SÃO PAULO – Depois de 13 anos,
quatro meses e 12 dias em que a política externa não passou de retórica vazia,
quase sempre sustentada por recursos saídos dos cofres do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar projetos de
infraestrutura em outros países, o governo parece, de fato, empenhado em
encontrar caminhos para recuperar o largo espaço perdido pelos produtos
brasileiros nos mercados internacionais.
Um desses caminhos passa pelo
fortalecimento do Mercosul, que precisa deixar de ser um fórum de debates
políticos para se tornar aquilo para o qual foi criado em 1991, ou seja, uma
união aduaneira com regras e compromissos a serem cumpridos por todos os
parceiros. Um bom encaminhamento nesse sentido seria a assinatura de um acordo
no âmbito do Mercosul para o setor automotivo.
Afinal, só com o bloco
fortalecido, haverá condições de se negociar soberanamente com Estados Unidos e
União Europeia, sem entregar as joias da casa em troca de bijuterias. Sem
deixar de negociar também um acordo à parte com o Reino Unido, que, desde o dia
24 de junho, deixou de integrar a União Europeia.
É preciso ainda levar adiante
a recente pretensão brasileira de participar das negociações para o Tratado
Internacional de Comércio e Serviços (Tisa, na sigla em inglês), no âmbito da
Organização Mundial do Comércio (OMC), rompendo com o isolamento a que o País
se entregou nos últimos anos, limitado a raros acordos com economias pouco
representativas. Praticamente ignorado pelos governos anteriores, o setor
mundial de serviços movimenta mais de US$ 4 trilhões por ano.
Ao mesmo tempo, é necessário
criar condições internas para reduzir os entraves e as deficiências que fizeram
os manufaturados brasileiros perderem competitividade. Essa débâcle do produto
industrializado pode ser mensurada em números: em 2000, a participação dos
manufaturados nas exportações nacionais era de 50% e das commodities, 38%.
Hoje, as commodities representam mais de 60%, índice que poderia ser maior se
produtos como açúcar refinado, suco de laranja, etanol, óleos combustíveis e
café solúvel não fossem classificados como manufaturados, embora sejam
comercializados como commodities.
Obviamente, essa agenda
pragmática passa pela adoção de um novo modelo que desonere o produto exportado,
ao longo de toda a cadeia produtiva, o que só será possível com a reforma do
atual sistema tributário, tornando-o moderno, simples e competitivo, o que
significa isonomia ampla no trato das isenções, em vez de benefícios só para os
favoritos da casa. Enfim, com a ampliação das exportações de manufaturados,
fatalmente, crescerão as importações, estimulando a geração de empregos. Milton Lourenço – Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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