Investir na especialidade
O
comércio externo do Brasil cresceu 3,8% no segundo trimestre deste ano em
comparação com idêntico período do ano passado. E, levando em conta as
projeções, esse crescimento deverá ficar entre 4% e 5% em 2013. Ou seja, mesmo
com um cenário internacional desfavorável, o comércio exterior brasileiro só
não cresceu mais em razão de um obstáculo interno: a precariedade da
infraestrutura logística do País.
Basta
ver que o Porto de Santos, mesmo com todos os gargalos, continua a bater
recordes de movimentação. Só a carga conteinerizada no primeiro semestre do ano
chegou a 1,6 milhão de TEUs – unidade equivalente a um contêiner de 20 pés –, o
que significa a um crescimento de 6,3% em comparação com o mesmo período de
2012. No total (contêineres e commodities), o Porto atingiu 53,7 milhões de
toneladas, ficando 14,3% acima do apurado nos seis primeiros meses de 2012 (47
milhões). Já a movimentação de soja cresceu 25,5%, a de açúcar 16,9%, a de
enxofre 154%, a de sal 113,6% e a de trigo 58,44%, segundo dados da Companhia
Docas do Estado de São Paulo (Codesp).
Isso
explica os congestionamentos que ocorrem diariamente nas vias de acesso ao
Porto e nas rodovias que servem à região. Afinal, foram quase 800 caminhões a
mais por dia no sistema Anchieta-Imigrantes. Como as obras viárias previstas
seguem em ritmo lento, não é difícil imaginar o que poderá ocorrer até o final
do ano, levando em consideração a recuperação dos EUA e da União Europeia,
ainda que seja esperada uma desaceleração na economia chinesa.
Além
disso, com a entrada em funcionamento dos novos terminais da Embraport e da
Brasil Terminal Portuário (BTP), é quase certo que o Porto de Santos venha a
elevar sua participação no comércio exterior brasileiro, hoje em torno de 26%
do total. Portanto, com uma infraestrutura inadequada e burocracia em excesso,
o Porto só poderá ver agravados os seus problemas.
Estudo
da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) mostrou que o tempo
médio de espera que um navio tem de suportar, entre a sua chegada ao Porto de
Santos e o início de suas operações, que era de 18,5 horas no segundo
trimestre, saltou para 38,9 horas em julho. Essas horas perdidas representam
maiores custos portuários. Só para se ter uma ideia da escalada basta ver que
de 2009 a 2012 no País os custos portuários tiveram um crescimento de 27,6%,
passando de US$ 7,5 bilhões para US$ 9,5 bilhões, segundo cálculos do Instituto
Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).
Diante
dessas perspectivas, ao menos em relação ao Porto de Santos, talvez a saída
seja estreitar a gama de serviços oferecidos, investindo-se nas operações com
determinados produtos manufaturados, deixando que certas cargas soltas sejam
desviadas para outros complexos marítimos. Afinal, se o Porto de Santos
continuar a operar indistintamente com commodities e contêineres, não é difícil
imaginar um cenário mais dramático, com filas de caminhões na Via Anchieta já
na região do Planalto, o que significa prever o caos absoluto para o sistema
Anchieta-Imigrantes.
Em
outras palavras: é preciso definir uma estratégia o quanto antes, até porque o
crescimento será inevitável. Mauro Dias
- Brasil
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Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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