Enquanto os principais países
latino-americanos têm apostado na redução de tributos e das participações
governamentais (royalties e participações especiais, por exemplo), na tentativa
de criar condições mais favoráveis à produção de petróleo, o Brasil caminha na
direção inversa, aponta um estudo do Grupo de Economia da Energia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (GEE/UFRJ). Embora o governo já tenha
sinalizado que pretende prorrogar por mais 20 anos a validade do Repetro
(regime que desonera de impostos federais a compra de bens para exploração e
produção de óleo), o professor Edmar Almeida defende que o país precisa de um
debate mais amplo sobre tributação.
Segundo ele, a recuperação da
indústria petrolífera vai depender da capacidade de o país disputar com outros
mercados a atração de investimentos privados. No entanto, o aumento da
tributação no Rio, a partir da criação de uma taxa de fiscalização e da cobrança
de ICMS sobre a produção; a revisão da metodologia de cálculo dos royalties
pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), que promete elevar as receitas dos
Estados; e as complexidades do Repetro colocam o Brasil na contramão da
tendência global de redução e simplificação dos tributos.
Ele lembra que países
latino-americanos como Argentina, Colômbia e México já saíram na frente, ao
reduzir as participações governamentais.
“De 2008 a 2014, o Brasil não
estava tão ruim na foto, porque muitos países [Argentina, Equador, Venezuela e
Bolívia] pioraram seus termos fiscais [em meio ao cenário de alta dos preços do
barril]. Mas a partir de 2014 os preços caíram no mercado internacional, houve
nova onda de revisão dos sistemas fiscais, e o Brasil está adotando um caminho
contrário”, diz Almeida, um dos autores do estudo, encomendado pelo Instituto
Brasileiro de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP) e que será
apresentado hoje no ciclo de debates econômicos da associação.
O aumento da tributação no Rio
é um exemplo emblemático nesse sentido. Segundo o GEE/UFRJ, se confirmadas as
medidas tributárias, projetos do pré-sal não seriam rentáveis com preços a
menos de US$ 122 o barril. Embora o assunto esteja na mesa do Supremo Tribunal
Federal (STF), Almeida acredita que, mesmo que não vingue, a medida já mexe com
a atratividade do mercado brasileiro.
“É uma sinalização ruim. Como
se explica lá fora [para a matriz das multinacionais] que um imposto foi criado
e está no STF? Na disputa por investimentos, não importa muito se está no
Supremo ou não. Já entra na conta [dos estudos de economicidade dos projetos],
isso afasta investimentos”, explica.
Para o secretário-executivo do
IBP, Antônio Guimarães, o momento é oportuno para se criar uma agenda de debate
sobre a participações governamentais, já que o governo sinaliza para 2017 a
realização do leilão de áreas unitizáveis do pré-sal e a 14ª Rodada de
Licitações de blocos exploratórios a ANP. Segundo ele, a tributação é um
elemento importante para aumentar a competitividade da indústria brasileira e
para garantir o sucesso dos leilões.
Para Almeida, a discussão
sobre as participações governamentais no Brasil passa não só pelo nível da
tributação, como também pela necessidade de simplificação do regime fiscal. “É
um sistema muito complexo. As interpretações sobre o Repetro mudam muito ao
longo do tempo, é instável. Basta uma portaria da Receita para mudar os
produtos que se enquadram ou não no regime”, afirma.
Um dos principais pleitos da
indústria, a prorrogação do Repetro é considerada essencial para manter o
mínimo de competitividade do Brasil. De acordo com o GEE/UFRJ, sem o regime os
projetos no pré-sal não seriam viáveis com o barril a menos de US$ 74.
Independentemente da renovação do Repetro, o retorno dos projetos no país já é
menor que na Nigéria, Angola, Noruega, Canadá, Moçambique, EUA e Reino Unido,
segundo a Wood Mackenzie. André Ramalho –
Brasil in "Valor Econômico"
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