Francisco Noa, doutorado em
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, docente nas universidades Eduardo
Mondlane, de Moçambique, e Agostinho Neto, de Angola, entre outras, ensaísta e
crítico literário, Reitor da Universidade Lúrio. Ocupou entre outros cargos o
de Vice-Reitor do Instituto Superior de Ciências e Tecnologias de Moçambique
(ISCTEM), Director Executivo e Investigador do Centro de Estudos Sociais Aquino
de Bragança e de Director da Escola Superior de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Politécnica.
Em entrevista, o autor das obras Literatura Moçambicana: Memória e Conflito,
1997; A Escrita Infinita, 1998; Império, Mito e Miopia,
2002; A Letra, a Sombra e Água, 2008; Perto do fragmento, a totalidade. Olhares
sobre a literatura e o mundo, Prémio BCI de Literatura de 2014,
falou-nos sobre a sua trajetória profissional, os estudos das Literaturas
Africanas, a produção literária e jornalística em Moçambique, das suas
perspectivas, interrogações e possíveis soluções para questões ligadas a
Educação, a cultura e comunicação social.
Porém, Noa considera “a literatura é um sistema vasto que não se
reduz apenas à poesia, ao conto e ao romance. É uma enorme cadeia da qual
participam diferentes possibilidades de realização textual, onde devem estar
presentes a criatividade, a imaginação, a sensibilidade e, sobretudo, uma
relação estruturante, edificante e criativa com a palavra.”
- Amosse Mucavele:
Como começou o seu contacto com a leitura?
- Francisco Noa:
Uma verdadeira iniciação, num misto de revelação e emoção. Algo que me
acompanha até hoje. Aprendi a ler antes de entrar na escola oficial. E, a
partir daí, tudo o que estava escrito prendia a minha atenção. Lembro-me, por
exemplo, que, andando de machimbombo, gostava de ficar à janela de modo a ler,
em voz alta, os letreiros das lojas e dos edifícios públicos.
- Amosse Mucavele:
No início, o que buscava enquanto leitor?
- Francisco Noa:
O que busco ainda hoje: o poder, o sortilégio e o significado das palavras. Com
esses significados aprendi a viver novas experiências, deslocando-me do mundo
em que me encontrava, ou fazendo com que esse mesmo mundo adquirisse um outro
significado, um outro sentido, ao qual não chegaria de outro modo.
- Amosse Mucavele:
Como chegou a ser crítico literário? Foi um sonho, uma aventura, ou foi a única
forma que encontrou para se tornar independente?
- Francisco Noa:
As primeiras leituras foram leituras sobretudo de prazer. Diria mesmo
sensoriais. Confesso que é algo que também procuro que se mantenha. Eram livros
de aventuras, que apelavam à imaginação, à fruição e preencheram a minha
infância e juventude. A leitura só faz sentido para mim se me dá, antes de
tudo, prazer, fruição. O sentido crítico nasceu na sala de aulas, sobretudo no
ensino secundário, com a interpretação dos textos, alguns deles obrigatórios,
outros nem por isso. Eram textos, ao mesmo tempo sedutores e profundos, de
autores como Luís Bernardo Honwana, Luandino Vieira, José Craveirinha,
Pepetela, Mutimati Barnabé João, que faziam com que nos descobríssemos a nós próprios.
- Amosse Mucavele:
Foi a primeira vez que o Prémio BCI foi atribuído a “um género pouco explorado
pelos escritores nacionais”, o ensaio. Este prémio tem um significado especial?
- Francisco Noa:
Em primeiro lugar, é um prémio à leitura. O ensaio é um mecanismo que
estabelece um continuum com a literatura, ampliando-a,
aprofundando-a, recriando-a ad infinitum. Tenho
sido um defensor irredutível da ideia de que não existe escrita sem leitura.
Paradoxalmente, o que muitas vezes está a ser promovido são obras de autores
onde o défice de leitura é manifesto.
Em segundo lugar, este prémio é a celebração de uma ideia
alargada e moderna da literatura. A literatura é um sistema vasto que não se
reduz apenas à poesia, ao conto e ao romance. É uma enorme cadeia da qual
participam diferentes possibilidades de realização textual, onde devem estar
presentes a criatividade, a imaginação, a sensibilidade e, sobretudo, uma
relação estruturante, edificante e criativa com a palavra. Só uma visão
estreita e conservadora pode subtrair o ensaio desse sistema. E, finalmente,
considero que houve muita ousadia do júri em quebrar um ciclo de premiação que
não saía dos géneros do costume – a ficção e a poesia.
- Amosse Mucavele:
Será este prémio um contributo para se romper o silêncio acerca desta
disciplina literária – o ensaio – tão pouco cultivada em Moçambique?
