Desde o início do mês aos comandos da instituição, Jun Liu pretende fazer crescer o número de alunos além dos actuais 6 mil, nos próximos anos, e o caminho passa pela aposta na Grande Baía, vista como uma grande oportunidade. O novo reitor promete também reforçar a aposta no português
Assumiu a posição no início deste mês, após quase 30 anos
nos Estados Unidos. Como se está a adaptar?
Cheguei
a Macau há menos de duas semanas e estou a instalar-me. Já tinha estado por cá
muitas vezes no passado, por isso não é um lugar estranho. Estou a sentir-me
bastante bem.
Que motivos o levaram a aceitar o convite da universidade
e vir para Macau?
Sinto
que é um momento entusiasmante para regressar à China com o projecto da Grande
Baía. Escolhi regressar por Macau porque é um local muito característico, não é
igual ao Interior e não é Hong Kong, é Macau. É um misto único das culturas
portuguesa e chinesa, cantonense entre outras.
Mas não veio para uma posição qualquer…
É
uma posição muito apelativa, porque me permite liderar uma universidade que tem
por bases as Letras e as Humanidades. Na minha perspectiva é a altura perfeita
para a posição perfeita. Vou poder usar o que aprendi e vivi e, num contexto
mais amplo, contribuir para Macau, a Grande Baía e a China.
Quais vão ser as prioridades da Universidade Cidade de
Macau para os próximos anos?
As
áreas que vão ser mais desenvolvidas são as Humanidades e as Ciências Sociais,
apoiadas pela vertente tecnológica, porque são as fundações desta universidade,
ao contrário do que acontece com outras instituições. Por exemplo, a
Universidade de Macau é mais abrangente, a Universidade de Ciência e Tecnologia
é mais focada as Ciências e Medicina. A Universidade Cidade de Macau tem raízes
nas Humanidades, Ciências Sociais e na comunicação intercultural, como com
Portugal, os países de língua portuguesa, ou com os Estados Unidos, Austrália,
Reino Unido e até a América do Sul, como é o caso do Brasil. Queremos
aproveitar estas bases para desenvolver novas disciplinas e formar os quadros
necessários para Macau e o mercado para os próximos 5 a 10 anos.
Que posições são essas?
Acreditamos
que as profissões do futuro, dos próximos 10 anos, ainda não foram criadas. Por
isso, precisamos de analisar bem o que vai ser necessário e começar a estudar
antes do tempo, para que daqui a 5 a 10 anos, os alunos formados na
Universidade Cidade de Macau tenham sempre muitas ofertas de trabalho e sejam
procurados pelo mercado.
Falou das ligações com os países de língua portuguesa. A
instituição oferece cursos nessa área. O futuro passa por uma expansão?
O
multiculturalismo é um valor essencial para desenvolver os novos cursos, por isso
esperamos aproveitar as vantagens culturais de Macau e trabalhar com os países
de língua portuguesa. Neste momento, temos um instituto de investigação para os
países de língua portuguesa. E queremos não só consolidar esse instituto mas
colaborar com os próprios países, não só a nível da investigação, mas também em
termos das oportunidades de mercado para os quadros formados.
Quer isso dizer que vai haver um reforço na aposta destes
cursos?
O
caminho passa não só por consolidar, mas reforçar a aposta na língua
portuguesa, aproveitando as vantagens da cultura de Macau. Vamos também estudar
muito bem as possibilidades desta vantagem. Os nossos cursos não se limitam a
estudar a língua, são compreensivos, multidisciplinares, e é isso que vai ser
uma vantagem para nós. Também nesse sentido, sinto que uma das coisas que quero
fazer é visitar Portugal e os países de língua portuguesa.
Qual é o impacto da covid-19 nas finanças da
universidade?
Somos
uma universidade sustentável. Sabemos que temos de diversificar as fontes das
nossas receitas, o que queremos fazer com o aumento das parcerias a nível
empresarial e esperamos continuar a contar com o apoio do subsídio do Governo.
Não encaro as finanças como uma preocupação, porque se a qualidade do ensino
estiver presente a universidade vai sempre atrair alunos e isso garante que não
há essas preocupações. Por isso, o nosso caminho passa por expandir e fazer
crescer o número de estudantes. Temos 6 mil estudantes e esperamos expandir
para 8 mil ou 10 mil.
E o crescimento dos alunos vai ser feito com alunos do
Interior e do estrangeiro?
O
nosso objectivo principal é servir os estudantes de Macau, que têm várias
escolhas no território. Mas, Macau tem uma limitação relacionada com a dimensão
da população, por isso a nossa segunda prioridade vai ser o Interior. E não
ficamos por aqui, gostávamos de aumentar também o número de alunos fora da
China.
O que é preciso para atrair mais alunos internacionais?
A
única forma de atrai-los é, de forma gradual, melhorar os nossos cursos que são
leccionados em inglês, porque de outra forma é demasiado difícil para os alunos
internacionais aprenderem. Tenho um percurso como líder no sector da educação
na língua inglesa e por isso quero desenvolver um ambiente onde todos os alunos
vão ter oportunidades para melhorar, falar e compreender o inglês como língua
global.
Nesse esforço vai também haver maior aposta na qualidade
do ensino e investigação?
