A
secretária-geral do Secretariado Permanente do Fórum Macau entende que para que
a cooperação entre a China e os países lusófonos cresça da melhor forma é
necessária a intervenção de instituições privadas, nomeadamente bancos e outras
entidades financeiras. Vicente de Jesus Manuel partilha da mesma opinião,
acrescentando que o facto de os países decidirem em conjunto os projectos mais
viáveis para serem financiados poderá minimizar o endividamento
A implementação da estratégia
“Uma Faixa, Uma Rota” no plano de investimentos do fundo associado ao Fórum
Macau e a avaliação da capacidade produtiva de cada país “é uma alternativa para
minimizar os endividamentos porque os países vão identificar, em conjunto, os projectos
[mais viáveis] e os meios de financiamento da sua exploração. Se uma das partes
achar que tem capacidade para financiar, pode fazê-lo através de investimento
directo”, frisou o secretário-geral adjunto do Secretariado Permanente do Fórum
Macau.
Vicente de Jesus Manuel
entende que, deste modo, “haverá maior fluxo e maior empreendedorismo por parte
do sector empresarial”. Além disso, existe a Banca que deverá “desempenhar um
papel essencial enquanto instituição financeira”.
A secretária-geral do
Secretariado Permanente do Fórum disse estar de acordo salientando que a
cooperação entre a China e os países lusófonos tem de funcionar dependendo das
regras do mercado e numa base comercial. Assim, defendeu Xu Yingzhen, “se
queremos que a cooperação económica e comercial entre a China e os países de
língua portuguesa se desenvolva de forma mais sustentável é preciso mais
participação do sector privado, tanto do sector financeiro como das empresas”.
Xu Yingzhen mostrou-se optimista,
referindo que “as instituições financeiras têm um interesse cada vez maior” na
cooperação entre o Continente e a lusofonia. “O Banco da China, o Banco do
Comércio e da Indústria e o Banco de Construção já têm sucursal no Brasil. Além
disso, tenho de mencionar que o Banco de Desenvolvimento da China já tem uma
sucursal no Brasil, através da compra de um banco local”. O Banco da China irá
em breve abrir uma dependência em Angola.
Mas o contrário também
acontece. “Os bancos dos países lusófonos já têm sucursais na China. O Banco do
Brasil tem uma sucursal em Xangai e é o primeiro banco latino-americano a ter
representação na China”, exemplificou.
A questão do envolvimento dos
privados vai estar no centro do debate durante a 5ª Conferência Ministerial do
Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de
Língua Portuguesa (Macau) que Xu Yingzhen espera que venha a “intensificar ainda
mais a cooperação”. “Recordo que o tema deste fórum é ‘rumo à consolidação das
relações económicas e comerciais entre a China e os países de língua
portuguesa’. Os conceitos da estratégia ‘Uma Faixa, Uma Rota’ que vamos
assimilar nesta conferência também podem ser um ponto atractivo”.
Nas quatro conferências
anteriores houve “êxitos muito grandes”, destacou a secretária-geral.
“Conseguimos um crescimento muito rápido do comércio entre a China e os países
lusófonos porque no fim de 2013 o comércio bilateral representava 11.000 milhões
de dólares e actualmente já se cifra em 132.600 milhões. No ano passado
sofremos uma redução de 9,850 milhões de dólares, ainda assim, em comparação
com o ano em que estabelecemos este Fórum, o crescimento foi bastante notável”,
salientou.
Há hoje cerca de 400 empresas
chinesas com presença nos países lusófonos, como é o caso do Banco da China,
apontou Xu Yingzhen. Ao mesmo tempo, a mesma responsável frisou que desde a
primeira Conferência “ampliou-se muito o âmbito da cooperação (...) porque na
primeira Conferência os ministros acordaram desenvolver sete áreas e na última
os campos de cooperação diversificaram-se, já eram 17”.
Apesar de as trocas comerciais
nunca terem alcançado a meta dos 160.000 milhões de dólares que tinha ficado
defina no último Plano de Acção, a secretária-geral do Fórum mostra-se
optimista, apontando como principal motivo “o ambiente do comércio
internacional” que “está em baixa, e o preço dos produtos que está a baixar
muito”. “Tenho muita esperança que o comércio se possa reactivar com o
melhoramento do ambiente do comércio internacional”, referiu, acrescentando que
“o mercado existe sempre e as trocas comerciais já têm uma base muito sólida”.
“As empresas da China têm contactos muito estáveis com os países de língua
portuguesa. Assim que melhore o ambiente do comércio internacional, comércio
bilateral vai reactivar-se e recuperar a tendência de crescimento”.
Brasil
com “muitas potencialidades”
Ao nível do investimento, Xu
Yingzhen acredita que o Brasil “pode ser um país com muitas potencialidades” o
que não significa “que as empresas chinesas não vão olhar para outros países”.
No que respeita aos
empréstimos, o montante de 1.800 milhões de renminbis outorgado na última
Conferência Ministerial “já foi concedido totalmente”. “A China cumpriu os
compromissos”, sublinhou a mesma responsável. Este apoio foi destinado
sobretudo aos países africanos e a Timor-Leste.
Vicente de Jesus Manuel
garantiu que os projectos que recebem apoio são discutidos a nível bilateral,
apresentando alguns exemplos de planos que obtiveram financiamento. “Em
Moçambique temos o Instituto Confúcio, temos o centro de formação
técnico-profissional em Angola, o Centro de distribuição de energia hidráulica.
(...) Em Timor-Leste já foi financiada uma escola e, no caso da Guiné-Bissau
temos o centro de saúde”.
Neste momento há três projectos
em processo de aprovação de financiamento e em reserva, num banco de dados, estão
cerca de 20 projectos para análise futura. Xu Yingzhen não conseguiu dar dados
concretos sobre os três projectos actualmente em análise, limitando-se a
afirmar que não é possível afirmar “com segurança, que eles venham a ser aprovados”.
Ao nível de áreas de
investimento, as infra-estruturas, a indústria manufactureira e a cooperação
agrícola tendem a ter prioridade.
No que respeita às dúvidas apresentadas
pelas Pequenas e Médias Empresas (PME) que pretendem candidatar-se aos apoios,
que precisam normalmente de ir a Pequim entregar documentação, Jackson Chang, presidente
do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM),
garantiu que “no futuro, as PME poderão entregar os documentos ao IPIM e depois
eles serão direccionados”.
Além disso, Jackson Chang
disse esperar que um dia “o Banco de Desenvolvimento da China possa criar um
gabinete em Macau para ajudar os empresários a fazer a candidatura ao fundo”. Inês Almeida – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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