- Francisco Noa:
Não tenho quaisquer dúvidas. Não só de quebra do silêncio, terrivelmente
ensurdecedor, mas também de valorização e legitimação de um género fundamental
para a existência da literatura. O ensaio situa-se numa fronteira móvel e
resvaladiça, mas extremamente fascinante e apelativa, entre a criação e a
análise, ou entre a experimentação e a teoria.
- Amosse Mucavele:
A poesia, em especial a de Rui Knopfil, José Craveirinha, Luís Carlos Patraquim
e Armando Artur parece ter sido fundamental na sua trajectória de leitor e
ensaísta. Qual é o lugar da poesia na sua vida quotidiana?
- Francisco Noa:
Num texto, já bastante antigo, dos anos 40 ou 50, o escritor anglo-americano,
T. S. Eliot, fala da perda da poesia na vida moderna. Estou globalmente de
acordo com ele. O nosso quotidiano é demasiado duro, diria mesmo agressivo,
exigente e desencantado, reduzindo drasticamente a nossa capacidade de
contemplação e de abstracção. Mas, mesmo assim, penso que temos que ter arte
suficiente para podermos, nas pequenas coisas de que é feito o nosso
quotidiano, encontrar a poesia. A poesia, afinal, tem a ver com a nossa capacidade
de nos deslumbrarmos. E é possível, tal como os poetas profissionais,
encontrarmos fascínio na natureza que ainda nos rodeia, nas pessoas com que nos
cruzamos, nas falas que ouvimos, no olhar de uma criança, no corpo e no sorriso
das mulheres, nos sons da noite, enfim…
- Amosse Mucavele:
Em Moçambique o número de ensaístas e de críticos literários contam-se pelos
dedos., denotando uma falta de tradição do ensaio e muita tradição de “poesia”
e “prosa”?
- Francisco Noa:
Na verdade, o ensaio também é prosa. E nada obsta a que ele nos apareça em
forma de verso. Mas o que temos é essa visão redutora e castradora da
literatura. Por outro lado, confrontamo-nos com essa ausência de leitura
sistemática e viciosa, mas sobretudo questionadora, aquela leitura que procura
devassar o texto lido, na ânsia de continuá-lo, de conceder-lhe e ampliar-lhe
sentidos, de explorar-lhe os limites, através da crítica e do ensaio. E, julgo
ser a crítica jornalística aquela que mais falta faz, quer para questionar, com
competência, a qualidade de algumas obras, quer para educar a sensibilidade
estética dos leitores, sobretudo aqueles que estão em processo de formação, de
aprendizagem. Infelizmente há muitos que se consideram escritores, mas mal
fizeram a aprendizagem da leitura, o que é grave! Por isso, a crítica
jornalística tem que ser feita por profissionais, por pessoas que tenham um
profundo conhecimento da literatura, dos livros, que amam os livros e que
procuram preservar o que eles têm de melhor.
- Amosse Mucavele:
O professor é um homem rico de ideias, diversificado. Para si, em que reside
essa interdisciplinaridade, esse olhar clínico, essa vontade de ver e depois
reflectir?
- Francisco Noa:
Tenho que reconhecer que tudo isso, ou quase, provém da leitura. Muita leitura!
Viciosa, obsessiva, às vezes. É certo que cada vez mais o espaço da leitura,
devido a múltiplas obrigações, não ocorre na quantidade e na qualidade que
gostaria. No entanto, uma curiosidade quase infantil e uma inquietação
intelectual permanente levam-me a diversificar bastante as minhas leituras o
que, naturalmente, alarga e tonifica a minha visão do mundo. Penso que o facto
de também ter, acredito eu, uma imaginação fértil, distende assinalavelmente as
minhas possibilidades de interpretar os textos e o mundo que me rodeia.
- Amosse Mucavele:
Jacques Derrida, Deleuze, Heidegger, Rousseau, Kierkegaard, Ortega y Gasset,
Shopenhauer, W.B enjamin, são filosófos, escritores e poetas que dedicaram
parte da sua obra a pensar a literatura e a arte. Em que medida uma obra
filosófica produz efeitos na literatura?
- Francisco Noa:
Bom, na verdade, as primeiras reflexões sobre a literatura foram feitas por
filósofos. Refiro-me, neste caso, a Platão e Aristóteles longo dos séculos
foram os filósofos que deram um contributo decisivo para o alargamento e
adensamento interpretativo e teórico da literatura. Há, obviamente, uma
dimensão filosófica intrínseca da literatura, enquanto arte de linguagem, da
palavra e exercício do pensamento, que atrai, inevitavelmente, os filósofos. Como
sabemos, a filosofia é um espaço permanente de questionamento, de crítica e de
escavação da existência, do mundo e do homem, tal como a própria literatura.
