SÃO PAULO – Não é preciso ser um globetrotter para se saber que o
comércio exterior que se praticava há dez ou vinte anos não existe mais e que
hoje o planeta caminha em direção da formalização de pactos regionais,
colocando por terra a esperança que havia de que grandes acordos multilaterais,
intermediados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e regidos por
negociações de tarifas e controle de fronteiras, pudessem ser assinados e seguidos
por todos. Parece que o pragmatismo chinês de defender prioritariamente seus
próprios interesses, ocupando espaços sempre que o interlocutor o permita, é o
que vai prevalecer daqui para frente.
Diante disso, é de se elogiar o
pragmatismo adotado pela política externa comercial do atual governo
brasileiro, que parece colocar em primeiro lugar os interesses do País,
deixando para trás uma mentalidade retrógada que procurava edulcorar uma
possível liderança do País por meio de um relacionamento com outros governos
com base em financiamentos a juros maternais pelo Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Aparentemente, o pragmatismo chinês
começa a influenciar os responsáveis em Brasília pela diplomacia comercial.
Se alguma dúvida resta quanto à
eficiência dessa política, basta lembrar que o Produto Interno Bruto (PIB) da
América Latina, que na década de 80 superava o da China em 150%, em 2013 representava
apenas 60% do PIB chinês. Isso mostra a diferença de crescimento entre as duas
regiões nos últimos trinta e seis anos. E mostra também que esse crescimento
desenfreado da China não foi obtido com a exportação de produtos básicos, mas com
a venda de produtos de valor agregado, que são aqueles que geram os empregos
que acabam movimentando também o mercado interno.
Sem entender esse fenômeno, os três
últimos governos brasileiros isolaram o País, deixando-o despreparado para
atuar nesse novo modelo de comércio internacional. Como o Mercosul vai para
onde o Brasil for, o bloco sul-americano também se isolou do mundo. Basta ver
que, dos 400 acordos firmados nos últimos dez anos, não mais que cinco
envolveram o Brasil e o Mercosul.
Além disso, os três últimos governos se
recusaram peremptoriamente a discutir questões regulatórias internacionais que hoje
já se tornaram imperativas, deixando de endossá-las por motivos ideológicos que
se justificariam se o mundo ainda vivesse ao tempo da Guerra Fria (1945-1991).
Entre essas questões, estão medidas de padronização dos produtos, proteção do
consumidor, regras de investimento, competitividade, transparência, barreiras
técnicas e sanitárias.
Portanto, para começar a mudar o status internacional do País, o atual
governo precisa se inspirar não só no pragmatismo chinês como forma de atuação,
mas também nos modelos norte-americano e inglês em que são os empresários que
apontam os caminhos a seguir, cabendo aos governantes viabilizá-los, e não o contrário.
Em outras palavras: o comércio exterior brasileiro precisa deixar para trás o
quanto antes uma legislação e um estilo de atuação de meados do século XX, se
pretende competir com os países que já estão no século XXI. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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