A organização Africa
Progress Panel (APP) presidida pelo antigo secretário-geral da ONU Kofi Annan
apresentou o “Relatório do Progresso em África 2014” onde são analisados a
maioria dos países africanos.
Três países lusófonos estão
no grupo dos 10 países com maior crescimento no rendimento per capita entre 2000 e 2012, Angola está no 2º lugar, com uma taxa
média superior a 6%, Cabo Verde no 4º posto, com uma taxa média superior a 5% e
Moçambique na 8ª posição, com uma taxa superior a 4%.
Numa classificação que
abrange 45 países africanos, lidera a Libéria também com uma taxa média
superior a 6%, São Tomé e Príncipe está no 26º lugar, com uma taxa média
próxima dos 2% e a Guiné Bissau no 40º posto, com uma taxa média ligeiramente
inferior a 0%. No 45º e último lugar encontra-se o Zimbabwé com uma taxa média
negativa próxima dos -4%.
Em percentagem diminuiu o
número de africanos a viver em pobreza extrema na última década, mas o número
total de pobres continuou a aumentar acompanhando o aumento da população.
Poderá aceder ao relatório
resumo em língua portuguesa aqui e ao
relatório completo em língua inglesa aqui. Baía da Lusofonia
“A crescente população
mundial precisa de ser alimentada e África, o nosso continente, está bem
posicionado para dar resposta a esta necessidade. Temos recursos suficientes para
alimentar não só a nossa população, como também as de outras regiões. Temos de
tirar proveito desta oportunidade agora.
Os níveis de produtividade
de África, que estão já a começar a aumentar, poderão facilmente duplicar
dentro de cinco anos. Com efeito, os nossos pequenos agricultores, a maioria
dos quais do sexo feminino, têm provado repetidamente como conseguem ser
inovadores e resilientes.
Então, por que motivo não
estão ainda a prosperar? A inaceitável realidade é que demasiados agricultores
africanos ainda utilizam métodos passados de geração em geração, trabalhando a
terra e apascentando os animais de forma bastante semelhante à que vinham
fazendo os seus antepassados ao longo de milénios.
África pode estar a
demonstrar um crescimento notável nas manchetes dos jornais, mas demasiados
africanos continuam aprisionados na pobreza. O Relatório do Progresso em África
deste ano conclui que, para acelerar a transformação de África, é necessário
impulsionar significativamente a nossa agricultura e pescas, que, em conjunto,
asseguram a subsistência de cerca de dois terços do total da população africana.
Se quisermos alargar os
recentes sucessos económicos do continente à vasta maioria dos seus habitantes,
temos de acabar com a negligência das nossas comunidades agrícolas e
piscatórias. Chegou o momento de libertar as revoluções verde e azul de África.
Estas revoluções irão
transformar a face do nosso continente, para melhor. Para além dos preciosos
empregos e oportunidades que irão criar, estas revoluções irão gerar a tão
necessária melhoria da segurança alimentar e nutricional de África. Mais do que
qualquer outro fator, a subnutrição no nosso continente representa um fracasso
da liderança política. Temos de dar resposta a este fracasso debilitante de
imediato.
Os agricultores e pescadores
de África enfrentam o desafio em igualdade de circunstâncias, mas necessitam de
tirar proveito da oportunidade. Necessitam que os seus governos demonstrem mais ambição em seu
nome. Os governos africanos devem ampliar as infraestruturas apropriadas e
garantir que os sistemas financeiros estão acessíveis a todos.
Quando os agricultores
acedem ao financiamento – crédito, poupanças e seguros –, podem proteger-se
contra riscos como a seca e investir com mais eficácia em melhores sementes,
fertilizantes e controlo de pragas. Com o acesso a estradas decentes e unidades
de armazenamento, os agricultores podem transportar as suas colheitas para os
mercados antes que estas apodreçam nos campos. As barreiras ao comércio e as
infraestruturas inadequadas estão a impedir que os nossos agricultores concorram
com eficácia. O que lhes dizem é para encaixotarem os seus produtos com as mãos
atadas atrás das costas.
