SÃO PAULO – Em dezembro de 2016, expira
o prazo que a Organização Mundial do Comércio (OMC), com sede em Genebra, tem
para decidir sobre o subparágrafo do artigo 15 do protocolo de adesão da China
ao organismo. Ou seja, seus membros terão de decidir se a China pode ser
reconhecida como economia de mercado.
Como se sabe, essa é uma questão muito
complicada em razão dos muitos interesses nacionais em jogo. A rigor, a China
não é uma economia de mercado, mas uma nação que pratica um capitalismo de
Estado, ou seja, seu governo costuma conceder muitos subsídios às exportações
que faz, colocando no mercado mundial produtos a baixo custo. Esses produtos,
quando entram em países menos desenvolvidos, acabam, muitas vezes,
inviabilizando as vendas dos similares nacionais, levando fábricas ao
fechamento e trabalhadores ao desemprego. É o que se chama eufemisticamente de desindustrialização.
Foi o processo que o Brasil passou nos
últimos três governos e ainda passa, chegando à situação crítica de hoje em que
só na região do ABC paulista, a mais industrializada do País, 62 operários são
em média demitidos por dia. É claro que não se pode culpar a China de ter
causado todos esses problemas nem fazer desse país o bode expiatório de todos
os males que afligem a nação brasileira.
Culpa mais cabe aos formuladores da diplomacia
comercial externa brasileira que, a pretexto de diminuir uma possível
dependência em relação a Washington, optaram por uma cooperação Sul-Sul, ou seja,
substituíram o intercâmbio com os países desenvolvidos, a cooperação Norte-Sul,
por um relacionamento com países da América Latina e Caribe, África e Ásia.
Com isso, só a título de exemplo,
muitas máquinas e equipamentos brasileiros perderam espaço no mercado
norte-americano, o maior do planeta. Em compensação, investiu-se bastante na
exportação de commodities, levando o
País a um status semelhante ao que
tinha à época colonial: a de fornecedor de matérias-primas. Hoje, o Brasil
exporta bastante petróleo, café, suco de laranja, minério de ferro, soja e
alumínio, mas, se por um lado esse comércio ajuda a manter o equilíbrio das
contas, por outro torna o País dependente dos preços estabelecidos
internacionalmente. Obviamente, o Brasil poderia ter vendido commodities, sem deixar de exportar seus
produtos de valor agregado.
E a China? Não se pode ignorar o
mercado chinês, que hoje necessita muito de alimentos. Por isso, o Mercosul,
com Brasil e Argentina à frente, deveria negociar um acordo para minorar os
efeitos negativos da concorrência dos produtos chineses na indústria dos países
do bloco. Sem esse acordo, reconhecer a China como economia de mercado é
aceitar passivamente a desindustrialização do Mercosul e suas incalculáveis
consequências sociais.
Afinal, na prática, sendo a China reconhecida
como economia de mercado, não haverá como recorrer à OMC para a imposição de altas
tarifas antidumping contra produtos
de origem chinesa. Ou denunciar uma prática muito utilizada pela China de
utilizar terceiros países para fugir de medidas antidumping. Eis o tamanho do imbroglio
que aguarda a OMC em dezembro. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:www.fiorde.com.br
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