Eduardo
Maragoto, presidente da AGAL: «A língua é o melhor investimento para viabilizar
a cultura galega»
«Na
Galiza nom há nengum outro movimento social para o qual se modificassem tanto
as expetativas de crescimento e êxito como o reintegracionista»
No passado sábado, dia 24 e
outubro de 2015, a assembleia geral da Associaçom Galega da Língua (AGAL)
elegeu Eduardo Maragoto novo presidente. Eduardo Sanches Maragoto (Barqueiro,
Ortegal; 1976) é sócio da AGAL desde 2002, ainda que a sua vinculaçom à
associaçom tem perto de duas décadas e mesmo seu pai foi já membro da
associaçom.
Umha semana depois das
eleiçons, entrevistamos no PGL Eduardo Maragoto para conhecermos de primeira
mao tanto a sua valorizaçom do passado imediato da associaçom quanto dos
projetos de futuro.
A
assembleia em que foste eleito é a mais numerosa em que participaste? Sentiste
o peso da responsabilidade?
Foi a mais numerosa para mim,
sim, que sou sócio desde 2002 e já antes tinha estado vinculado, mas isso nom
me fijo sentir o peso da responsabilidade. Foi o contrário. Teria sentido mais
se as propostas que anunciamos e submetemos a debate nos dias prévios na
Internet nom tivessem despertado o interesse dos sócios e sócias. Depois,
quando soubemos o resultado, tam favorável, tivemos a sensaçom mui agradável de
sentir-nos acompanhados no caminho que agora parece que encetamos, mas que
realmente é o resultado de muitos anos de trabalho de outros conselhos.
Perante
os sócios e sócias reivindicaste-te como reintegracionista «de gema», vinculado
já de jovem e filho, aliás, de um sócio da AGAL. Com a perspetiva do tempo que
se passou: mudou muito a AGAL? Mantém-se ainda fiel aos seus objetivos?
Nom mudárom os objetivos, mas
mudárom muito as possibilidades de os alcançar. Penso que nom existe nenhum
outro movimento social na Galiza para o qual se modificassem tanto as
expetativas de crescimento e êxito. E aconteceu a umha velocidade vertiginosa.
No outro dia, um dos meus grandes amigos nesta causa, o João Aveledo,
lembrava-me como nos anos 90 o nosso objetivo era fazer cartazes em que aparecesse
um nh ou um lh para que estes dígrafos fossem, simplesmente, vistos. Nos dias
de hoje falamos de estender à sociedade um consenso de todas as forças
parlamentares e o ensino do português cresce mais num ano que os sócios da
AGAL, que também crescêrom, em 10. Isto logicamente mudou a maneira de
trabalhar, mas nom o objetivo que toda a família reintegracionista, mui diversa
e ao mesmo tempo mui unida dentro dessa diversidade, tem: viabilizar o futuro
do galego através da convergência com o português no mundo. Se essa
possibilidade nom existisse, talvez fosse diferente, mas o facto de irmos
montados num cavalo ganhador dá-nos muita força e fai com que superemos
qualquer adaptaçom a novos cenários ou qualquer discrepáncia com facilidade e
até entusiasmo.
Até
há relativamente pouco tempo, a tua militáncia reintegracionista foi noutros
frentes, muito variados, aliás. O que te levou a, cada vez mais, te envolveres
nas dinámicas da AGAL e ires reduzindo o teu trabalho nesses outros coletivos e
projetos?
Bom, a verdade é que a
militáncia política já a deixara há bastante tempo; limitou-se praticamente à
época estudantil. O foco do meu trabalho foi quase sempre a língua. O Novas da
Galiza primeiro e a Gentalha do Pichel fôrom as minhas prioridades desde o
primeiro lustro deste século, mas sempre fazendo trabalhos muito relacionados
com a língua. Porquê? Pois a resposta está em parte contida nas anteriores.
Nenhumha causa merece mais atençom do que as outras, mas, como em todo na vida,
para sermos realmente úteis devemos escolher e descartar, e para mim, se o
objetivo é viabilizar a cultura galega, penso que o melhor investimento é a
língua, sobretodo se entendida como algo proveitoso para quem a usa, como de
facto a entende o reintegracionismo. A sociedade galega tem perdido bastante
tempo neste sentido, mas agora as cousas estám a mudar e é preciso empurrarmos
com muita força para nom perder esta oportunidade. A AGAL, junto com muitos
outros coletivos, é um espaço excelente para o fazer, por ser de carácter
nacional e porque há muita motivaçom e alegria e este é o primeiro indício de
que estamos a fazer as cousas bem.
Nos
últimos três anos foste o coordenador da área audiovisual da AGAL. A AGAL
caraterizou-se no novo século pola aposta na Internet, mas tem havido um défice
quanto à produçom de vídeos. Achas que se conseguiu corrigir um pouco esta
carência? Como concebes o trabalho de futuro neste aspeto?
A
parte do vosso programa que criou mais controvérsia foi a proposta da
confluência normativa no seio do reintegracionismo. Se afinal se chegar a um
acordo a respeito, vai mudar a nossa maneira de escrever o galego?
Nom, simplesmente vai mudar a
nossa maneira de explicar à sociedade as pequenas discrepáncias morfológicas
que temos, mas as pessoas nom serám obrigadas a aceitar novas formas diferentes
nem adotar outros hábitos gráficos. Para que o entenda quem nom sabe nada deste
processo, até a assembleia em que foi eleita a nossa candidatura, no
reintegracionismo conviviam duas normas que a sociedade mal distinguia, havendo
entre as duas mui poucas discrepáncias. Entre os utentes de umha norma ou a
outra praticamente nom havia, tampouco, projetos culturais e de país
diferentes, e muito menos para o momento atual; simplesmente diferentes formas
de escrever certas terminaçons, com maior ou menor proximidade do português de
Portugal e do Brasil. Agora a assembleia decidiu que nom vale a pena apresentar
isso como sendo duas normas diferentes, que cabe todo no mesmo ‘livrinho’, que reconhecerá,
como muitas outras normas linguísticas do mundo, diferentes variantes
opcionais. Isto permite-nos integrar o crescente ensino do português dentro da
nossa estratégia, pois a nossa norma nom excluirá nengumha forma gráfica do
mesmo, e, ao mesmo tempo, usar um galego-português mais chegado à língua
popular quando o desejarmos, pois as formas mais coloquiais galegas também
estarám admitidas. Serám as pessoas as que, no futuro, se vaiam inclinando por
umhas ou outras se realmente o veem necessário. Temos a certeza que nom nos
arrependeremos deste passo, que foi umha grande mostra de madureza do
reintegracionismo.
A
outra grande pata do programa tem a ver com o aproveitamento da Lei
Paz-Andrade. Quais vam ser as principais açons que promova a AGAL neste
sentido?
Para
finalizar, como definirias, em poucas palavras, as pessoas que integram o novo
Conselho?
Somos dous reintegracionistas
históricos, dous/duas escritores, dous tesoureiros, dous trabalhadores da
saúde, quatro docentes, umha velejadora e mais 6 tripulantes com vontade de
singrar por mares nunca dantes navegados. De quase todo temos a pares, como
vês. Mesmo ourensanos, que vam quatro. Gerardo
Rodrigues – Galiza in “Portal Galego da Língua”
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