Ilha de
Cabo Verde aposta no futebol como meio de inclusão social
Afastar as crianças das ruas e repassar
valores de cidadania e coletividade através do esporte mais popular do planeta.
Estes são alguns dos objetivos fixados pelas escolinhas de futebol espalhadas
por diversas comunidades carentes da lha do Sal, em Cabo Verde. A iniciativa
envolve mais de 350 crianças e adolescentes.
“Esta é uma forma de trabalhar a inclusão
social e dar proteção à infância”, afirma Maria da Luz Lopes, que acompanha
atentamente cada jogada de sua equipe, que disputa um dos raros torneios
organizados na Ilha do Sal.
Presidente da Efiz (Escola de Futebol
Inter-Zonas), Maria da Luz faz questão de incentivar os atletas ao lado do
gramado sintético do estádio municipal Marcelo Leitão, que até pouco tempo
atrás era o único de Cabo Verde a ter uma pista de atletismo.
“Participar de um evento como este dá mais
motivação, mais moral, como gostamos de dizer. Assim, eles frequentam os
treinos com mais gosto porque sabem que têm um objetivo”, acrescenta, ao se
referir ao entusiamo de seus atletas, que têm entre 6 e 14 anos de idade. O
torneio foi organizado por ocasião da Convenção Internacional do Esporte na
África e reuniu quatro das cinco escolinhas de futebol criadas nos bairros da
Ilha mais turística do país.
Tirar
as crianças das ruas
No total, são cerca de 350 crianças e
adolescentes que se beneficiam dessa iniciativa recente, de pouco mais de três
anos. Faltam recursos financeiros, mas sobra disposição para ajudar uma parte
desfavorecida da população local.
Foto: Elcio Ramalho |
Maria da Luz é funcionária da Câmara
Municipal do Sal e dedica suas horas de folga para dirigir a escolinha de
futebol do Chã de Matias, um dos bairros mais pobres do Sal. São mais de 100
crianças entre 6 e 14 anos inscritas nas atividades esportivas que acontecem
apenas nos finais de semana, por falta de pessoal e infraestrutura.Um dos
critérios para participar do grupo é frequentar regularmente a escola.
“A ideia é afastar as crianças das ruas. Elas
vão à escola durante meio período e depois não há nada a fazer. Muitos pais
saem cedo de casa para o trabalho, só voltam à noite e ficam sem tempo para cuidar
dos filhos”, explica. Segundo ela, os treinos aos sábados e domingos ajudam a
transmitir valores importantes para melhorar o convívio social.
“Se não jogarem futebol, as crianças ficam na
rua. Assim, conseguimos trabalhar o espírito de grupo”, diz. “Através do
futebol, queremos passar outros conhecimentos, outra postura, uma nova
perspectiva para suas vidas. Nosso objetivo é trabalhar para dar mais motivação
a essas crianças e jovens”, explica a presidente do Efiz.
Objetivo:
ser um Tubarão Azul
E motivação não faltou aos atletas na disputa
das partidas do torneio, que serviram para avaliar a evolução técnica e o nível
das diversas escolas de futebol locais. Durante o intervalo do jogo do Efiz
contra o Minifute, pela categoria sub-14, o tom subiu nas discussões com o
técnico e entre os próprios atletas, sempre na língua crioula, falada por todos
os habitantes da Ilha.
Um pouco mais sereno, Edison de 14 anos,
explica em bom português que a bronca dada nos companheiros foi construtiva:
“Eles não querem distribuir a bola, só querem fintar, assim não dá. Temos que
tocar para chegar ao gol”.
Mal conclui a frase, aponta para o amigo ao
lado e o apresenta como um dos craques do time. Edmilson, também de 14 anos,
diz que futuramente pretende ser um Tubarão Azul, como são conhecidos os
jogadores da seleção cabo-verdiana. “Jogar futebol é bom, a gente se diverte
com os amigos. E jogamos no estilo fair play”, diz o jovem, propagando a
mensagem do “jogo limpo” escrita em letras garrafais nas arquibancadas do estádio
construído bem no centro de Espargos, a capital da Ilha do Sal.
“Este é um dos nossos valores. Ser jogador de
futebol não é apenas estar em campo”, afirma Maria da Luz. “Não tem sido um
trabalho fácil. Faltam recursos financeiros e humanos. Mas ao ver a postura
deles nesses eventos, vemos que já conseguimos atingir alguns dos nossos
objetivos”, diz a presidente do Efiz, com um largo sorriso iluminando seu
rosto. Elcio Ramalho – Brasil in “RFI Brasil”
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