“É um tema melindroso para nós portugueses
porque no caso de Gibraltar estão frente a frente o nosso mais antigo amigo e
aliado a Inglaterra e o mais próximo, mesmo geograficamente, amigo e aliado, a
Espanha. E porque nós sabemos, pelo menos aqueles que pensamos como eu penso,
que o caso espanhol em relação a Gibraltar é exactamente igual ao caso
português em relação a Olivença.
Quer dizer, há direitos que decorrem de
tratados, que decorrem… de enfim, são direitos há muito adquiridos e que uma
parte reivindica porque a outra não respeita e que no caso português, a parte
portuguesa reivindica ou reivindicou durante muito tempo e a Espanha não tem
respeitado.
E portanto faz sentido a pergunta, há um
paralelismo de situações, há no entanto uma diferença que é a seguinte: embora
a população de Gibraltar na sua maioria queira ficar britânica e a população de
Olivença na sua maioria, aparentemente queira continuar espanhola…há uma boa
vontade da parte espanhola nos últimos anos em relação a Olivença de que já
falámos aqui em relação aos nomes de ruas, em relação à língua portuguesa, em
relação à cultura portuguesa, em relação à história que não tem havido da parte
britânica em relação à Espanha e Gibraltar. Portanto é uma consolação, por um
problema que um dia, espero eu, nas instâncias internacionais, virá ser
equacionado, tal como a Espanha acha que deve ser equacionado o problema de
Gibraltar”. Rebelo de Sousa – Portugal in “TVI”
“Em 20 de Janeiro de 1801, Espanha, cínica e
manhosamente concertada com a França Napoleónica, sem qualquer pretexto ou
motivo válido, declara guerra a Portugal e, em 20 de Maio, invade o nosso
território, ocupando grande parte do Alto-Alentejo, na torpe e aleivosa «Guerra
das Laranjas». Comandadas pelo «Generalíssimo» Manuel Godoy, favorito da
rainha, as tropas espanholas cercam e tomam Olivença.
Portugal, vencido às exigências de Napoleão e
de Carlos IV, entregou a Espanha, «em qualidade de conquista», a «Praça de
Olivença, seu território e povos desde o Guadiana», assinando em 6 de Junho o
«Tratado de Badajoz», iníqua conclusão de um latrocínio. «Cedeu-se» Olivença,
terra entranhadamente portuguesa que participara na formação e consolidação do
Reino, no florescimento da cultura nacional, nas glórias e misérias dos
Descobrimentos, na tragédia de Alcácer-Quibir, na Restauração!...
Findas as Guerras Napoleónicas, reuniu-se,
com a participação de Portugal e Espanha, o Congresso de Viena, concluído em 9
de Junho de 1815 com a assinatura da Acta Final pelos plenipotenciários, entre
eles Metternich, Talleyrand e D. Pedro de Sousa Holstein, futuro Duque de
Palmela.
O
Congresso retirou, formalmente, qualquer força jurídica a anteriores tratados
que contradissessem a «Nova Carta Europeia». Foi o caso do «Tratado de
Badajoz». E consagrou, solenemente, a ilegitimidade da retenção de Olivença por
Espanha, reconhecendo os direitos de Portugal. Na Acta Final, apoio jurídico da
nova ordem europeia, prescrevia o seu art.º 105.º:
«Les Puissances, reconnaissant la justice des
réclamations formées par S. A. R. le prince régent de Portugal e du Brésil, sur
la ville d’Olivenza et les autres territoires cédés à Espagne par le traité de
Badajoz de 1801, et envisageant la restitution de ces objets, comme une des
mesures propres à assurer entre les deux royaumes de la péninsule, cette bonne
harmonie complète et stable dont la conservation dans toutes les parties de
l’Europe a été le but constant de leurs arrangements, s’engagent formellement à
employer dans les voies de conciliation leurs efforts les plus efficaces, afin
que la rétrocession desdits territoires en faveur du Portugal soi effectuée ;
et les puissances reconnaissent, autant qu’il dépend de chacune d’elles, que
cet arrangement doit avoir lieu au plus tôt».
