A lição de Nelson Mandela
Muito se diz e escreve sobre Nelson Mandela,
especialmente a propósito de ter completado a proverbial idade de 95 anos, para
quem foi alvo de tantas sevícias físicas e psicológicas, em homenagem aos
valores mais sublimes da vida humana. A comoção positiva quase universal com
essa relíquia da Criação é tanto maior, quanto Mandela se encontra neste
momento, no leito de uma grave enfermidade.
Em boa parte das afirmações sublinha-se o
facto de Mandela ser o maior símbolo da luta de negros africanos contra o
sistema instituído pelos criadores do hediondo apartheid na África do Sul; uma
luta que ao cabo e ao fim, se deve inserir no mais amplo empreendimento da
chamada África Negra contra o colonialismo europeu.
Para mim, porém, especialmente quando olho
para os acontecimentos e intervenções das lideranças de hoje no Mundo, em
África e em Angola de forma particular, a maior lição de Mandela é que ele
conseguiu, e à custa do próprio sofrimento, colocar-se acima das partes e da
“sua própria parte” para puxar os braços e as mãos de todos para a construção
de um Futuro que deve congregar a todos, independentemente dos encontros e desencontros
do passado.
Quando vejo, na TV, outro ancião de noventa
anos a ser condenado à morte (comutada em prisão perpétua?!) no Bangladesh, por
crimes alegadamente cometidos há várias décadas, num manifesto gesto de
intolerância, com motivação política;
Quando constato que ontem três dos maiores
partidos de Portugal, país nosso irmão, não conseguiram chegar a um acordo para
por cobro a uma crise económica e política grave, aparentemente, para a
salvaguarda de interesses meramente partidários (não perder as próximas eleições);
Quando no nosso “Jornal de Angola” acabo de
ler a panegírica, para mim despropositada, de um historiador à “morte de 56
efectivos das tropas coloniais, por 27 aldeões de Cacata-Cabinda” há mais de 50
anos, e vejo nisso, entre outros, um acto dos que nos puxam quotidianamente
para as mais negras páginas do nosso passado, para nos desviar dos problemas do
presente: uma reconciliação nacional de fachada, cujos termos são abandonados
logo que se tenta indagar sobre os problemas graves de hoje, protagonizados por
quem detém o poder;
Quando tudo isso acontece, oiço a grande
lição de Mandela, que ma ditou quando tive a felicidade de o abordar pela
primeira vez, em Lusaka-Zâmbia, acabava de ser libertado, na primeira metade da
década 90:
“Só poderemos construir o Futuro se soubermos
perdoar o passado” Marcolino Moco –
Angola in “Moco Produções”
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