Ontem houve festim, à volta daquele sujeito
que nada tinha para festejar. Veio gente importante, gente que já foi importante
e alguns beija-mãos.
Da sua eterna mesa, entediado, Pessoa olhava para
aqueles crápulas com desdém: “Não tenho sentimento nenhum político ou social.
Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a
língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde
que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o
único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe
sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita,
como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia
sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o
cuspisse. Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e
ouvida”. Baía da Lusofonia
Sem comentários:
Enviar um comentário