Espanha assinou o tratado, em 7 de Maio de
1817 e assim reconheceu os direitos de Portugal. Volvidos todos estes anos, o
Estado vizinho não deu, porém, provas do carácter honrado, altivo e nobre que
diz ser seu, jamais nos devolvendo Olivença.
Mas em
terras oliventinas, sofridos dois séculos de brutal, persistente e insidiosa
repressão castelhanizante (hoje, falar-se-ia de genocídio e crimes contra a
Humanidade...), tudo o que estrutura e molda uma comunidade, a sua História,
cultura, tradições, língua, permaneceu e permanece pleno de portugalidade!
Separados do povo a que pertencem, da sua
cultura, da sua língua, alienados da Pátria que é a sua, em austeros e
silenciosos duzentos anos, os oliventinos preservam o espírito português e
demonstram, pelo sentir da maior parte, não renunciar às suas raízes.” Grupo dos Amigos de Olivença – Portugal
Olivença - Terras de Portugal |
Durante o século XIX a Espanha levou à
expulsão da maioria da população portuguesa, levou à proibição da aprendizagem
da língua portuguesa, levou à ocupação de terras e casas entretanto espoliadas,
por população castelhana de outras origens. Será que o comentador da TVI
desconhece tal realidade? Baía da
Lusofonia
ERA DE ESPERAR? ESPANHA CONTESTA POSSE PORTUGUESA DAS ÁGUAS DAS SELVAGENS
ResponderEliminarO Estado espanhol parece estar a iniciar um ciclo de reivindicações cujo aspeto contraditório não pode escapar a qualquer observador atento.
Na verdade, após Gibraltar, Madrid contesta a interpretação que Lisboa faz da soberania das águas que rodeiam as Ilhas Selvagens. Fá-lo... ao abrigo do Direito internacional.
Não pretendo discutir se a Espanha tem ou não razão. O que é espantoso nesta atitude é o facto de Espanha usar várias e opostas interpretações do mesmo Direito Internacional. Madrid parece não se dar conta de que está a "brincar" com coisas MUITO SÉRIAS e a despoletar indignações e a mexer num vespeiro.
Os dirigentes espanhóis não se dão conta de que, ao reivindicarem Gibraltar com base nas teses anticolonialistas das Nações Unidas, terão de aceitar a validade das reivindicações de Marrocos sobre Ceuta e Melilla.
Madrid parece não ter consciência de que agitar regras do Direito internacional (tenha ou não razão) em relação à Zona Económica Exclusiva das águas das Selvagens a faz cair numa abissal contradição, já que, em relação a Olivença, mantém uma situação de claro NÃO CUMPRIMENTO das determinações de 1814/15 e 1817, tomadas em Congressos Europeus onde esteve presente e de que foi signatária.
Alguns articulistas e comentadores, a propósito ainda e apenas dos recentes acontecimentos em Gibraltar, optaram por não referir Olivença, ou por destacar o contraste entre a posição "cautelosa e prudente" da Diplomacia portuguesa ao reivindicar esta cidade (ou vila) alentejana de forma discreta e a "fúria" despropositada da Espanha no que toca às exigências sobre o Rochedo.
O que estas notícias vêm aparentemente abrir caminha é à convicção de que Madrid não parece disposta a ouvir opiniões e razões que não sejam os seus, a fazer respeitar os tratados que lhe convêm, e que pouco lhe importam as consequências que tudo isso lhe poderá trazer. Este posicionamento pode abrir o caminho a numerosas crises e tensões, que não creio que venham a beneficiar minimamente ninguém, muito menos o Povo Espanhol.
Resta ver qual vai ser a reação em Portugal. Continuar com a cabeça mergulhada na areia?
Estremoz, 1 de Setembro de 22013
Carlos Eduardo da Cruz Luna
Poderá aceder ao texto "Treviño" publicado no passado dia 03 de Março. Baía da Lusofonia
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