Na sua terceira edição, o Festival Internacional de Dança e Artes Performativas Kontornu, que decorrerá de 3 a 10 de maio de 2025 na ilha de Santiago, Cabo Verde, reafirma-se como um projeto estratégico e transformador, centrado na formação, na inclusão e no fortalecimento do ecossistema artístico local. Esta edição especial, que acontece no ano em que Cabo Verde celebra os seus 50 anos de independência, propõe um novo modelo de festival, profundamente ancorado no compromisso com a educação estética, a descentralização cultural e a criação de públicos.
Formação como Eixo Central
Uma das grandes inovações desta edição é o investimento em residências artísticas e incubadoras criativas. Estas estruturas têm como objetivo empoderar a comunidade artística cabo-verdiana através de formação crítica, experimentação e acompanhamento profissional. Ao promover o intercâmbio com coreógrafos e mentores internacionais, o festival abre espaço para o encontro entre linguagens, saberes e visões de mundo, permitindo o fortalecimento das práticas locais sem perder a ligação com as tendências globais.
As residências funcionam como laboratórios vivos, onde a criação e a pesquisa se encontram. As incubadoras criativas, por sua vez, apoiam jovens criadores em todas as fases do desenvolvimento dos seus projetos, com foco na autonomia, na produção consciente e na articulação com o mercado artístico.
Um Festival Multidisciplinar e Descentralizado
Apesar de ter a dança contemporânea como foco, o Festival Kontornu aposta fortemente na multidisciplinaridade, acolhendo espetáculos de circo, música, atuações de rua e artes plásticas. Destaque para a exposição com curadoria do artista Tutu Sousa, inaugurada a 5 de maio na sua galeria.
A programação decorre em três municípios diferentes da ilha de Santiago — Santa Cruz, Praia e Tarrafal — reforçando o compromisso com a descentralização e o acesso. Muitos dos espetáculos são pensados para serem apresentados em escolas, liceus e jardins de infância, com o objetivo de estimular o contacto precoce com as artes e formar novas gerações de espectadores.
Parcerias Locais e Internacionais
O festival colabora ativamente com associações comunitárias e companhias de dança locais, criando uma rede de partilha e fruição coletiva. Um dos momentos altos desta edição é o painel de conversa "Processos de Curadoria e Programação", realizado em parceria com a UniCV, o PROCULTURA PALOP e a Semana da Europa da União Europeia. Este painel dará voz a programadores internacionais, permitindo aos estudantes um contacto direto com experiências e práticas diversas.
Colaboração Especial com a Bienal do Ceará
A terceira edição do Kontornu celebra ainda uma parceria especial com a XV Bienal Internacional de Dança do Ceará (Brasil), através do projeto CAIS - Conexões Artísticas Internacionais. Esta colaboração trará ao arquipélago uma comitiva de artistas de dança e música, aprofundando os laços culturais entre Cabo Verde e o Brasil. A Bienal é apresentada pelo Ministério da Cultura, Governo do Ceará, Secult CE, Enel Distribuição Ceará e Petrobras, e realizada pela Indústria da Dança do Ceará e pela Proarte.
Desafios e Futuro
Apesar da relevância do projeto e de algumas parcerias importantes, o festival ainda enfrenta desafios estruturais, operando com poucos recursos e grande precariedade. A organização alerta para a necessidade urgente de investimento robusto e de protocolos institucionais que garantam a continuidade deste que é hoje um dos principais eventos de artes performativas do arquipélago.
Programar para Transformar
O Festival Kontornu acredita na arte como ferramenta de transformação social e cultural. Através da sua programação gratuita, inclusiva e de qualidade, constrói pontes entre artistas, comunidades, territórios e continentes. Em 2025, Cabo Verde dança mais uma vez com o mundo. E o mundo, dança com Cabo Verde. Festival Kontornu – Cabo Verde
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