Precisamos
de aumentar o número de investigadores e criar novos cursos. Vamos pensar em
outras formas de tornar a universidade mais atractiva, como bolsas de estudo e
investigação, criação de melhores condições para que os professores consigam
apoios e possam contratar alunos como assistentes, que é uma forma de
aprendizagem pela experiência. Todas estas formas diferentes vão fazer da
instituição mais atraente para os estudantes.
Tem como objectivo aumentar o número de estudantes dos
países de língua portuguesa?
Sim,
queremos atrair mais estudantes internacionais. Mas, para tornar a universidade
verdadeiramente internacional temos de nos focar na língua. Estamos abertos a
receber estudantes de todo o mundo, e particularmente de Portugal e da Europa.
Neste momento temos estudantes de África.
Como pensa fazer o número de alunos crescer e quantos
pretendem de fora de Macau e do Interior?
O
nosso objectivo prioritário é servir os estudantes de Macau, que têm várias
escolhas. Uma delas é a universidade pública, a Universidade de Macau, que tem
uma certa percentagem de alunos de Macau. Mas Macau tem uma limitação no número
de população, por isso vamos olhar para o Interior, como segunda prioridade.
Mas além dos estudantes de Macau e do Interior, quero uma maior representatividade
de regiões e continentes.
Quando os alunos escolhem as universidades a que se
querem candidatar é inegável que os rankings mundiais têm sempre uma influência
no processo. Há o objectivo de dar maior destaque à Universidade Cidade de
Macau?
Concordo
que os rankings influenciam o número de candidaturas às universidades. E tendo
trabalhado mais de 20 anos nos Estados Unidos, em diferentes institutos de
investigação, tenho consciência da importância dos rankings. As escolas da Liga
Ivy estão sempre entre os cinco ou dez primeiros lugares dos rankings mundiais,
na China destacam-se a Universidade de Tsinghua e a Universidade de Pequim,
mesmo na Grande Baía a Universidade de Hong Kong é uma referência. Considero
que os rankings são importantes, mas não é o único aspecto que vamos
considerar.
Isso que dizer…
Pode
olhar-se para os critérios dos rankings, que até variam de ranking para
ranking, e trabalhar-se especificamente para satisfazer os critérios e ir
subindo na classificação. Só que essa estratégia ignora outras vertentes da
educação que são muito importantes. Os lugares no ranking têm de ser o
resultado do esforço na melhoria do ensino e da investigação.
É formado nas Ciências Sociais, por isso, pergunto-lhe
como encara a liberdade académica?
É
um assunto muito importante e queremos encorajar as pessoas a fazerem-se ouvir.
Vamos ter discussões abertas sobre os assuntos controversos e vamos respeitar
as pessoas e ouvir as ideias com que podem contribuir para a sociedade. Mas,
como uma universidade vamos guiar os académicos em certos assuntos para terem
discussões mais eficazes, vamos orientar as nossas discussões para a resolução
de problemas.
O patriotismo é um valor chave da Cidade Universidade de
Macau?
Sim,
o patriotismo e a lealdade à comunidade local. O patriotismo faz parte da
natureza das pessoas e acredito que é um valor essencial.
A
Universidade Cidade de Macau tem como presidente o empresário e político Chan
Meng Kam, e Jun Liu admite que esta foi umas das razões que o levaram a aceitar
o cargo de reitor na instituição.
Chan
Meng Kam? “Fazemos uma equipa muito boa”
“Chan
Meng Kam foi uma das razões que fizeram com que aceitasse esta posição. Sinto
que ele tem uma grande paixão pelo sector da educação”, começou por explicar
Liu. “Ele é um empresário e não finge que sabe muito sobre educação. Foi uma
pessoa muito honesta e directa, disse-me que apesar de não perceber muito sobre
o sector da educação, que é uma área pela qual tem uma grande paixão. Gostei
muito desta honestidade”, revelou. “Senti que apesar da juventude dele não ter
sido muito ligada ao ensino, ele tem como objectivo fazer com que as próximas
gerações possam beneficiar do ensino. É algo nobre”, acrescentou.
Para
que o convite de regressar dos Estados Unidos e liderar a Cidade Universidade
de Macau fosse aceite, Jun Liu garantiu igualmente apoio do influente
empresário, que no passado fez parte do Conselho do Executivo escolhido por
Chui Sai On e é o responsável pela eleição de dois dos deputados do hemiciclo.
“Ele mostrou que me apoia muito para que eu possa tomar certas decisões. Esse apoio é fundamental. Por isso, acho que esta parceria se traduz numa situação com ganhos mútuos”, sustentou. “Tenho um grande respeito por ele e sei que ele conhece Macau muito bem e é muito respeitado e ouvido. É um aspecto importante e considero que fazemos uma equipa muito boa”, sublinhou. João Filipe – Macau in “Hoje Macau”
Jun Liu - Stony Brook University: Vice-Presidente e Vice-director para os Assuntos Globais;
Reitor dos Cursos Internacionais e Serviços; Director-Fundador do Centro da
China; Georgia State University: Vice-director para Iniciativas
Internacionais; Director do Instituto Confúcio; University of Arizona: Vice-Presidente;
Chefe do Departamento de Inglês. Doutoramento: Educação em Línguas
Estrangeiras e Secundárias na Ohio State University
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