SÃO PAULO – Se o novo presidente quiser
mostrar serviço, em vez de extinguir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior (Mdic), passando suas atribuições ao Ministério das
Relações Exteriores, como já foi cogitado, a pretexto de eliminar órgãos e cargos
desnecessários, deve começar por acabar com a função de assessor especial da Presidência
da República para assuntos internacionais. É de se lembrar que foi exatamente a
atuação desse tipo de assessor que, nos últimos treze anos, levou o nosso
comércio exterior à situação crítica de hoje.
Com o Itamaraty sem a função primordial
de traçar a política externa, os três últimos governos apostaram na orientação
do assessor especial, que acabou por redundar em rotundo fracasso. Como se
sabe, o governo brasileiro, ao lado do governo argentino, trabalhou com afinco
em favor do fracasso das negociações para a formação da Área de Livre Comércio
das Américas (Alca), que garantiria aos produtos nacionais acesso ao mercado
norte-americano, que é constituído por cerca de 300 milhões de consumidores,
que gastam mais de US$ 2,2 trilhões por ano. Em contrapartida, preferiu se
aliar aos inimigos dos EUA, ao aderir à política Sul-Sul, ao lado dos seus
parceiros bolivarianos da América Latina e de países subdesenvolvidos da Ásia e
da África.
O resultado dessa política equivocada é
que a participação dos EUA no total das exportações brasileiras caiu de 25,7%
em 2002 para 6% em 2014 (US$ 13,7 bilhões de um total de US$ 225,1 bilhões). Ou
seja, a parcela do Brasil nas compras norte-americanas está ao redor de 1%, um peso
extremamente insignificante. Mesmo assim, nos últimos anos, o Brasil se deu ao
luxo de ser uma das pouquíssimas nações com as quais os EUA têm superávit
comercial.
Ao mesmo tempo, o governo brasileiro
fez vistas grossas ao que se passava no resto do mundo: nos últimos 15 anos,
foram assinados mais de 400 acordos comerciais, mas o Brasil só mantém tratados
com a Índia e Israel e mais três em fase de ratificação com Palestina, Egito e
União Aduaneira da África Austral (Sacu, na sigla em inglês). Só para se ter
uma ideia da paralisia que marcou a nossa política comercial externa nos
últimos tempos, basta dizer que México e Chile têm acordos cada um com mais de
50 países e blocos.
Como reverter essa situação? Além de
excluir a influência político-partidária da questão comercial, é preciso, em
poucas palavras, acabar com esse isolamento, reduzindo o custo Brasil para
incentivar as exportações. Ou seja, é preciso diminuir a carga tributária,
melhorar a infraestrutura logística e praticar isonomia nos incentivos fiscais.
Exportando-se mais (tanto produtos
básicos como semimanufaturados e manufaturados), será possível gerar recursos
para importar mais produtos manufaturados, obtendo-se acesso à inovação
tecnológica, o que permitirá a produção de outros manufaturados que, por sua
vez, também serão exportados. Enfim, é preciso começar tudo de novo em termos
de política comercial externa. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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