- Amosse Mucavele:
O jornalismo de hoje detesta e aniquila o exercício da crítica cultural. Estou
a lembrar-me das páginas do jornal Domingo (Dialogo), Revista Tempo (Gazeta de
Artes e Letras), nas décadas 80 e 90, onde desfilaram nomes sonantes do nosso
jornalismo cultural, como Calane da Silva, Luís Carlos Patraquim e Nelson
Saúte. O jornalismo cultural morreu? Faz sentido falarmos de jornalismo
cultural nos diários e semanários de hoje?
- Francisco Noa:
Penso que faz e fará sempre sentido. Temos claramente problemas sérios e
gravíssimos de falta de qualidade, falta de profissionalismo e de
comprometimento, mas isso deve constituir um desafio, quer pela tradição já
existente, quer pelas exigências da própria arte e da cultura em geral. O
americano Alan Bloom fala-nos da predominância crescente de uma cultura
inculta, cada vez mais global e ostensiva. Portanto, todos quantos estão à
frente desses meios de comunicação devem tomar consciência da importância do
jornalismo cultural e apostar em pessoas, sobretudo jovens, que possam
realmente fazer a diferença. Mesmo assim, não posso deixar de assinalar o
esforço que tem sido feito, aqui no país, para manter viva essa actividade, em
alguns casos com qualidade aceitável.
- Amosse Mucavele:
A crítica especializada não tem mais espaço no jornalismo actual, a internet
surge como espaço predilecto para esta actividade criativa, será que a internet
criou um novo paradigma?
- Francisco Noa:
Não tenho dúvidas de que a
internet, longe de ser um problema para a criação e para a crítica, abre
possibilidades e apresenta desafios gigantescos, que só com o tempo vamos
sabendo explorar. Umberto Eco faz referência a isso, num artigo relativamente
recente, explicando justamente que a internet não ameaça a existência dos
livros e da literatura. O importante é que saibamos explorar esse filão imenso,
essa ferramenta extraordinária, com inteligência, criatividade e decência.
- Amosse Mucavele:
A internet tornou-se a ponte de afectos do século, estimula a produção, cria
possibilidades de troca, reorganiza as relações entre o escritor, o leitor, o
crítico e o criticado. O maior desafio que, nos nossos dias, se apresenta ao
escritor, ao intelectual contemporâneo é entender que a leitura deixou de ser
um acto silencioso e individual e passou a ser um acto social?
- Francisco Noa:
A leitura foi sempre um acto social. Sempre. Mesmo quando, paradoxalmente, ela
se realiza como exercício solitário e silencioso. E a socialização manifesta-se
na troca de livros, nas tertúlias, nas discussões públicas, na reescrita dos
livros através da crítica e do ensaio, nos comentários, enfim… O que a internet
propicia é precisamente a globalização dessa socialização.
- Amosse Mucavele:
Na internet multiplicam-se as revistas, sítios e blogs independentes, como são
os casos da Literatas, Soletras (Moçambique), Musarara, Cronópios (Brasil),
Jornal Cultura (Angola), Triplov (Portugal), só para citar alguns. Podemos
afirmar que estas iniciativas se configuram como catalisadores de um novo
jornalismo cultural?
- Francisco Noa:
Sem dúvida. Já me tinha referido a isso antes. Julgo serem a tradução de uma
enorme e generalizada curiosidade e irreverência intelectual entre os jovens, o
que é de saudar. Claro que é necessária uma orientação, um acompanhamento no
sentido de assegurar a qualidade e a sustentabilidade dessas iniciativas.
- Amosse Mucavele:
Alguém afirmou o seguinte: “o jornalista tem de ler o mínimo de jornalismo e o
máximo de literatura, é a literatura que lubrifica a língua“. Como avalia a
qualidade do nosso jornalismo na sua generalidade, tendo em conta o número de
jornais, televisões, rádios, escolas e universidades. Há avanços?
- Francisco Noa:
Não nos esqueçamos que algumas das maiores referências da nossa literatura
provêm do jornalismo, como são os casos, de João Albasini, Noémia de Sousa,
José Craveirinha, Rui Knopfli, Luis Carlos Patraquim, Albino Magaia, Mia Couto,
entre outros. Hoje em dia, temos uma proliferação de meios de comunicação,
sobretudo dos audiovisuais, onde o cuidado com a língua e com a escrita é quase
inexistente. E, isso é muito preocupante, pois, esses meios são verdadeiros
veículos de comunicação de massas, que atingem vastas camadas da população
moçambicana. E os meios de comunicação social não servem só para informar, mas
também para educar. Apesar do trabalho que desempenham, julgo que é preciso
investir de forma séria e consequente na qualidade desses profissionais.
