A nova cidade de Macau
O campus da Universidade de Macau na Ilha da
Montanha já recebeu os primeiros alunos e em Novembro deve estar pronto para
abrir as portas a todos os visitantes. O novo espaço é uma verdadeira cidade
universitária, com salas de aula e laboratórios, mas também com piscinas,
campos de futebol, um auditório para espectáculos, uma biblioteca, um quartel
de bombeiros, lojas, serviços e muito mais. Tudo capaz de suportar dez mil
alunos.
Em Macau o perto torna-se longe. A distância
é psicológica e a escala do território convida a achar que uma viagem a Coloane
é coisa para tirar um dia inteiro de fim-de-semana. Pensar numa visita ao novo
campus da Universidade de Macau (UMAC), na Ilha da Montanha, parece ainda um
cenário distante, um exotismo para momentos desocupados. Isso, no entanto, pode
ter os dias contados.
A UMAC convidou a imprensa a visitar o novo
campus, agora sob jurisdição de Macau, depois de ter sido entregue à RAEM a 20
de Julho pelas autoridades do Continente.
A viagem, feita na passada quinta-feira,
começa no antigo campus da Taipa, do qual a universidade conservará no futuro
apenas o edifício da biblioteca, ainda que não funcionando como tal. Menos de
15 minutos depois, o autocarro fretado para o efeito já deixou o Galaxy para
trás e prepara-se para entrar no túnel subaquático que liga o Cotai à Montanha.
Para já, apenas carros autorizados e o autocarro público U37 podem entrar no
túnel e percorrer as quatro faixas de rodagem repartidas pelos dois sentidos.
Futuramente, a via estará aberta a todos os veículos do território, sem
check-points ou outros constrangimentos. Haverá também, espera-se que a partir
de Novembro, uma segunda ligação pedonal e para bicicletas.
O lado de lá
O novo campus da UMAC é 20 vezes maior que o
actual. Tem sensivelmente um quilómetro quadrado e a dimensão da cidade
universitária percebe-se mal o autocarro deixa o túnel para entrar na Avenida
da Universidade. Por agora, é esta a única paragem para transportes públicos em
funcionamento e qualquer pessoa pode viajar até aqui. Dentro de alguns meses
haverá outras. À saída do autocarro, o reitor da UMAC, Wei Zhao, e o
vice-reitor, Rui Martins, cumprimentam todos os presentes com a nova biblioteca
– o ex-líbris do novo campus – atrás de si.
O campus da UMAC foi desenhado por He Jingtang,
arquitecto que nos últimos anos tem sido responsável pelos projectos da maioria
das instalações universitárias no Continente e que foi também o autor do
Pavilhão da China na Exposição Mundial de 2010, em Xangai. Em 2009, o
arquitecto esteve em Macau a apresentar as grandes linhas do plano para o novo
campus de Hengqin, assegurando que a conservação ambiental seria uma das
principais preocupações do projecto. E o que agora salta à vista é o cuidado em
criar zonas verdes, com muitas árvores a acompanharem o betão e com um grande
lago rodeado de relva a funcionar como pulmão da cidade universitária.
Da Avenida da Universidade avista-se o Cotai
e Coloane, para um lado, e a biblioteca, para o outro. A biblioteca, que tem
capacidade para um milhão de publicações, é o centro de todo o complexo. Dali
partem as diferentes artérias que conduzem à zona mais a norte, onde está
situado o quartel dos bombeiros – o maior de Macau –, o grande auditório da
UMAC, uma guesthouse com 110 quartos e a zona de centros de investigação e
laboratórios. Para sul, ficam as residências dos estudantes de licenciatura, as
casas dos alunos de pós-graduação e também os edifícios destinados a albergar
os funcionários da universidade.
A biblioteca receberá todos os 600 mil
exemplares agora guardados no antigo campus da UMAC, mais uma quantidade
significativa de obras que a universidade está a adquirir. Haverá, pela
primeira vez, uma área em funcionamento 24 horas, para que os alunos possam
estudar durante a noite, à semelhança do que acontece em várias instituições de
ensino europeias.
