassenso.
Também não se pode temer que o
transporte hidroviário possa funcionar como concorrente desleal do modal
rodoviário. Até porque o caminhão será sempre indispensável no transporte em
menores distâncias (ou seja, em distâncias inferiores a 600 quilômetros). Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é
presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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