O governo
federal tem alardeado em fóruns internacionais sobre gestão portuária que
trabalha para entregar nos próximos dez anos uma infraestrutura não só portuária
como ferroviária e hidroviária capaz de dar vazão à movimentação prevista para
2024. Só para o Porto de Santos, responsável por 25,8% das operações de carga
no País, está prevista uma movimentação de 200 milhões de toneladas por ano.
O que não se
sabe é se a indústria e o crescimento do comércio exterior conseguirão esperar
esses dez anos. Por enquanto, o que se vê é que a atual infraestrutura não tem
sido suficiente para atender à demanda. E a situação só não é pior porque o
governo tem contribuído decisivamente para impedir o crescimento do comércio
exterior do País.
Essa
contribuição negativa deu-se por vários motivos, desde quando rejeitou acordos
com a participação dos Estados Unidos – leia-se Área de Livre Comércio das
Américas (Alca) –, passando pela aposta errada na negociação multilateral da
Rodada Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, que redundou
em rotundo fracasso, até a prioridade dada a mercados pouco expressivos. Além
disso, ficou amarrado ao Mercosul que, em função do protecionismo argentino,
não foi capaz de chegar até agora a um acordo com a União Europeia.
Tantos erros
da política externa brasileira limitaram as exportações brasileiras aos
mercados sul-americanos. Sem contar a proteção dada a alguns segmentos que
acabaram por privar a indústria nacional da competitividade internacional que
acaba por propiciar a busca da inovação e dos ganhos de eficiência.
Se deixar de
lado essa política defensiva que, em 20 anos, só resultou em três acordos com
economias de pouca expressão – Israel, Palestina e Egito –, é claro que a
corrente de comércio poderá quadruplicar em cinco anos. Para tanto, o País
precisa avançar na derrubada de barreiras tarifárias com os países
sul-americanos do Pacífico. E dar também espaço a um amplo entendimento com o
México. Obviamente, nada disso implica reduzir ou deixar de lado o Mercosul.
Pelo contrário.
Além disso, o
governo precisa voltar a negociar um acordo com os Estados Unidos, o maior
mercado do planeta. Até porque o governo Obama tem dado mostras de interesse na
retomada do diálogo. Ou seja, o Itamaraty precisa resgatar a tradição de
pragmatismo que o caracterizou em outros tempos. E incluir na pauta também o
Canadá, que está bem avançado nas negociações para a assinatura de um tratado
comercial com a União Europeia.
Afinal, se
continuar na defensiva, o Brasil corre o risco de ficar isolado ou limitado
como está ao Mercosul, que, por sua vez, não avança nem recua. Mesmo porque
Estados Unidos e União Europeia negociam um acordo de livre-comércio que, com
certeza, vai ditar as regras para os demais países. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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