Na beira do cais, o caos
Como
o poder público movimenta-se a passos paquidérmicos, a iniciativa privada,
diante das necessidades que se levantam, é obrigada a fazer o que seria de
competência do governo. Um exemplo da lentidão com que atua o governo do Estado
é a Rodovia dos Imigrantes, que teve a sua pista Norte inaugurada em 1976 e a Sul
liberada em 2002, mas ainda não apresenta concluídas as obras complementares de
acesso às cidades do Litoral. Ora, essa é a principal razão para o caos
logístico que se observa nas vias de acesso ao Porto de Santos. Quer dizer,
planejamento houve, o que não houve foi a execução de todas as obras
planejadas. E, depois de quatro décadas, não se pode alegar que foi por falta
de tempo.
Veja-se
o que ocorre na margem esquerda do Porto de Santos, em Guarujá, onde a Rua
Idalino Pinez, mais conhecida como Rua do Adubo, uma via sem asfalto e sem
calçadas e meio-fio, constitui talvez o ponto mais crítico de acesso ao cais.
Sem manutenção e sem capacidade de fluxo – até porque não foi aberta para esse
fim –, a Rua do Adubo, com pouco mais de mil metros, não suporta o excesso de
caminhões e acaba estendendo o congestionamento para a Rodovia Cônego Domênico
Rangoni e demais rodovias regionais.
Como
entra ano e sai ano e a situação não sofre alteração, algumas empresas
portuárias, em parceria com a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp),
estão dispostas a custear a construção de uma via paralela à Rua do Adubo num
terreno que pertence às empresas Fassina e Dow Química. O novo acesso terá 600
metros de extensão por 50 metros de largura, com pistas de entrada e saída do
cais. Mas não se pense que será a solução para o caos que se registra no local.
Na realidade, a via alternativa deverá reduzir em apenas 40% o fluxo de caminhões
na Rua do Adubo, atraindo principalmente os veículos carregados com grãos,
conforme os planos que por enquanto estão no papel.
Para
o mesmo local, estão previstas obras do Programa de Aceleração do Crescimento 2
(PAC 2), que deverão segregar definitivamente o trânsito urbano do trânsito em
direção ao porto. Mas o término dessas obras, que também estão apenas no papel,
está previsto para 2017. Quer dizer: haverá pelo menos mais quatro anos de caos
logístico naquela região.
Até
porque o que se prevê para os próximos anos são sucessivas quebras de recorde
de safras agrícolas exportadas pelo Porto de Santos. Portanto, se não houver
por parte do governo do Estado uma estratégia efetiva para a utilização de
áreas na região da Grande São Paulo, ao longo do Rodoanel, para a implantação
de estacionamentos de caminhões e um monitoramento para regular a descida
desses veículos pela Via Anchieta, rumo ao porto, o caos poderá ganhar
proporções ainda mais dramáticas. Mauro
Dias - Brasil
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Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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