Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Galiza - Podes ver o que quigeres

– A “Notícia de fiadores”, datada arredor de 1175, está considerada como um dos primeiros textos que se conservam em galego. Durante vários séculos a nossa língua é utilizada na Galiza a todos os efeitos, mas também é valorizada noutros territórios, o que demostra o prestígio internacional de que gozava.

– Em 1479 conclui a Guerra de Sucessão de Castela. Isabel derrota a candidata apoiada pola nobreza galega, Joana. Começa a doma do Reino da Galiza.

No que acontece entre estas duas datas concordamos muitas pessoas. O que acontece deste ano em diante (também o anterior) pode-se ver de uma maneira… ou de outras.

Podes ver que Antonio de Nebrija publicou a Gramática castellana em 1492, e que o castelhano tem cinco séculos de vantagem na construção de um padrão culto sobre o galego… ou podes ver que em 1536 Fernão de Oliveira publica a Grammatica da lingoagem portuguesa. Só lendo o seu prefácio comprova-se que se pode considerar como a primeira gramática da língua galega, pois é um magnífico nexo entre a língua dos nossos cancioneiros medievais e o galego atual.

Podes ver que, na época dos descobrimentos, o galego foi uma língua cada vez mais relegada ao âmbito rural e familiar enquanto o castelhano era a língua das elites (e de qualquer tipo de expressão culta na Galiza) e que gozava de uma forte expansão internacional… ou podes ver que Portugal difundiu o galego por todos os continentes mesmo tornando-se em língua franca nas costas africanas ou no Índico.

Podes ver que entre o século XVI e o XIX estamos num período chamado séculos escuros, em que a nossa língua deixou de ter produção literária… ou podes ver que esta obscuridade era parcial, pois entre o Renascimento e o Iluminismo a nossa língua continuou o seu percurso em Portugal.

Podes ver que o chamado Ressurgimento do XIX é um movimento que certifica a separação definitiva entre a língua galega e a portuguesa… ou podes ver que, apesar de todas as adversidades de séculos passados, e do desconhecimento do que ocorria em Portugal, as obras literárias e as gramáticas feitas na Galiza não duvidárom em procurar no sul os remédios contra quase quatro séculos de poluição linguística.

Podes ver que o Estatuto de Autonomia da Galiza é um texto irrelevante, pois só se vão poder tomar decisões maciças o dia que se tenha um Estado próprio… ou podes ver que outras comunidades autónomas implementárom políticas linguísticas mais ambiciosas que estão a dar frutos.

Podes ver que a bandeira galega não desfilou nas cerimónias dos Jogos Olímpicos de Rio… ou podes ver que o galego foi a língua oficial do grande acontecimento global por excelência.

Podes ver que António Guterres é um português eleito secretário geral da ONU… ou podes ver que o secretário geral da ONU é um senhor que fala galego no exercício do seu cargo.

Cada pessoa vê o que quer, é uma questão de vontade, mas uma perspectiva mostrou-nos um percurso com menos futuro do que a outra. Tu decides. Eliseu Mera – Galiza in “Portal Galego da Lígua”


Eliseu Mera - (Ourense, 1976) Secretário da AGAL. Cantor lírico e professor de Música do IES Pintor Colmeiro (Silheda). Acredito firmemente em que a boa música deve ser acessível para todos os públicos, sem exceção. Para este fim, experimento com um blogue: notas.gal

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