SÃO PAULO – O Ministério da
Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) já anunciou que espera para 2016
um superávit comercial entre US$ 45 bilhões e US$ 50 bilhões, "o maior de
todos os tempos", superando o recorde até o momento, que foi apurado em 2006,
de US$ 46 bilhões. Mas quem é do ramo não se entusiasma com essas previsões
porque sabe que o fundamental não é o superávit comercial que se pode obter,
mas o volume da corrente de comércio, ou seja, o somatório de exportações e
importações.
Afinal, todo governo, ao
elaborar sua política de comércio exterior, tem como objetivo primordial criar
condições para que as exportações do país sejam elevadas, cuja consequência
natural é gerar superávit na balança comercial. Com as exportações em ritmo
crescente, crescem também as importações não só por conta da compra de
matérias-primas como de equipamentos para a renovação e expansão do parque
industrial, gerando atividade econômica e empregos. Em outras palavras: obter
superávit comercial é importante, mas superávit é efeito, e não causa.
Quem acompanha a movimentação
do comércio exterior brasileiro sabe que, pelo menos desde 2008, as exportações
de produtos manufaturados perderam competitividade e estão praticamente
estagnadas, além de concentradas em países do Mercosul, especialmente Argentina
e Venezuela. Por isso, é preciso saber como conduzir as negociações que buscam
a flexibilização do Mercosul, ou seja, a revogação da cláusula que determina
que os países-membros negociem “de forma conjunta acordos de natureza comercial
com terceiros países ou blocos de países extra-zona nos quais se outorguem
preferências tarifárias".
É certo que o Mercosul tem
impedido o Brasil de negociar sozinho outros acordos comerciais bilaterais, o
que tem representado um isolamento comercial. Para piorar, a política
equivocada adotada pelos três últimos governos, que privilegiou o comércio
exterior Sul-Sul, abandonando em contrapartida o diálogo Sul-Norte, significou
grande perda de mercados de manufaturados para o Brasil.
Com a flexibilização, o Brasil
poderia negociar acordos isoladamente com a União Europeia, com o Canadá ou com
os países do Tratado Transpacífico (TTP), que inclui Estados Unidos, Japão e
outras dez nações. Acontece que Argentina e a Venezuela, nesse caso, também
poderiam fechar isoladamente com a China acordos comerciais, reduzindo ou
eliminando tarifa para produtos que o Brasil também exporta. Obviamente,
haveria uma quebradeira em indústrias nacionais que exportam calçados e
equipamentos para esses países, dentro do âmbito do Mercosul.
Seja como for, é necessário
lembrar também que os acordos da Associação Latino-Americana de Integração
(Aladi) prevêem que em 2019 todos os países da região terão de passar a
negociar com tarifa zero a maioria dos seus produtos. Ora, se isso for mesmo
para valer, haverá implicitamente o desaparecimento do Mercosul. Portanto, a
hora é de indefinição e muita negociação. Ou seja, é preciso muita cautela
neste momento. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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