Este é o ponto em que tenho
batido e rebatido, especialmente a partir do momento em que entidades
respeitáveis passaram a achar naturais e normais as propostas de grave
alteração dos princípios fundamentais da “constituição constituinte” de 1992,
para a aprovação da actual Constituição (2010), a formalizar e reforçar os
poderes excessivos que o já longevo Presidente Eduardo dos Santos detinha
materialmente, devido ao prolongamento da guerra civil.
Nessa altura, alguns
partidos políticos da oposição, certamente, por anúncio de alguma vantagem
passageira, contribuíram para a aprovação quase unânime de uma constituição
que, na base da manobra política, desconsiderava toda a ética de convivência
humana e política e o dispositivo jurídico que lhe dava sustentação, no sentido
de consolidar a propalada “Reconciliação Nacional”. Antes, os próprios
militantes e dirigentes do partido no poder, também apanhados de surpresa, não
puderam senão vergar-se à surpreendente realidade, com um estrondoso
conformismo.
Alegra-me hoje que, pelo
menos ao nível de todas as bancadas parlamentares, através de uma declaração
que acabo de ler, haja um consenso em torno do último pacote legislativo
relativo às próximas eleições, sobre a sua total ir-razoabilidade no plano
ético e jurídico, quando se pensa que a maioria qualificada de um parlamento
pode decidir tudo, desde que seja necessário para o alcance dos objectivos
políticos do partido de onde emana.
Estes atropelos sucessivos a
princípios éticos elementares na política, já não deveriam ser tolerados, há
mais de uma década do fim do conflito que nos dividiu. E devem preocupar os
próprios militantes e deputados do MPLA, porque assim se continuando, não
haverá reconciliação nacional e sem reconciliação não podemos dormir sossegados
em relação ao nosso futuro.
A manobra política também
tem os seus limites éticos e nunca deve ultrapassar, como muito bem o sugere a
declaração dos grupos parlamentes da oposição, o círculo jurídico mais ou menos
largo que os definem. Para que servem os chamados “limites materiais” de uma
constituição?
Mas todas essas
ir-razoabilidades só revelam um aspecto em que tenho igualmente insistido:
Angola e muitos outros países africanos precisam de criar um ambiente em que
ninguém se derreta de medo por, eventualmente, perder eleições. E isso exige um
debate franco que, com poucas excepções, nunca se fez nem antes nem depois do
colonialismo. Marcolino Moco – Angola in “Moco
Produções”
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