- Amosse Mucavele:
Na contracapa de Entre o Índico e o Atlântico,
da Sara Jona, O professor Francisco Noa afirma “estamos, pois, perante uma obra
que, apesar de traduzir intervenções em contextos diferenciados, no tempo e no
espaço, mantém um fio condutor, que se traduz no olhar inconformado e
interpelativo com que a autora busca sentidos em relação ao mundo que a rodeia,
quer em relação aos livros que já são, em si mesmos, uma interpretação das
pequenas e grandes questões do nosso tempo”. O que mais lhe chama a atenção na
literatura moçambicana actual?
- Francisco Noa:
Uma certa avidez em registar, crítica e criativamente, as atribulações do nosso
quotidiano que, como sabemos, tem uma dimensão quase épica, naquilo que contém
de imprevisível e desconcertante. Mas também de muito humano ou, se quisermos,
de desumano. Se isto é mais notório na ficção, a nível da poesia é-o
claramente. As incertezas em relação ao tempo que vivemos estão lá muito
presentes.
- Amosse Mucavele:
Porquê ler?
- Francisco Noa:
Para existir. Existimos porque lemos. Não só livro é certo, pois é preciso
saber ler a natureza, o mundo, a realidade à nossa volta, as pessoas que nos
rodeiam, os inúmeros fenómenos de que é feito o nosso quotidiano. E, essa
leitura é mais profunda e gratificante se formos leitores sistemáticos de
livros. Sejam eles impressos ou digitais. Só a leitura nos confere competências
intelectuais únicas. Além de nos tornar linguisticamente proficientes,
alargando as nossas capacidades expressivas e comunicativas. Por outro lado,
alarga o nosso campo de referências e os nossos horizontes cognitivos e
culturais. Além de que nos ensina a questionar com profundidade. O que,
consequentemente, nos torna melhores profissionais e cidadãos mais competentes.
- Amosse Mucavele:
Quais são os principais desafios para o desenvolvimento do nosso sistema
nacional de educação?
- Francisco Noa:
Fazer com que as crianças moçambicanas, no fim de 4 ou 5 anos de escolaridade
saibam ler, escrever, fazer cálculos e raciocinar correctamente. Depois disso,
tudo o resto há-de acontecer por si. Sobretudo, o desenvolvimento real e
sustentável do país. Obviamente, isso implica, entre outras coisas, vontade
política, visão, coragem, compromisso, seriedade, honestidade, competência e
determinação. Não esqueço naturalmente a imprescindibilidade de recursos
humanos, financeiros, materiais, tecnológicos e infraestruturais. Estou
esperançoso que as novas autoridades do sector consigam, de uma vez por todas,
fazer a diferença.
- Amosse Mucavele:
Se pudesse recomendar um livro ao presidente da República e ao líder da Renamo.
Qual seria?
- Francisco Noa:
Não só a essas duas destacadas figuras, mas a muitas outras, sobretudo do meio
político, empresarial e intelectual. Trata-se de um livro de uma senhora
camaronesa, Axelle Kabou, intitulado E se África recusasse o
Desenvolvimento? Julgo
que o título fala por si.
- Amosse Mucavele:
Qual é o autor moçambicano a que se deveria prestar mais atenção, neste
momento?
- Francisco Noa:
Penso que há vários, sobretudo jovens com um grande potencial. Espero não estar
a ser injusto para outros, mas gostaria de destacar: Lucílio Manjate, Sangare
Okapi, Hélder Faife, Alex Dau, Clemente Bata, Andes Chivengue, Nelson Lineu.
Infeliz e dramaticamente continua deficitária a presença feminina. Amosse Mucavele – Moçambique In “Palavra Comum” – Galiza
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Francisco Pedro dos Santos Noa - Natural de Inhambane, 22.05.1962, Moçambique. 1982- Bacharelato no Curso de Formação de Professores de
Português/Inglês 10ª e 11ª classes Universidade Eduardo Mondlane – Maputo; 1991 - Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas - Estudos
Portugueses Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (F.C.S.H.) Universidade
Nova de Lisboa; 1995 - Mestrado em Estudos Literários Comparados com a tese
Itinerário Poético de Rui Knopfli. A Outra Vertente da Literatura Moçambicana.
F. C.S. H. - Universidade Nova de Lisboa; 2001 - Doutoramento em Literaturas
Africanas de Língua Portuguesa com a tese Literatura Colonial. Representação e
Legitimação – Moçambique como invenção literária F.C.S.H. – Universidade Nova
de Lisboa. Autor de quatro livros de ensaios (Literatura Moçambicana: Memória e
Conflito, 1997; A Escrita Infinita, 1998; Império, Mito e Miopia, 2002; A
Letra, a Sombra e Água, 2008) e de vários artigos em publicações nacionais e no
estrangeiro. Professor, Consultor na área da educação. Correio eletrónico: francnoa@yahoo.co.uk
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