A CPLP deve apontar para
objectivos estratégicos mais ambiciosos e não permitir uma consideração menor.
Deve ser parceira internacional e não meramente uma associação dos países da
lusofonia.
Os tempos mais recentes têm
demonstrado de forma vincada como é relevante o posicionamento atlântico de
Portugal. A Europa, sendo solução indelével do nosso futuro, deve contar com um
parceiro que contribui com uma mais-valia única como resulta do nosso posicionamento
geográfico estratégico.
As sucessivas crises quer na
Europa quer nos sistemas financeiras implicam que o país aposte em afirmações
complementares que consolidem o papel político, mas também económico e cultural
do país face aos seus parceiros. A grandeza das nações está na capacidade de
que dispõem para ultrapassar os seus limites e juntar o que a história ou a
geografia desafiam.
O espaço lusófono tem vindo a
consolidar presença e relevância no mundo, na medida em que aperta laços de
relacionamento em todos os domínios – dos quais os primeiros beneficiários são
os próprios países de que dele fazem parte.
A criação da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa representou bem esta ideia de aproximação de
territórios soberanos que a história aproximou e que as pessoas podem beneficiar.
As duas décadas de existência
desta organização consagram a ideia da sua criação e obrigam a que façamos um
exercício de desenvolvimento da mesma, compreendendo as diferenças entre os
seus membros e albergando as suas dificuldades individuais para, em conjunto,
construir um espaço fortalecido de entendimento e de melhor relacionamento, em
particular nos domínios económico e político.
Marcando presença nos vários
continentes, da Europa a África, da América à Ásia, o aprofundamento desta
relação representa ganhos para todos os participantes. Pouco a pouco, passo a
passo, tem-se notado uma crescente aproximação entre territórios e povos que
sentem beneficiar mutuamente da cooperação entre si.
Não se trata apenas da questão
da língua, da história ou da cultura. O mundo de influência lusófona é dos
maiores do mundo – a língua portuguesa é uma das mais faladas do planeta – e
com presença em todos os continentes.
Portugal alberga a sede da
CPLP. É a única organização internacional transcontinental com sede no nosso
país e da qual fomos fundadores e esteio na formação. Deveríamos nós próprios
acarinhar mais a organização e demonstrar o nosso respeito pelo papel que pode
desempenhar na afirmação de valores comuns, de desenvolvimento económico e de
integração social.
Temos especiais
responsabilidades nesta organização que pela evolução que apresenta se encontra
em condições de dar o salto para uma dimensão maior que consolide o seu
estatuto, que lhe confira o reconhecimento internacional enquanto tal. Para tanto,
a CPLP deve apontar para objetivos estratégicos mais ambiciosos e não permitir
uma consideração menor. Deve ser parceira internacional e não meramente uma
associação dos países da lusofonia.
A comunidade internacional tem
de olhar para a CPLP como o somatório dos Estados nela integrante e não uma
mera agregação de Estados que a compõem. E os membros da CPLP devem agir em
conjunto na cena internacional promovendo reciprocamente os seus membros no
âmbito dos desafios internacionais que a cada um se vão colocando.
A organização por si tem feito
esse trabalho. É tempo de ser reconhecido para se criar um novo mundo de
oportunidades para os Estados, para os seus povos e para o enriquecimento da
comunidade internacional.
Nestes tempos de maior
instabilidade política com incidência social, o fortalecimento do espaço das
comunidades dos países que falam a mesma língua é essencial. Quer como
mais-valia, quer como complemento para o desenvolvimento das relações
económicas dos estados membros. Não como declaração política de conveniência,
mas como afirmação de um bloco que entende que o seu posicionamento de equipa
fortalece o papel de todos.
A CPLP tem de crescer
politicamente. Afirmar-se para consolidar e ganhar o seu espaço. Transformar as
declarações dos seus dirigentes em decisões políticas efetivas e consequentes.
E não continuar a esperar vencer cada crise que houver no seio de cada membro.
A CPLP não é uma esperança. É uma oportunidade. Para todos ganharem em
conjunto. Haja vontade política para tanto. E capacidade de decisão. António Rodrigues – Portugal in “Económico”
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