Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 29 de setembro de 2013

Premonições

 
Premonições de uma Mulher falecida em 1993, guião da actual realidade portuguesa.
 
"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".
 
 
 
"A sua influência na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"
 
"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".
 
"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".
 
"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".
 
"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"
 
"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir". Natália Correia – Portugal
 

 
Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.
 
Natália de Oliveira Correia - (Fajã de Baixo, São Miguel, Açores, 13 de Setembro de 1923 - Lisboa, 16 de Março de 1993). Poetisa, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista, editora e activista social.
Tomou parte activa nos movimentos de oposição ao Estado Novo, tendo participado no MUD (Movimento de Unidade Democrática, 1945), no apoio às candidaturas para a Presidência da República do general Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958) e na CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, 1969). Eleita deputada pelo Partido Popular Democrático em 1980 à Assembleia da República, onde participou como independente. Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, Grande-Oficial da Ordem da Liberdade, recebeu em 1991, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro “Sonetos Românticos”.
 
Bibliografia
 
Grandes Aventuras de um Pequeno Herói (romance infantil), 1945
Anoiteceu no Bairro (romance), 1946; 2004
Rio de Nuvens (poesia), 1947
Descobri Que Era Europeia: impressões duma viagem à América (viagens), 1951; 2002
Sucubina ou a Teoria do Chapéu (teatro), em colaboração com Manuel de Lima, 1952
Poemas (poesia), 1955
Dimensão Encontrada (poesia), 1957
O Progresso de Édipo (poema dramático), 1957
Passaporte (poesia), 1958
Poesia de Arte e Realismo Poético (ensaio), 1959
Comunicação (poema dramático), 1959
Cântico do País Emerso (poesia), 1961
A Questão Académica de 1907 (ensaio), 1962
Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica: dos cancioneiros medievais à actualidade (Antologia), 1965; 2000
O Homúnculo, tragédia jocosa (teatro), 1965
Mátria (Poesia), 1967
A Madona (Romance), 1968; 2000
O Encoberto (Teatro), 1969; 1977
O Vinho e a Lira (Poesia), 1969
Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses (Antologia), 1970; 1998
As Maçãs de Orestes (Poesia), 1970
Trovas de D. Dinis, [Trobas d'el Rey D. Denis] (Poesia), 1970
A Mosca Iluminada (Poesia), 1972
O Surrealismo na Poesia Portuguesa (Antologia), 1973; 2002
A Mulher, antologia poética (Antologia), 1973
O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro (Poesia), 1973
Uma Estátua para Herodes (Ensaio), 1974
Poemas a Rebate, (poemas censurados de livros anteriores) (poesia), 1975
Epístola aos Iamitas (poesia), 1976
Não Percas a Rosa. Diário e algo mais (25 de Abril de 1974 - 20 de Dezembro de 1975) (Diário), 1978 ; 2003
O Dilúvio e a Pomba (poesia), 1979
Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente (teatro), 1981; 1991
Antologia de Poesia do Período Barroco (antologia), 1982
Notas para uma Introdução às Cantigas de Escárnio e de Mal-Dizer Galego-Portuguesas (ensaio), 1982
A Ilha de Sam Nunca: atlantismo e insularidade na poesia de António de Sousa (antologia), 1982
A Ilha de Circe (romance), 1983; 2001
A Pécora, peça escrita em 1967 (teatro), 1983; 1990
O Armistício (poesia), 1985
Onde está o Menino Jesus? (contos), 1987
Somos Todos Hispanos (ensaio), 1988; 2003
Sonetos Românticos (poesia), 1990; 1991
As Núpcias (romance), 1992
O Sol nas Noites e o Luar nos Dias (poesia completa), 1993; 2000
Memória da Sombra, versos para esculturas de António Matos (poesia), 1993
D. João e Julieta, peça escrita em 1959 (teatro), 1999
A Ibericidade na Dramaturgia Portuguesa (ensaio), 2000
Breve História da Mulher e outros escritos (antologia de textos de imprensa), 2003
A Estrela de Cada Um (antologia de textos de imprensa), 2004


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