Foram
azulejos portugueses que serviram de inspiração base ao projecto de renovação
da fachada do “Macau Art Garden”, mas as cores que lhe dão forma têm influência
cultural chinesa, indicou à Tribuna de Macau o artista Joaquim Franco,
envolvido no projecto
A fachada do “Macau Art
Garden”, um edifício dedicado à criação artística, está em transformação. A
renovação está a ser conduzida pelas mãos do artista Joaquim Franco. A ideia
inicial era fazer a decoração da fachada voltada para a Avenida D. Rodrigo Rodrigues,
com o objectivo de chamar a atenção dos transeuntes para o edifício. Mas, desde
o início do seu planeamento, em finais de Outubro de 2018, houve algumas
mudanças e as cores estenderam-se por mais paredes.
A ideia teve como inspiração
azulejos portugueses, embora a pintura esteja a ser feita com cores chinesas. O
interesse do projecto, apontou Joaquim Franco à Tribuna de Macau, está nessa
simbiose entre as culturas portuguesa e chinesa. “Normalmente os azulejos
portugueses usam mais os azuis, brancos e amarelos, e aqui existem poucos azuis
porque na realidade optou-se por usar umas cores de influência cultural
chinesa”, indicou.
O artista considera que fazem
falta projectos de fusão no território. “Se somos uma sociedade multicultural,
e quando pretendemos que Macau seja uma sociedade de turismo internacional,
seria uma belíssima forma de mostrar às pessoas que [nos] visitam o que é de
facto Macau. Vejo às vezes por aí painéis de ‘street art’ bastante
interessantes, mas que no fundo, do ponto de vista cultural, acabam por ser
muito o que se vê em toda a parte do mundo. Este projecto tem este interesse de
ser uma coisa diferente”, explicou.
Da fachada, onde se usou uma
modelação de três azulejos para fazer a decoração, passou-se para outras
paredes do edifício e para a entrada no mesmo, onde não havia um projecto
definido. Aí, Joaquim Franco decidiu “desmontar” os azulejos, recriando imagens
“mais dialécticas” e “movimentadas”. Admitindo de forma ligeira ser suspeito na
análise, considera que esta mudança resultou bem.
O projecto é do artista Sio
Kit mas nele estão também envolvidos nomes como o de Alice Kok, presidente da
Associação “Art For All”, e James Chu, responsável pelo “Art Garden”. É aí que
Joaquim Franco tem actualmente o seu atelier. Foi-lhe pedido para fazer a
pintura da fachada por ter o cartão da segurança passado pelo Governo,
necessário para utilizar o tipo de elevador exterior requerido para a execução
do trabalho. “Sou a única pessoa do ‘Art Garden’ que tem esse cartão e que está
válido. Portanto, por uma questão de segurança, pediram-me para fazer o
projecto e disponibilizei-me”, disse.
Apesar disso, quando chegou ao
terceiro andar sentiu que “as condições de segurança não eram as melhores”,
tendo parado a pintura da fachada, que deverá retomar num modelo um pouco
diferente. “O que se fez foi destruir o padrão para evoluir de outra forma.
Acho mais interessante do que repetir o padrão constantemente. E é isso que vai
acontecer na fachada ao nível do 4º andar. Quando chegar lá acima começa a
destruir-se em vez de se manter igual”, explicou.
O artista caracterizou a
reacção das pessoas como fantástica, e espera que o projecto fique concluído no
espaço de duas semanas. Entretanto, como projectos que considerava interessante
serem abraçados por Macau, deu como exemplo as estações do Metro Ligeiro, que
“podiam ser decoradas pelos artistas locais”, à semelhança da estação dos
autocarros da nova Ponte do Delta. “Apesar de estar forrada a pedra podia ser
decorada com trabalhos de artistas de Macau. Há imensos sítios que podiam ser
decorados e desenvolvidos no sentido de criar esta ‘street art’ que está em
voga”, sugeriu.
Joaquim Franco nasceu em
Portugal e veio para Macau com 33 anos, para trabalhar na equipa de arqueologia
do Projecto de Recuperação e Reabilitação das Ruínas de São Paulo, a convite do
arquitecto Manuel Vicente. Acabou por ficar, e actualmente sente que se
aculturou não apenas à cultura de Macau, mas também à asiática e chinesa. Pelo
caminho, deu-se uma mudança natural no seu trabalho, tendo-se apercebido na
Colômbia de que começou a misturar a composição horizontal ocidental com a
composição de tradição chinesa que é vertical, e da direita para a esquerda. Salomé Fernandes – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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