Depois de
ficar por quase 12 anos tratando ingenuamente os Estados Unidos como o grande
Satã do Norte, como se vivêssemos ainda ao tempo da Guerra Fria (1945-1991), o
governo brasileiro parece que decidiu reabrir os canais de negociação com o
governo norte-americano, enviando a Washington representantes do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O que se espera é que
dessas conversações preliminares possa nascer algum grande acordo de
livre-comércio, que inclua o cambaleante Mercosul.
Foram 12 anos
perdidos com a aposta equivocada na chamada Rodada Doha, que defendia a
Organização Mundial do Comércio (OMC), com sede em Genebra, como o grande órgão
gestor de negociações multilaterais. O fracasso da Rodada Doha atingiu em cheio
o Brasil e deixou claro que o mundo caminha para acordos regionais ou de
grandes blocos, enquanto a OMC acabou reduzida a mero órgão consultivo ou, no
máximo, um tribunal de pequenas causas. Diante disso, a presença de um
brasileiro à frente da direção-geral da OMC também perdeu importância, ainda
que o organismo mantenha alguma representatividade.
Assim, só
resta ao Brasil sair em busca do tempo perdido porque, nesse longo período, o
mundo mudou. Na América Latina, por exemplo, enquanto o Mercosul continua preso
aos humores da política externa argentina e o seu protecionismo acendrado,
México, Chile, Colômbia e Peru partiram para negociações com os Estados Unidos
e União Europeia e formaram a Aliança do Pacífico. Já o Mercosul preferiu
acolher um vizinho problemático, a Venezuela, que só trouxe mais dissensões ao
bloco. Na verdade, o Mercosul deveria ter atraído para o seu lado México,
Chile, Colômbia e Peru.
Com o
fracasso das negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas
(Alca), que se deveu basicamente ao comportamento do governo brasileiro, os
Estados Unidos procuraram outros caminhos, negociando a Parceria Transpacífica
(TPP) com as economias asiáticas, com exceção da China, e a Parceria
Transatlântica (TTIP) com a União Europeia, que ainda estão em andamento.
Se esses
acordos forem fechados, o Brasil e o Mercosul ficarão a reboque das grandes
decisões comerciais no mundo, reduzidos a cumprir o que vier de cima, sem
direito a dar sugestões ou reivindicar tratamento preferencial. É verdade que o
Brasil procurou uma alternativa com os Brics (Rússia, Índia, China e África do
Sul), anunciando o propósito de realizar o comércio entre eles com suas
próprias moedas como meio de pagamento.
Imagina-se
que maior comércio dentro dos Brics protegerá as economias desses países de
ciclos de depressão no mundo ocidental. Mas não se pode depender apenas dos
Brics. Em comércio, a melhor política sempre foi o pragmatismo responsável. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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