SÃO PAULO – Depois de um
período de dez anos em que se mostrou totalmente acéfalo e à deriva, servindo
mais como fórum de debates ideológicos motivados pelo chamado “bolivarianismo”,
o Mercosul parece disposto a voltar às origens, depois que os presidentes de
Brasil e Argentina defenderam a flexibilização de suas regras. Entre os
principais objetivos do bloco estão formalizar o acordo com a União Europeia
(UE) e aumentar o intercâmbio com os Estados Unidos (EUA), o maior mercado do
planeta. Com relação à Venezuela, os dois dirigentes deixaram claro que aquele
país tem até 2 de dezembro para cumprir as exigências do bloco sob pena de
suspensão e outras sanções.
O desvirtuamento do que reza o
Tratado de Assunção, que criou o bloco em 1991, começou em 2006 com a
desnecessária adesão da Venezuela, pois o vínculo comercial daquele país com os
demais membros já estava amparado pelo Acordo de Complementação Econômica (ACE)
nº 59/2004 da Associação Latino-americana de Integração (Aladi). Depois, a
Argentina, desprovida de créditos internacionais, tratou de adotar medidas
restritivas às importações que contrariavam as regras do Mercosul. Ou seja,
durante essa década perdida, não se viu nenhuma iniciativa para que o bloco se
consolidasse como união aduaneira.
Reconhecendo o fracasso dos
seus antecessores, os presidentes Michel Temer e Mauricio Macri acabam de
assinar um convênio que pretende simplificar os procedimentos de comércio
exterior para micro e pequenas empresas, a fim de aumentar o comércio
bilateral, que é significativo, mas que já poderia ter alcançado números mais
relevantes, ainda que o país vizinho constitua o terceiro destino das
exportações brasileiras, atrás apenas da China e dos EUA.
Basta ver que de janeiro a
setembro deste ano, as exportações brasileiras para a Argentina cresceram 0,3%
em relação a igual período do ano passado, chegando a US$ 9,9 bilhões. Em
contrapartida, o Brasil importou menos 18,6% da Argentina entre janeiro e
agosto, totalizando US$ 6,6 bilhões.
No plano político, ao Mercosul
só resta aguardar o fim do governo de Nicolas Maduro na Venezuela que insiste
em continuar a ver nos EUA a fonte de todos os males do mundo, ainda que a
China esteja quebrando recordes de vendas de seus produtos para o mercado
norte-americano. Embora a China seja governada oficialmente por um regime
comunista, o comércio bilateral entre esse país e os EUA supera a incrível
marca de US$ 600 bilhões por ano. Sem contar que a China é hoje o maior mercado
agrícola dos EUA.
Como negócios são negócios
(business is business), o Mercosul começa a articular a adesão da Bolívia que,
embora também siga a cartilha “bolivariana”, tem mantido a inflação e os gastos
públicos sob controle, além de desfrutar de boas relações com Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai. Milton Lourenço
– Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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