Fevereiro de 2015 pode ser um
mês que marque um ponto de inflexom na história da nossa língua no atual
território da Galiza. Começou com umha importante mobilizaçom social em favor
do galego e finalmente termina com bom sabor de boca, fruto da assinatura dum
acordo de colaboraçom entre o Presidente do governo galego e o Chefe de Estado
português. Parece evidente que a língua importa, ainda na Galiza do século XXI.
Importa, e muito, porque umha
percentagem relevante do povo galego assim o tem manifestado, nunca melhor
dito, polas ruas e praças da capital galega numerosas vezes. Assim como no seu
agir do dia a dia. Falamos de umha proporçom elevada da cidadania galega que nom
sempre se sentiu amparada pola administraçom que maior cumplicidade e
sensibilidade deveria mostrar neste tema, a própria Junta da Galiza. O atual
governo galego chegou ao poder depois de ter-se apoiado, entre outros
argumentos, num ilusório conflito construído fundamentalmente por quem
realmente mostra um ódio terrível frente à língua do país. Quebrou-se, assim,
um fraco consenso que tinha as suas peças fundamentais no decreto Filgueira de
1982 e no Plan de Normalización de 2004. Um velho consenso que fora construído
de costas viradas a estratégia histórica do galeguismo e que nestes últimos 30
anos insistiu no afastamento da nossa fala a respeito daquelas variantes
alheias às atuais fronteiras de Espanha. Um ideário que reconhecia como galego
as falas de três concelhos da província de Cáceres, mas nom o galeguíssimo
falar de Castro Laboreiro. Qualquer observador externo dá-se conta que esta
forma de conceber a língua foi bem pouco eficaz e nada produtiva.
Trinta e três anos de velho
consenso que nos transportárom até o ponto atual. Mais de três décadas de umha
estratégia que ocultou o potencial do galego e que, aliás, deixava fora esse
importante setor da cidadania que já nom fala galego habitualmente. Um caminho
que se centrou numha rígida filiaçom identitária que até podia deixar excluída
essa parte do povo galego que já nom é utente da língua própria do país. Um
velho consenso fracamente partilhado por aqueles que tenhem utilizado o idioma
como umha arma política ainda que com diferentes objetivos.
Chegados ao ponto atual é
preciso construirmos entre todas e todos o novo consenso. Umha nova estratégia
que da AGAL transmitimos com a metáfora do New Deal: quando as cousas venhem
viradas é necessário mudar o rumo. Viremos 180 graus para começar por reconhecer
que no novo consenso o português tem de ocupar umha posiçom central. Para
algumhas galegas será mais umha língua estrangeira -de fácil aprendizagem- e
para outras será mais umha variedade do galego. Ambos os sentimentos som
compatíveis no novo consenso, e todas as partes tenhem muito a ganhar.
Jogar a ganhar, a que todas as
partes ganhem foi o espírito fundamental que guiou a Lei Paz Andrade, que agora
em março completará o seu primeiro ano de vida. A dinámica desta lei é umha boa
mostra de como pode ser este novo consenso. A iniciativa da lei chegou ao
Parlamento com um alargado apoio social -mais de 17.000 sinaturas- e foi
aprovada por unanimidade dos quatro grupos lá representados. A partir de
diferentes conceções e com distintos posicionamentos chegamos a um ponto em
comum, o português de Portugal, do Brasil, de Angola tem de ocupar um espaço
importante na Galiza, dado que isto é bom para a sociedade no seu conjunto,
vivamos como vivamos o galego.
O novo consenso tem de chegar
para transformar o galego numa língua completa e global. Vai ser o motor para
revitalizar os seus usos, alargá-los e mostrarmos orgulhosamente como somos o
único coletivo no Planeta Terra que pode comunicar de forma natural com as
sociedades que falam em espanhol e em português, as duas línguas latinas mais
estendidas. O novo consenso é umha estratégia envolvente e abrangente, um
roteiro que dá sentido ao galego para qualquer pessoa da Galiza. É um caminho
que combina identidade e utilidade para a língua, independentemente do relacionamento
que desejemos ter com ela.
Porque o galego-português é a
nossa língua própria, mas nom exclusiva do nosso território. E por isso que
saudamos e damos as boas-vindas ao novo consenso.
Olá, Novo Consenso! Miguel Penas – Galiza in “Portal
Galego da Língua”
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