SÃO PAULO – Apesar das
dificuldades que a economia mundial atravessa, não há dúvida de que a situação
de crise pela qual o Brasil passa é resultado da falta de visão estratégica
para melhorar a inserção brasileira nos mercados internacionais que marcou os
últimos três governos. Os erros foram tantos e tão primários que seriam
risíveis, não tivessem sido tão lesivos aos interesses do País.
Ao que parece, os antigos
responsáveis pela estratégia de políticas públicas de longo prazo imaginaram
que um país com 204 milhões de habitantes – e mais de 80 milhões de
consumidores – não precisaria pensar no mercado externo, pois seria capaz
sozinho de manter indústria em escala. Mas não foi assim. Ainda que, nos
últimos anos, milhões de brasileiros tenham entrado no mercado de consumo, é de
se lembrar que já são 57,2 milhões aqueles que estão inadimplentes, segundo
pesquisa da Serasa Experian. Isso significa que o Brasil sempre esteve longe de
constituir um país autossuficiente. E, portanto, não podia (nem pode) fechar os
olhos para o mundo.
Em outras palavras: é
preciso exportar cada vez mais para que a indústria tenha escala de produção,
pois só assim é possível baratear custos para que os produtos nacionais tenham
condições de competir no mercado externo, gerando empregos internamente, além
de promover a entrada de divisas.
Para tanto, é preciso também
ampliar a importação, pois sempre haverá necessidade de fornecimento de insumos
para a produção destinada ao mercado externo. Além disso, não se pode pensar
apenas em exportar porque nenhum país tem interesse de importar de quem não lhe
compra nada. Esse é um caminho de ida e volta.
Na verdade, restringir
importações e exportações é seguir célere para um beco sem saída. Ou seja, sair
da crise passa obrigatoriamente por ampliar tanto os números da exportação como
os da importação. Isso significa que anunciar um saldo positivo na corrente de
comércio como se fosse uma conquista não passa de engodo, pois foi obtido à
custa da redução das importações e das exportações.
Portanto, adotar uma
política econômica voltada para arrecadar e encher os cofres públicos, com a
redução de incentivos fiscais como os do Regime Especial de Reintegração de
Valores Tributários (Reintegra), que devolve tributos aos exportadores, segue
em sentido contrário ao que deve ser feito para que haja maior oferta de
emprego, mais gente comprando e melhor distribuição de renda, condenando o País
a um atraso que poderá até comprometer as futuras gerações. Mauro Dias - Brasil
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Mauro Lourenço Dias,
engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de
São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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