A Hora da Lusofonia está a chegar
Lusofonia a chance de futuro para os países
lusófonos
Ontem submergiram às Colonizações das nações
e hoje não resistem às das Civilizações
Não, a Lusofonia não “ é a última marca de um
império que já não existe” como quer António Pinto Ribeiro.
A construção de biótopos culturais
/identidades nacionais não é contraditória à sua afirmação numa supraestrutura
capaz de concorrer com outras supraestruturas mundiais.
Uma característica de quem se empenha na
nobre tarefa da Lusofonia será, precisamente, através duma fábrica de
pensamento, não adiar os problemas para o futuro mas sim encará-los com
realismo para se antecipar a ele, numa estratégia de sustentabilidade. É
necessário prever-se o perigo para termos a chance de lhe dar solução. Parte-se
do status quo para se chegar ao que se deveria ser. Se queremos salvaguardar o
bem-estar futuro, urge reformar o presente. A isto estão chamados, com
conceitos e projectos concretos, os governos, as empresas, as universidades, as
igrejas, os sindicatos, as associações e os cidadãos adultos interessados em
construir um mundo adequado à dignidade humana e aos sinais dos tempos. A
Lusofonia seria a realização de uma terceira via diferente.
Filosofia desejável para a Lusofonia
A Lusofonia não é nem foi, faz-se. Lusofonia
poderá ser uma maneira diferente de ser e estar no mundo. Quer fomentar uma
nova maneira de estar no tempo e no espaço, um novo modo de ver, agir e sentir
o espaço geográfico- cultural lusófono e seus intervenientes. Essa maneira de
estar já foi em parte exercitada, na miscigenação brasileira.
A Lusofonia pretende fomentar a via especial
dos povos lusófonos; uma terceira via diferente, não reduzível a um compromisso
entre sistemas económicos/ideológicos (capitalismo e socialismo). Não se fica
pelo pensamento bipolar.
Raciocina, também, com uma lógica polivalente
não fixada no “verdadeiro” e no “falso” mas reconhecendo no “possível” o
elemento personalizador que leva a reconhecer a evidência da realidade. Não se
fecha no “ou… ou” mas realiza-se numa prática e lógica aberta do “não só… mas
também”, imbuída de complementaridade, enfim, uma via integral a-perspectiva.
Também não rejeita a existência de padrões de comunicação: importante é a
tentativa de integrar a posição do outro.
Os parâmetros filosóficos da Lusofonia
incluirão uma consciência da complementaridade orientada pelo ideário de vida
pensada e realizada a partir dos nós, numa relação pessoal geradora de “eus” e
“tus” adultos, gratos e gratificados. Os “nós” será o ponto de partida e de
chegada do pensar e agir. Alternativa: ser satélites dos outros ou planetas do
próprio sistema
Os países lusófonos têm que estar conscientes
da alternativa do seu futuro: ou ser satélites anónimos de algumas potências ou
tornarem-se eles mesmos os planetas do próprio sistema lusófono, tendo como seu
centro a língua portuguesa e um ideário comum expresso numa relação mais que de
cidadãos de irmãos. Não é assim que já nos tratamos quando falamos dos irmãos
timorenses, brasileiros, angolanos, etc.? Se na palavra “irmãos” já temos um
indicador de consciência fraterna e solidária, porque não investir nela a nível
político, económico, cultural e humano? Já se esqueceu a solidariedade fruto
dessa consciência lusófona, tida com Timor? A “Língua é a nossa pátria”!
Unidos, ninguém nos destruirá e a Lusofonia (Comunidade Federal)
transformar-se-á numa verdadeira potência de humanidade e fraternidade.
Como nações desorganizadas estaremos
determinados a andar sempre atrás do progresso sob o ditame económico e
político dos outros; como confederação lusófona (mais tarde federação) traria a
si o poder de se autodeterminar e influenciar o futuro a nível global com uma
política e economia próprias. Para tal pressupõe-se a união da inteligência
racional à inteligência emocional, se não nos queremos perder deixar levar e
perder na ditadura do factual e nos meandros duma emotividade nacionalista
míope.
O movimento da lusofonia irmana a consciência
de diferentes perfis antropológicos e sociológicos na resposta a dar aos sinais
dos tempos como indicadores de futuro.
Numa altura em que o imperialismo americano,
chinês e europeu se aproveitam do globalismo para se imporem às nações e a
grupos desacautelados, a resposta adequada será a organização das identidades
lusófonas no projecto supranacional da Lusofonia: Um ecossistema cultural e
humano à altura da nova reorganização civilizacional.
O conceito Lusofonia é realmente abrangente
não podendo ser demasiadamente definido porque toda a definição bem contornada
poder-se-ia revelar como limitadora do processo de desenvolvimento de
identidades.
