Houston, temos uma hipótese
Taboo é um jogo de tabuleiro em que devemos
descrever um conceito sem o nomear nem usar certas palavras na descrição,
aquelas que facilitariam a identificação por parte da nossa equipa. É provável
que a palavra Língua aparecerá no maço de fichas do tal jogo e atrevo-me a
arriscar que os tabus serão palavras como Identidade, País, Gramática e outras
similares.
A palavra cuja enunciação não creio que seja
proibida é Planeta, o que é de notar porque dominar uma língua não deixa de ser
uma viagem interplanetária que nos oferece numerosas regalias. Há quem esteja
interessado na literatura ou a música, quem visualize o mercado laboral ou as
oportunidades de negócio, quem deseje aumentar a sua rede social... tudo isto e
mais consegue-se com o acesso a um planeta língua. Na verdade, estamos num
momento histórico onde se privilegia como nunca ter o cartão de embarque para
diferentes línguas/planetas. A insistência de Bruxelas neste aspeto é constante
e os diferentes governos, com mais ou menos jeito e sinceridade, investem na
formação em línguas.
Para a possessão de cartões de embarque,
existem países com vantagens à partida: Suíça, Bélgica, Quebeque, Porto Rico...
Que temos os galegos e as galegas a dizer ao respeito? Para já, a língua
galego-portuguesa nasceu na Galiza e a língua castelhana está por toda a parte.
São as duas línguas românicas com mais falantes e estão presentes em numerosos
países e continentes. Não está mal para começar a viagem, no mínimo, melhor do
que Madri, Berlim ou Paris.
Ora, o que interessa não é a pista de
descolagem, de onde partimos, mas o percurso, por onde vamos, e o destino,
aonde queremos chegar.
Se começamos a contar desde 1980, quando o
galego entra no sistema educativo, até hoje, deparamos com uma rota de viagem
bastante estranha onde o castelhano é aproveitado na sua totalidade enquanto o
galego-português na sua “infimidade”. Passados trinta anos, quase todos
habitamos o planeta Ñ, sabemos mover-nos à vontade, aproveitar o que nos
oferece. Porém, não se passa o mesmo com o planeta NH. A imensa maioria não
transita este astro nem parece interessar-lhes. Aqueles que o fazemos somos mais
ricos, certeza, mas uma pergunta surge logo, por que o que é bom para nós e
está ao alcance de todos, não é de transito comum?
Para responder a esta pergunta é comum
falar-se de auto-ódio, os galegos são assim, são assado, o nacionalismo
espanhol, etc. e tal. É capaz de ser assim mas seria bem mais interessante
perguntar-se sobre o que fizemos com a nossa língua e o que se pode fazer de
diferente. Afinal, o que mais de estranho tem a rota de viagem é que o Brasil,
Portugal, Angola, as suas gentes, as suas produções não existem. Não aparecem
nos nossos radares. Engolidos por algum buraco negro? Habitam noutra dimensão?
Acho que não, é acender o meu computador e estão aí.
O diretor do Consello da Cultura Galega,
Ramón Villares, afirmou que se desaproveitara este recurso mas que esta atitude
era revisável. Todos os galegos e galegas viríamos a ganhar, que é o que
realmente importa, com a mudança de rumo. Temos um problema, sim, mas também
temos uma hipótese. Viagem interestelar? 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1.... Valentim Fagim – Galiza in “Portal Galego da Língua”
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