Não é de surpreender que a
fatura das importações alimentares de África ascenda a 34 mil milhões de
dólares por ano.
O investimento em
infraestruturas será certamente dispendioso. Contudo, pelo menos alguns dos
custos necessários para colmatar a enorme lacuna financeira em termos de infraestruturas
poderiam ser cobertos se se pusesse cobro à pilhagem que tem lugar a todo o
vapor dos recursos naturais de África. Em todo o continente, esta pilhagem está
a prolongar a pobreza para muita gente. Isto tem de parar. Agora. O Relatório do
Progresso em África do ano passado revelou de que forma as saídas de fundos ilícitos,
frequentemente associadas à evasão fiscal no setor das indústrias extrativas, custam
ao nosso continente mais do que recebe quer através da ajuda internacional, quer
sob a forma de investimento estrangeiro.
O relatório deste ano
demonstra de que forma África está também a perder milhares de milhões devido a
práticas ilegais e obscuras na pesca e no setor florestal. Estamos a armazenar
problemas para o futuro. Enquanto fortunas pessoais são consolidadas por um pequeno
grupo de pessoas corruptas, a grande maioria das atuais e futuras gerações de
África está a ser privada dos benefícios de recursos comuns que, de outra
forma, poderiam criar receitas, meios de subsistência e uma melhor nutrição. Se
estes problemas não forem abordados, estaremos a lançar as sementes de uma amarga
colheita.
É necessária uma ação
coletiva global para cultivar a transparência e a responsabilização. Desde o
último ano em que o nosso relatório foi publicado, foram tomadas notáveis
medidas no âmbito da propriedade efetiva, da fraude e evasão fiscal e das receitas
derivadas de recursos. Um maior apoio técnico e financeiro aos governos
africanos contribuiria também para reduzir as saídas ilícitas de madeira, produtos
da pesca e fundos.
Com os mesmos objetivos em
mente, esta medida deve ser alargada aos principais negociantes internacionais
de produtos básicos, que desempenham um papel fundamental nos mercados
africanos, do café ao petróleo. Muito frequentemente, estes negociantes
poderosos e globalmente influentes foram ignorados pela regulamentação nacional
e internacional.
Temos um interesse comum no
sucesso destes esforços. As florestas africanas ajudam o mundo a respirar. Em
conjunto com as águas africanas, salvaguardam a preciosa biodiversidade do
planeta Terra. O peixe e outros produtos de África podem ajudar a alimentar uma
população global em expansão. E todos nós beneficiamos de uma África próspera,
estável e justa.
Os investidores estrangeiros
cada vez mais encaram África como uma oportunidade lucrativa e investem fundos
na atividade agrícola. No melhor dos cenários, estes investimentos criarão
empregos, financiamento e know-how fundamental. No pior, privarão os povos
africanos das suas terras e águas. Os governos africanos devem regulamentar
estes investimentos e utilizá-los para benefício de África. Os acordos entre os
governos africanos e as empresas têm de ser mutuamente benéficos.
Os africanos fora do
continente estão também a transferir significativas quantias de dinheiro para
África, mas os custos das remessas são muito dispendiosos do ponto de vista
ético. Esta sobrecarga exerce um impacto ainda mais negativo sobre as comunidades
rurais. Uma remessa de 1000 dólares para África custa 124 dólares, em
comparação com uma média global de 78 dólares e de 65 dólares no Sul da Ásia.
Libertar as revoluções verde
e azul de África pode parecer uma batalha difícil, mas vários países já
iniciaram a jornada. Nestes países, os agricultores estão a plantar novas
sementes, a utilizar fertilizantes e a encontrar compradores para as suas colheitas.
Inovações impressionantes e políticas governamentais inteligentes estão a mudar
técnicas agrícolas utilizadas há uma série de anos.
A tecnologia móvel permite
que os agricultores saltem etapas e passem diretamente para a alta
produtividade. Os jovens empresários aliam a agricultura aos mercados globais
do século XXI. A resiliência, criatividade e energia de África continuam a impressionar.
Estas qualidades são fundamentais para as nossas revoluções verde e azul, das
quais dependerá o futuro de África.”
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