A Europa é, aliás, uma inspiração assumida do
campus, também em termos arquitectónicos. Os muitos arcos e colunas dos
edifícios, a juntar às cores quentes que se encontram em algumas fachadas e à
calçada portuguesa que preenche o chão da grande praça diante da biblioteca,
dão ao campus um toque europeu e sulista, várias vezes frisado durante esta
visita.
O ano lectivo arrancou na passada
segunda-feira e até agora há três edifícios completamente operacionais no
campus que conta mais de 60 estruturas, depois de já terem passado nas
inspecções públicas. Já há cerca de 2000 estudantes a viver no campus e este
ano a UMAC deve receber cerca de oito mil alunos, com 80 por cento a residirem
no novo complexo.
O principal edifício dedicado a aulas, onde
se concentrarão disciplinas transversais à maior parte dos cursos, vários deles
novos, tem capacidade para 3000 estudantes. A UMAC divide-se agora em oito
faculdades, das Ciências da Saúde às Ciências Sociais.
Aberta à sociedade civil
O reitor Wei Zhao faz questão de reiterar o
facto de várias das instalações do novo campus irem não apenas servir os alunos
mas também toda a cidade. Boa parte da nova zona sob jurisdição de Macau estará
aberta aos residentes, apesar de a circulação de carros ser circunscrita à área
mais próxima do túnel, ficando o campus reservados a veículos autorizados, a
bicicletas e a pedestres.
A nova UMAC tem 2500 lugares de
estacionamento repartidos por várias áreas. Estarão disponíveis para todos
quantos desejem usufruir da zona que, entre outras infra-estruturas, terá no
seu centro cultural e no grande auditório, com capacidade para cerca de mil
espectadores, uma das principais atracções. Wei Zhao explica que o objectivo é
oferecer o espaço à Orquestra de Macau para que ali se torne residente,
ensaiando com regularidade e também dando concertos. O auditório deve ainda
receber outros eventos programados em parceria com o Instituto Cultural.
As instalações desportivas, com uma piscina
olímpica, um campo de futebol e uma pista de atletismo com medidas oficiais
para receberem qualquer tipo de competição, estarão também articuladas no
futuro com a gestão do Instituto do Desporto.
Nada disto seria possível sem o crescimento
do número de funcionários da universidade, que de acordo com o site da
instituição está situado nos 750 e que quase triplicará; e do corpo docente,
que duplicará para perto de 800 professores. Para este novo ano lectivo, a UMAC
a recebeu mais 1520 alunos do que no ano anterior e o objectivo é ir
gradualmente crescendo até aos dez milhares de estudantes.
Os edifícios de investigação, situados junto
ao quartel dos bombeiros, somam mais de 300 laboratórios e 20 centros de
investigação. O autocarro que transporta a imprensa dá a volta ao campus, passa
junto do estádio e do complexo desportivo com um pavilhão com capacidade para
3000 pessoas e vários campos para badminton e outras modalidades, e entra na
Avenida dos Alunos, que dá acesso às residências de estudantes de licenciatura,
de acordo com a UMAC as maiores da Ásia. Ao longe vê-se o muro que separa o
campus do restante território da Montanha, esse sob jurisdição das autoridades
do Continente. Recorde-se que recentemente soube-se que os cidadãos do
Continente que entrarem no novo campus da Universidade de Macau saltando a
vedação do complexo serão punidos por travessia ilegal de fronteira. A
revelação foi feita por um funcionário da fronteira do Continente ao diário
Global Times.
É num dos edifícios destinados à residência
de alunos de licenciatura – que terão também à sua disposição vários serviços,
como supermercados, cafés, farmácias e clínicas – que Wei Zhao fala à
imprensa, fazendo uma apresentação das principais novidades que a UMAC introduz
neste ano lectivo. O reitor apresenta os novos cursos e o modo como o campus da
Montanha funcionará. Diz desconhecer a alegada investigação do Comissariado
Contra a Corrupção ao processo de atribuição de casas no novo campus (ver texto
nestas páginas) e garante que o processo está a decorrer com normalidade.
De volta ao autocarro, a viagem de volta à
Taipa faz-se em poucos minutos. O campus e o novo túnel parecem agora mais
perto. A nova cidade de Macau continua a crescer ali ao lado, maior que todos
os casinos do território. Hélder Beja – Macau in “Ponto Final”
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