Já não chega uma boa relação entre os povos
lusófonos; é preciso um sonho, um programa, uma vontade declarada de todos
apostarem num ideário civilizacional comum, prometedor dum céu e duma terra
para todos, com uma praxis de supremo respeito pela dignidade humana e pelo
direito à diferença como valor.
Urge a Colaboração económica entre os países
lusófonos
Trata-se realmente de unir, pessoas, povos e
continentes para que da união surja uma força cultural, económica e política
capaz de resistir a novos imperialismos. É importante apresentarem-se conceitos
e estratégias capazes de alertar os governos para os perigos que se escondem
por trás de acordos com firmas e potências que possam comprometer o seu futuro
(a China, aproveitando-se da irreflexão europeia e da crise americana já
conseguiu muito!). Os poderes das grandes potências camuflam-se através de
influências anónimas que paulatinamente amarram governos, estados e nações. No
futuro os Estados não terão sequer a oportunidade de corrigir os erros do
passado com revoluções nem com nacionalizações. As intrigas internas serão
controladas pelas grandes potências que não terão pejo de apoiar grupos
contestatários de governos legítimos.
No século passado as nações com pouca força
económica ainda podiam optimizar negócios jogando com os interesses concorrentes
entre capitalistas e socialistas (USA e União Soviética), hoje, com a
reorganização dos Estados em grupos de interesses económicos estratégicos e
políticos torna-se dificílimo para os governos avaliar a longo prazo os
compromissos que assumem com os grupos concorrentes (China, Liga Árabe, USA,
EU, Rússia, etc.). Numa fase de ainda não consolidação duma união dos estados
lusófonos, toda a África deveria, por razões estratégicas de futuro,
privilegiar as relações com a Europa, precavendo um possível cenário que poderá
ser o de os possíveis conflitos entre a Ásia e a Europa se realizem na África,
à imagem do que já aconteceu no passado em África relativamente aos interesses
das nações e ao conflito da “guerra fria”.
Uma política favorecedora de colaboração com
firmas e fluxos migratórios dos países lusófonos entre si revelar-se-ia como
medida inteligentíssima contra o imperialismo económico que amarra o futuro das
nações. É uma dor de alma ver como tantos académicos portugueses são aliciados
por potências fortes, como a Alemanha, quando esses técnicos poderiam emigrar
para os países lusófonos, contribuindo para o seu enriquecimento. É importante
a salvaguarda de recursos humanos, étnicos, culturais e económicos numa
cooperação multilateral que não avassale nenhum “biótopo” lusófono. A união faz
a força. Cada país lusófono, no continente em que se encontra, constitui uma
riqueza estratégica imensa.
A África continua em situação precária, sendo
palco da cobiça e dos jogos de interesses ocidentais, árabes, chineses, russos,
etc. Estas potências pretendem cimentar aí zonas estratégicas de influência. Ao
contrário do autor inicialmente citado, sou do parecer que hoje a Lusofonia, à
semelhança da posição de Portugal com a sua pretensão do Mapa Cor-de-Rosa na
Conferência de Berlim (1884-85), pretende acautelar a defesa dos interesses das
diferentes identidades étnico-culturais ameaçados por forças internacionais com
mera intenção de domínio económico e estratégico. Às línguas estão subjacentes
interesses de toda a espécie; em torno delas surgem as verdadeiras constelações
do futuro. Hoje, tal como na Conferência de Berlim, as potências querem alargar
as suas zonas de influência para depois, fazerem de terreno alheio e distante,
o campo de batalha para as suas lutas de concorrência económica e política.
As zonas da lusofonia não seriam bem
aconselhadas se, abandonadas à lei da inércia, sem organização, se deixassem
enredar por problemas ideológicos e programas não aferidos à realidade actual.
Quem torpedeia a construção da Lusofonia, uma
maneira moderna de dar resposta ao desafio do turbo-capitalismo e ao
imperialismo comunista chinês, apoia precisamente aquelas forças e princípios
imperialistas que o Mapa Cor-de-Rosa queria impedir (ao pretender salvaguardar
o direito histórico e geográfico contra o direito da ocupação e repartição da
África). Seria fatal se a lógica da ocupação económico-política seguida pelo
ultimato inglês (1890) continuasse a imortalizar o princípio do mais forte.
Não! Com a Lusofonia, trata-se de recorrer a um outro instrumento da evolução
que não seja apenas o selectivo mas o da cooperação dos pequenos entre si, para
poderem subsistir ao lado dos mais fortes.
Quer-se uma lusofonia construída na
complementaridade partilhada por todos sem imposições dos mais fortes e
acautelada de estratégias de afirmação por actos consumados de ocupação dos
espaços económicos e culturais. António
Justo - Alemanha
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